Capítulo 4

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Mesmo que eu tenha dito que não queria ver Jacob por enquanto, pois eu precisava de um tempo longe para entender melhor a nossa relação. Hoje, de uma forma anormal, eu acordei com saudades dele, do calor do seu corpo, da textura da sua pele contra a minha, da maciez do seu cabelo e de seu sorriso que me iluminava.
Todos os dias eu pensava nele, e eu sei que ele também pensava em mim. Eu sentia a sua tristeza — tão semelhante a minha —, por não estarmos juntos, mas mesmo assim, me mantive firme em tomar um tempo, em pensar com clareza e voltar minha atenção para outras coisas além dele.
Porém, assim que acordei, e vi as luzes solares entrando pela janela do meu quarto, foi inevitável não pensar nele. Jacob sempre amou o sol; me lembro perfeitamente de todos os dias em que, quando ainda morávamos no Canadá, aproveitamos qualquer luz que chegava quente em nossas peles.
Sempre foi extremamente chato viver em um lugar em que a neve era frequente; e mesmo com a opção de viver em um lugar um pouco mais no litoral, como era de seu agrado, ele permaneceu por uns longos anos ao meu lado na província coberta por gelo. Porque eu era o tudo dele.
Agora que parei para refletir, vejo como também o privei de muitas coisas. Nem sempre tivemos um envolvimento amoroso; desde cedo o vi como um melhor amigo, a melhor pessoa do mundo e, falo baseado nas nossas vivências, que por um tempo esse nosso relacionamento era o suficiente para ele também.
Mas depois de alguns anos, as coisas mudaram, e nós passamos a nos amar como um casal. Foi tão natural e gradativo que sequer cheguei a me questionar sobre a nossa real ligação como faço agora, depois de analisar se tudo estava realmente acontecendo por amor ou pela obrigação. 
No entanto, nessa manhã, eu ignorei as próprias ordens que impus e todo o avanço milimétrico que fiz estando longe, e deixei meu desejo e saudade falar por mim.
Me despedi normalmente da minha família, não tentando pensar muito no que estava querendo fazer. Dirigir por alguns quilômetros até me sentir segura o suficiente para deixar minha mente pensar livremente. Ao invés de dirigir até a escola, minha rota dessa vez foi ao contrário, eu estava dirigindo até La Push. 
O ar seco entrava em minhas narinas e apesar de não incomodar, tentei manter a minha respiração regular e concentrar-me em não desistir no meio do processo. La Push estava diferente, apesar dos anos não terem modificado o conceito, ainda sim, por causa da urbanização e dos novos moradores, estava moderna, porém, ainda mantendo a mesma arquitetura de casas interioranas e praianas.
Ainda estando uns poucos quilômetros distante, Jacob já sabia que eu estava por aqui. E não demorou muito para eu ver, entre as árvores e rochas que ficavam além da estrada, uma pelagem marrom observando-me de forma curiosa. Apenas balancei a cabeça o despreocupando, dirigi às pressas até sua casa, e quando estava estacionando em frente, ele já estava lá me esperando.
Arrumei tudo depressa dentro do carro, e quando os primeiros pensamentos surgiram voltados a minha fuga daquele local, eu sai rapidamente do automóvel. Jake ainda olhava-me preocupado, meus rápidos passos em sua direção tornava a cena mais dramática do que eu queria. Ele se aproximava também de mim, cuidadoso, mas ao mesmo tempo preocupado com o que pudesse ter acontecido. 
Antes que ele falasse algo, diminui nossas distâncias e o abracei. Um abraço forte, que eu tentava, inutilmente, envolver todo seu corpo com os meus braços. Demorou alguns segundos para eu sentir ele ao redor de mim, porém, logo sua boca estava em meus cabelos em um beijo suave e suas mãos esfregavam as minhas costas.
— Nessie... — Sua voz era rouca. — O que aconteceu?
— Nada, nada. Tá tudo bem. — Digo, a boca um pouco abafada por estar encostada em seu ombro. — Eu só senti saudades.
Há um momento de silêncio, meu corpo é um pouco mais apertado pelo seu, como se Jacob estivesse tentando me absorver.
— Eu sinto saudades de você o tempo todo. — Diz. — Estou feliz por você estar de volta. — Fala ao se separar um pouco de mim e pegar minhas bochechas entre suas mãos grandes. 
Observo cada detalhe do seu rosto, há um contraste tão lindo da luz do sol com a cor da sua pele que eu agradeço em pensamentos por poder me lembrar dessa imagem pelo resto da minha vida.
Quando sinto a maciez de seus lábios encostados no meu, percebo que talvez tenha cometido uma grande burrada. Jacob estava machucado, isso era fato, e a minha vinda aqui, criou esperanças dentro dele sobre o nosso retorno ao que era antes. Mas na verdade, apesar da saudade, eu ainda preciso de um tempo.
Tenro recuar para trás e esclarecer as coisas, mas sua língua pediu passagem para entrar dentro da minha boca, e eu, covardemente, me rendo ao seu beijo.
Quando ele termina, os três selinhos depois do fim me despertam de volta à nossa realidade. Suas mãos estavam me fazendo um carinho na cara, fecho meus olhos e deixo-me apreciar por alguns instantes. 
— Não... Não era isso que eu queria. — Falo em um fio de voz que parece não ter credibilidade nenhuma.
— O que? Eu posso dar outro beijo em você. — Jacob tenta se aproximar, mas eu o impeço segurando sua cabeça com a minha mão.
— Não. Não foi isso que eu quis dizer. —Rio. — Eu estou com saudades... mas não estou dizendo que estamos de volta. — Na verdade, eu nem sabia se de fato rompemos algo. 
Com a ligação que temos não tem como isso acontecer. No entanto, pela sua expressão triste, eu sei que ele me entendeu.
— Renesmee... Não te entendo. 
— Jacob, é... — Tento falar, mas ele pede com que eu faça silêncio. 
— Deixe eu falar, por favor. — Pede carinhosamente e coloca um dos seus dedos em minha boca, e eu apenas balançando a cabeça concordando. — Não entendo você, Nessie, você é o amor da minha vida, e eu sou o seu, fomos feito para dar certo, para que esse tempo?
Olho para ele, e suspiro profundamente. Não quero ter novamente essa conversar com ele, pois ele sabe que o nosso tempo é para podermos observar se o envolvimento amoroso que temos é baseado em nossas escolhas próprias ou guiado porque nosso subconsciente acha que deve ser dessa forma. Entendo o imprinting, mas sei que com ele, nós podemos ser qualquer coisa, ter qualquer tipo de vínculo.
Só quero saber se o nosso amor é real. 
— Eu vou embora. — Me separo de seus braços mesmo com a sua força em relutância.
— Não. 
— Foi uma péssima ideia ter vindo. Me desculpe. — Nesse momento, estou realmente arrependida. 
— Nessie, fica. 
— Não. É melhor eu ir, eu só estou machucando você. — Eu sabia que isso iria acontecer, e na minha despedida, mesmo se ficássemos bem agora, seria tão dolorosa como qualquer outra.
— Fica. Vamos a praia. Está um pouco diferente lá... você vai gostar. A gente fica um pouco juntos e aproveita o resto do dia. Não precisamos ficar juntos, só se você quiser na verdade... Mas vai ser como nos velhos tempos; só curtindo um a companhia do outro.
— Não é uma boa ideia, você sabe. Não tem como ser igual antigamente, porque não é... Ainda quero beijar você. — Assumo. 
— Pode beijar. Eu deixo. — Brinca. — Mas só fique comigo hoje, eu preciso de você em qualquer forma.
Seu pedido manhoso me amoleceu, não consegui manter nenhum postura contrária  e autoritária quando seus braços rodearam a minha cintura e me puxaram para mais próximo do seu corpo. Na verdade, o ajudei envolvendo meus braços ao redor do seu pescoço e respirando seu perfume amadeirado direto do seu pescoço. 
Afasto-me, pego em sua mão e o puxo, logo estamos caminhando de mão dadas, pelo meio de uma pequena floresta, em direção à praia. 
Há um silêncio confortável entre nós enquanto caminhamos, as mãos de Jake apertam a minha como se me prendesse, sei que ele está feliz por eu estar aqui, por estarmos agindo, nem que fosse um pouco, como antigamente. Mas sei também que a sua tristeza ainda é grande, pois ele sabe que daqui a pouco eu vou embora.
— Você não deveria estar na escola? 
— Uhum. Mas hoje eu faltei para te ver. — Mesmo não vendo, sei que ele abriu um sorriso que é capaz de mostrar todos os seus dentes. 
— Hum... Você não quer vir nas minhas costas? Como nos velhos tempos.... — Comenta.
— Não? Eu posso andar rápido por conta própria.
— Você sempre pôde, mas antes gostava...
Antes que eu iniciei uma argumentação contra, sinto meu corpo se colocado de forma muito rápida em cima do seu, mesmo que eu consiga sair facilmente de seus braços, deixo com que ele faça isso, e em poucos minutos, estamos na praia, e as nossas duas risadas acompanham o barulho das águas se chocando entre si na praia.
Sentamos em um tronco caído um pouco mais distante de uma pequena movimentação de sufistas. Assim que estamos bem acomodados, Jake coloca minhas pernas em cima das suas enquanto as massageia.
Olho para o horizonte, a água infinita chama a minha atenção por alguns segundos. Mas a voz grave de Jacob, cobra minha atenção exclusiva  para si.
— Você não percebe, não é Nessie...
— O que?
— Eu quero você de qualquer jeito... — Diz. — Não importa qual é, se você está feliz, eu também estou.
Encaro seus olhos, Jacob realmente é uma preciosidade, e sei que ele sabe que eu o quero de qualquer jeito também, que eu o amo, e que sua presença é necessária para me fazer feliz. Mas eu preciso entender as coisas melhor, ainda que eu tenha certeza que ele seja o amor da minha vida.
Aproximei-me, sentei em cima do seu corpo e relaxei, colocando todo meu peso em cima do seu, suas mãos vieram para a minha coxa, sustentando-me, e antes que ele falasse algo, eu o beijo de forma profunda e dolorida, transmitindo todos os meus sentimentos reais e até aquele de que eu preciso ficar um tempo distante para voltar sem nenhuma dúvida ou questionamento, para enfim, podermos viver a eternidade em paz.

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