Capítulo 8

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Quando meu pai sai para caçar com a minha mãe, e sei que, pela sua periculosidade de caça, leões da montanha, nesse momento ele está há quilômetros de daqui, e eu posso finalmente pensar em paz.
Sem ter que estar traduzindo livros, sem estar focando em algo forçadamente, apenas pensando no que tornou-se corriqueiro em minha mente: Jamal. E como a nossa relação, que ainda não havia um nome, havia se transformado em pouco tempo.
Ele passou de um garoto desconhecido para um garoto ainda desconhecido que era agora é íntimo. Definitivamente, ele ainda é louco, uma das pessoas mais sem sentido que já conhecido em todos os meus longos anos de vida, e mesmo que eu não conseguisse decifrá-lo, eu o queria por perto.
De uma forma um tanto indescritível para mim. Durante toda a minha vida, as coisas que eu desejei, ou estavam ao meu alcance ou já pertenciam a mim.
Nada de novo acontecia em minha vida, e por muito tempo, não senti falta. Sempre fui muito grata pelas coisas ao qual tenho. Minha família, minhas pesquisas, Jacob...
Lembro-me que nunca tive sequer algum contato com outro homem além dele, e agora que tenho, apesar de ser uma experiência nova, ainda é meio surreal. 
Quem diria que eu, Renesmee Cullen, estaria vivenciando tais experiências tão exóticas em minha vida. Isso, de uma forma muito louca, me deixa feliz, porque eu sei que só há mudança significativa na vida se nos arriscamos a seguir caminhos desconhecidos que nos dão certo medo.
No meu último encontro com Jamal, tomei a minha decisão que é entrar totalmente de cabeça nisso.
— Ei. — A voz do vovô Carlisle me deixa em alerta, mas rapidamente recordo-me que com ele aqui não preciso privar meus pensamentos. 
— Oi, vô. — Ajeitei-me no sofá-cama, e fico sentada, observando ele em pé a poucos centímetros de mim. 
— Você não foi caçar com seus pais? 
— Não. 
— Porque não?
Apenas dou de ombros para a sua pergunta, não sei ao certo como respondê-la. 
— Alguma coisa está te incomodando em relação a eles? — Pergunta novamente.
— O que? Como assim?
— Sei lá, ultimamente você está estranha. — Senta-se ao meu lado. — Você está incomoda com seus pais? 
— Não, porque estaria?
— Nós sabemos que você não estava tão satisfeita com a mudança de volta a Forks. Entendemos também que você não é mais a nossa criancinha, que têm suas próprias vontades, na verdade como sempre teve. — Comenta meio risonho, nostálgico até. — Se você não está feliz aqui, basta nos dizer.
— Eu estou feliz... quer dizer, não haveria como eu ser feliz em outro lugar sem ter vocês. Não importa onde estamos, mas sim se estamos juntos. — Minhas palavras são de uma sinceridade que até me surpreendo. 
— Eu fico imensamente feliz por ouvir isso, Nessie. Mas nós somos a sua família, se algo estiver acontecendo com você, pode nos dizer. Eu, sua avó, seus pais, seus tios, te amamos muito.
— Pode deixar, vô. — Sorrio para tentar lhe transmitir uma certa tranquilidade. — Na verdade, estou evitando mesmo ir caçar com os meus pais... Porque, né... Forks relembra a eles muitas coisas... enfim, eles devem estar achando que estão em uma segunda lua de mel, sei lá.
Ouço uma pequena risada vinda de Carlisle, ele entende bem o que estou dizendo. E ao me dar um beijo na testa, ele levanta-se e sai.
Não sei o que de fato ele ou eles estão achando estranho em mim, não sei exprimir em palavras algo tão íntimo meu. Só sei que estou diferente... e quero continuar assim.
Ligo meu celular, pois essa é a única chance que tenho. Dar meu número para Jamal foi um pequeno erro não calculado, com as mensagem que ele me manda, quando estou em casa, é impossível pensar em algo que não seja exclusivamente elas, o que é muito perigoso ao lado do meu pai, que mesmo sem querer, está constantemente em minha mente.
Quando abro a caixa de mensagem, há algumas deles, e mesmo que estejam repletas de palavras empolgada e doces, nenhuma é me cobrando atenção. Leio a última, e essa em específico me faz sorrir.
Amanhã irei assistir a aula. Especialmente por causa de você. Consegui mudar meu horário para o mesmo que o seu. Estou ansioso como se fosse meu primeiro dia na escola. Beijos.


A

ssim que ponho meu primeiro pé nos arredores escolares, procuro com meu olhar o seu carro no estacionamento ou a sua presença, mas não encontro nenhum, está ficando cheio de estusantes, e é complicado encontrá-lo sendo apenas uma humana. Ando um pouco em direção a construção estudantil, e assim que atravesso as grandes portas, Jamal está lá, me esperando, sigo em sua direção me guiando pelo seu cheiro, tão característico.
— Você veio mesmo. — Digo.
— Eu disse, né? 
— Confesso que cheguei a duvidar. — Falo ao me aproximar dele. As pessoas estão chegando, preenchendo os espaços vazios do local, e por isso temos que ficar próximos, a ponto de nossos corpos se encostarem se nos movimentarmos.
— Eu realmente estou muito ansioso hoje. Ansioso e feliz. — A sua voz empolgada confirma. — É como o primeiro dia de aula onde a gente ainda acredita que o ensino médio será tudo de bom nas nossas vidas.
— Acredito que isso seja bom, então. — Dou de ombros.
— É ótimo. Ei, o que você vai fazer hoje?
— O que? Como assim? Ir para a aula? — Questiono com dúvida.
— Certo. E depois das aulas?
— Nada. Nada que eu saiba.
— Isso é legal.
— Porque?
— Tava pensando em matar aula com você, sabe...
— Essa é uma das primeiras vezes que você vem para a aula e já está pensando em matá-la? Francamente, Jamal...
— Ah, qual é... A gente nem passa tanto tempo juntos, e também ninguém precisa desses ensinamentos toscos da escola. — Diz com um falso desdém. — E, bom...
— O que?
— Queria passar mais tempo com você. — Admite em um tom um pouco vergonhoso. — Tem algum problema?
— Acho que a gente precisa ir para a aula...— Tento neutralizar a minha voz para que ela não saia em um tom grosseiro. Não é que eu esteja dispensando Jamal, mas é que temos algumas obrigações para cumprir.
— Não... — Diz em um timbre forçadamente triste. — Mas depois da aula, você vai estar livre, não é?
— Sim, vou. Mas também não por muito tempo... você sabe.
— Esse negócio de tempo é uma droga. Não posso nem ter um encontro decente com você.
— Um encontro? Como assim? A gente saiu algumas vezes.
— É, mas a gente foi andar pelo mato e tal. Eu quero um encontro com você em um restaurante, onde a gente veste as nossas melhores roupas, comemos comida ruim, mas cara, e conversamos sobre nós expondo apenas os melhores fatos. Você sabe, Nessie... essas coisas que pessoas que estão se conhecendo fazem.
— Acho que não precisamos disso. A gente meio que pulou todas essas fases mesmo. — Concluo. 
— Não. A gente precisa ter um encontro ainda. Você topa, não é? 
— Se eu disser não, você irá respeitar a minha escolha?
— Claro que sim. — Finge. — Na verdade, eu ficaria bem chateado, admito.
— Tudo bem, a gente pode ter um encontro. Só não sei como. 
— Isso aí é o de menos. Fico feliz com que você tenha aceita por livre e espontânea vontade. — Ri ao final da frase. — Vou dar um jeito nisso. 
— Ok. 
Antes que algum de nós dois fale alguma coisa, a primeira campa que anuncia que devemos ir para a sala de aula soa por todo o ambiente. Olho ao nosso redor, e o número de alunos rondando por nós triplicou.
— Precisamos ir para a aula. — Aviso.
— Eu preciso primeiro falar com o diretor. Vai ser rápido. Logo estou indo para a sala, guarda meu lugar ao seu lado, ok?
— Jamal... — Antes que eu conclua a frase, sinto seus lábios serem pressionados rapidamente nos meus. E antes que eu chame a sua atenção por isso, ele já está correndo a metros longe de mim.
Passo a mão pelo delineado dos meus lábios, e apenas sorrio, antes de ir em direção ao local onde é a nossa classe.

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Meu Deus, nunca achei que demorasse tanto para passar algumas horas. — Comenta meio preguiçoso.
— Para com isso, Jamal. Nem demorou tanto assim hoje, e até tivemos aulas boas.
— Você está completamente e extremamente equivocada. Como você aguenta isso por uma semana completa? Senhor...
— Deixa de drama. — Bato levemente em seu ombro, e ele apenas rir.
— Enfim... o que vamos fazer agora?
— Não, você dá a ideia, eu só vou junto.
— Certo. Mas primeiro eu vou comprar um salgadinho.
Espero pacientemente ele escolher um salgado para comer na máquina de pegar comida que tem perto do refeitório. Quando finalmente ele escolhe, ele ainda tenta me oferecer, mas recuso. Caminhamos lentamente e em silêncio até o estacionamento. Vejo que o fluxo de pessoas, mesmo com apenas quinze minutos desde o horário da saída tenha se passado, é quase mínimo. 
Chegamos ao seu carro, e ao invés de nós despedimos ou planejarmos algo, ele senta-se no seu capô.
— O que foi? Vai ficar sentado aí?
— Tô pensando... senta aqui do meu lado. — Ele bate com as mãos no espaço ao seu lado.
Com poucos minutos, estou sentada ao seu lado, observando a paisagem pacata que mistura-se entre construções civis e matas locais.
— Não tem mesmo a mínima possibilidade de você ir à um encontro comigo?
— Como ele irá ocorrer?
— Depois da aula, umas oito horas, sei lá. A gente sai para comer, e depois damos uma volta, e eu te deixo em casa.
— Não sei. É meio complicado por causa da minha família.
— O que tem ela?
— Hm... Não sei como explicar que estou saindo com um menino... — Na verdade, isso é até fácil, agora que ele era humano, poderia complicar um pouco as coisas.
Sem contar que mesmo com uma relutância inicial e que às vezes perdura até hoje, Jake foi aceito na família. E seria muito complexo explicar o que estou fazendo por causa do imprinting.
— É só você falar que é o menino mais lindo de Forks... Ou que é uma menina, se for mais confortável para você. — Ele ri da própria piada. — Mas eles não deixam você sair?
— Não é isso.... é que é um pouco mais complicado, na verdade. Eles vão começar a fazer perguntas que não sei se estou disposta a responder.
— E se eu for falar com eles sobre a gente sair... Você acha que eles deixam?
— Você falar com meus pais? Não, definitivamente, não...
— Você está com medo?
— Quem irá ficar com medo é você se for falar com eles. Esqueça disso. — Eu não sabia qual iria ser a reação deles se eles soubessem que estou me relacionando com um humano. Não acho que eles seriam tão compreensíveis como Jacob. 
— Eles são muito rígidos? Não deixam você sair com garotos?
— É quase isso. — Minto porque sei que a verdade nesse momento não é cabível.
Ainda que Edward tivesse namorado Bella ainda quando ela era humana, o contexto era totalmente diferente.
— E então, você pode mentir para eles? Sei lá, inventar alguma coisa que deixe você com tempo livre para a gente sair daqui uns dias?
— Eu não costumo mentir... na verdade, se você conhecesse meu pai, iria perceber que é impossível mentir na presença dele... Mas, eu posso abrir uma exceção. 
— Jura?
— Uhum, vou pensar em algo e te falo. — Não sei o que irei fazer, mas darei um jeito.
— Me avise se conseguir. 
— Ok.
Ficamos um tempo em silêncio, observando. Até ele começar a falar algo.
— Sabe, você é bem comentada aqui na escola. 
— Sou, é?
— Sim, tipo a garota misteriosa-bonita-rica e que não interage com mais ninguém além do estranho do Jamal. — Dramatiza.
— A parte do estranho-Jamal está correta.
— Isso é verdade. Mas porque você não interage com mais ninguém?
— Sei lá... — Penso em uma resposta mais concreta, mas nada vem na mente. — Eu só acho que tenho preguiça... sei lá. Muita das vezes não vale a pena. São só alguns humanos fúteis e rasos querendo atenção na maioria das vezes.
— Então quer dizer que eu sou diferente? Que eu valho a pena?
Eu o encaro depois da pergunta sem falar nada. Não sei o que dizer. Nesse momento ele me desarmou por completa.
— Um silêncio responde muita coisa. — Diz de forma convencida, e se aproximar de mim para me beijar, no entanto, quando está a poucos centímetros, ele recua. — Não, não posso te beijar.
— Porque não? — Sussurro perguntando. 
— Porque eu acabei de comer salgadinho... e se eu te beijar, vai ser a pior experiência da sua vida.
— Mas eu posso te beijar.
Curvo a minha coluna para frente, e elimino a distância que separa nós dois. Meus lábios acabam grudados ao seu, em um simples beijos, que aos poucos vai se aprofundando.
— Você é perfeita, Nessie. — Diz ao fim do beijo, encostando os lábios finos e meio molhados em meu nariz.
— Eu sei. 
— E eu sou um cara muito sortudo por ter você ao meu lado. Sério.
— Jamal... daqui a pouco vai chover, e eu preciso ir.
— Maldita chuva.
— Sai, preciso ir.
— Me dá mais um beijo.
Nossas bocas se tocam de novo, e o que deveria ser só um beijo de despedida, torna-se vários. Só nos separamos mesmo quando a chuva começa a molhar nossas roupas, e é aí que percebemos que precisamos nos afastar. Mas fazemos a promessa de nos reencontramos no dia seguinte.

Inevitável  Where stories live. Discover now