Capítulo 3

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A semana estava quase acabando, nada de diferente havia acontecido comigo. Ainda estávamos morando na casa de Carlisle e Esme, enquanto a nossa não ficava pronta. Pela lotação da casa, os ânimos de todos estavam elevados. 
Jacob vinha me visitar sempre, às vezes com a desculpa de conversar sobre algo importante com Edward, mas eu sabia que era para me ver, para ter a oportunidade de ficar um pouco próximo de mim.
E toda vez que eu me afastava, eu sentia sua dor. Na verdade, a minha e a dele era uma coisa só. Sua tristeza era quase palpável; seu humor estava péssimo, estava sempre rangendo os dentes como se estivesse para atacar a qualquer momento.
— Você quer sair para caçar? — Ele me pergunta ao se aproximar calmamente e com um tom de voz cauteloso.
— Agora de manhã? Eu tenho aula... 
— Verdade... E ir em La Push mais tarde, então? 
Eu via a sua animação em estar de volta; ele também precisou passar um tempo fora para não haver suspeitas do seu não envelhecimento. Mas agora, estar de volta em sua terra natal e no comando de tudo, o animava de verdade. Eu podia sentir isso também. Sua empolgação me contagiava.
Mas as palavras que eu diria a seguir iriam o destruir mais um pouco: 
— Não Jacob, obrigada. É melhor não. Não agora.
Eu via seu sorriso murchar, sentia seu coração se apertar. Minha dor era igual; era muito difícil não ficar ao seu lado. Não sentir a quentura do meu corpo. Porém, eu precisava desse distanciamento para entender um pouco mais de mim.
Do amor que eu sentia por ele.
Compreender se tudo era real.
Eu estava disposta a explicar para ele novamente sobre o meu lado; entretanto, quando o procuro ele não está mais na sala. Ouço apenas seu uivar sôfrego quase na metade da floresta. 
Seu coração está se quebrando e o meu também.


M

eu humor estava péssimo; mas pelo menos eu havia conseguido dirigir hoje à caminho da escola. Somente quando a velocidade ultrapassava os 100km/h que eu pude sentir algo perto da sensação de liberdade.
Chego rapidamente no estacionamento da escola, concluo que hoje será um dia igual aos outros: cheio de tédio. A ressocialização era complicada. Eu estava acostumada a passar os dias em casa fazendo outras coisas, e não a lidar com humanos adolescentes que conseguiam ser estranhos até tentando serem normais. 
Porém, eu estava disposta a encarar o dia de hoje com muito foco, para assim quem sabe esquecer um pouco da minha relação atual complicada com Jacob. 
— Seu plano foi perfeito... — Eu escuto uma voz grave falar bem atrás de mim assim que saio do meu carro. Sem precisar olhar, eu sei que é Jamal. — Eles acreditam mesmo naquela história de eu ter sido vítima de bullying... no fim, nem levei uma sequer detenção.
— De nada; eu sou realmente brilhante. 
— Tenho que concordar. — Seu sorriso é presunçoso quando eu o encaro.
— Me deve uma agora. — Tranco o carro e me afasto caminhando lentamente rumo à escola.
— Nessie... Mas eu acho que os três brutamontes não ficaram tão feliz com o rumo dessa história.
— Não é problema meu. — Aviso-o, minha situação com Jacob me deixou irritada. 
— Bom... — Ouço sua voz mais distante, pois já não estou tão perto. — Agora eu acho que é. Olha lá quem tá olhando para você.
Vejo um pouco mais distante, três meninos loiros altos e fortes me encarando enquanto caminhavam lentamente e com expressões raivosas em minha direção. 
— O que? — Estou encarando Jamal agora assim que pergunto. 
— Acho que eles a culpam também. Não sei. Mas deixa que eu resolvo isso. 
Os três rapazes agora estão bem perto de nós, eu sinto suas respirações fortes quase batendo em meu rosto. 
— Nós estamos de detenção por quase um mês. — Um dos cara falou.
— Bullying é um crime grave. — Jamal os diz.
— Porra, você que começou a atacar a gente com aquele papo de agressor em potencial.
— Mas não é? Me baseei nas atitudes de vocês no ano passado.
— Ah, vá... 
— Ei! — Eu meto na frente dele que está caminhando em direção a Jamal. — Você não acha melhor...
— E quem é você? A namoradinha dele... 
— Ei! Você não chega perto dela!
—Jamal, calado. — Eu falo. 
— É Jamal, obedece a sua putinha...
Antes que ele possa respirar antes de falar a última palavra, minha mão já estava contra a sua cara, em um soco relativamente fraco, mas que tombou seu corpo em direção ao chão e instantaneamente o fez sangrar.
— Nessie! O que você fez? — Jamal me pergunta desesperado; não o respondo nada pois estou analisando também a coisa que acabei de fazer.
Não há tempo de pensar mais em nada; só presto atenção nas pessoas que estão chegando ao nosso redor com olhares curiosos, e os outros dois meninos que  se aproximavam de mim.
— Preciso sair daqui. Agora. — Minha voz está em um sussurro.
No entanto, Jamal me escutou, ele me acompanhou nos passos apressados e entrou dentro do meu carro. Não tenho nem tempo de pensar na estranheza que é esse seu ato, apenas acelero o carro rapidamente para longe dali.
— Merda... — Digo. — Em que tipo de confusão você me meteu? 
— Nessie... me desculpa. Não era para isso acontecer.
— Mas aconteceu! O que eu faço agora? — Estou com raiva e tento descontar ela apertando meu pé ainda mais no acelerador. 
— Primeiro: você diminui a velocidade! Pela amor de deus... segundo: não se preocupe que eu vou resolver isso para você.
— Que droga...
— Diminui a velocidade, pela amor de deus! — Implora. Vejo ele checando se o cinto de segurança está realmente bem colocado nele. 
Desacelero por estarmos em um perímetro urbano; mas ainda estou com raiva, tento controlar minha força ao apertar minha mão no volante. 
— Estou vendo isso dar uma confusão gigante! Meu Deus... era tudo o que eu não queria.
— Calma! Eu já disse que não vai dar nada para você.
— Duvido muito... Vamos voltar para a escola e conversar com o diretor. Explicar a situação, é a melhor coisa a se fazer.
— Hm... Não sei, não acho que eles irão te deletar pro diretor. Eles já estão bem encrencados...
— Talvez... Mas o que eu faço?
— Nada. Só espere. Mas acho que ninguém sequer citará seu nome.
— Só esperar? 
— É. Não aparece hoje para evitar qualquer boato... logo as pessoas esquecerão.
— Ninguém vai esquecer tão cedo. — Eu parecia um alvo fácil para ser comentada naquela escola pela forma que todos me olhavam.
— Realmente... que soco foi aquele? Meu Deus, sem contar na força! Você derrubou o cara que é o triplo do seu tamanho! 
— Er... Eu faço aula de defesa pessoal. — Não era totalmente mentira; mas meus treinos com Emmett e Jasper estavam longes de ser algo considerado como um treino normal.
— Foi incrível! Achei sensacional!!
— Obrigada... Bom, o que eu faço agora? Vou te deixar de volta na escola, se quiser.
— Não quero. Você sabe que tenho coisas mais importantes para fazer do que ter aula de geografia.
— Ah, é verdade. Esqueci do seu plano de querer ser burro. 
— Não, não é de ser burro, é de aproveitar a vida.
— Ah, é. Então onde você vai?
— Pra onde você for. — Me diz com um sorriso presunçoso.

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