C a p í t u l o 4

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O sol começara a aparecer, e com ele os reflexos da noite anterior se tornando ainda mais real.

Eu nunca imaginei que Noah nos meteria em tanta confusão a ponto de sofrer um risco como o do momento: ser perseguido, e correr riscos desconhecidos. A única coisa que eu poderia fazer era torcer, para que ele resolvesse.

Se eu não devesse a vida à Noah, talvez nem fizesse questão de me manter perto dele.

Me mexi, cansado, passamos a madrugada acordados. Depois de me chamar para acompanhá-la, a garota ao meu lado não falou mais nada, apenas dirigiu sem rumo.

Eu podia reparar os traços delicados em seu rosto, principalmente agora, em que ela estava radiante. Desde a noite e ao longo da madrugada, eu consegui observar ela mudar muito, quando nos encontramos a primeira vez, eu vi uma paz enorme na mesma e ao nos reencontrarmos uma involuntária seriedade e irritação.

O que era compreensível, porém, no momento, não fazia sentido algum sua empolgação.

Estávamos em uma espécie de Van, onde eu não fazia ideia de onde Noah havia tirado, o irmão dela provavelmente me mataria se nos encontrasse, e não dormíamos a horas.

— Se continuar me olhando assim, eu vou te deixar sozinho no meio do nada. — Vi quando desviou o olhar de relance da estrada.

— O que deu em você? Está me ajudando, mesmo depois que coloquei no seu bolso aquele colar, ou...

— Não estou fazendo isso por você, estou o fazendo por mim. Além do mais, o lance do colar não fez diferença grande na minha vida. Meu irmão já me fez o favor de me colocar mira da polícia quando roubou pela primeira vez, e se tornou parte da gangue daquela cidade. — Explicou sem tensão. — Fugir dele por um tempo não é exatamente algo ruim.

— Por isso está feliz? — Ela abriu um sorriso, que me fez me perder por uns segundos.

— Por parte, é mais ou menos isso. 

— Não é uma boa ideia.

— Claro que não é, está viajando com uma desconhecida, estamos em um veículo provavelmente roubado, com o Raj furioso com a gente. — Olhei a movimentação pela janela. — Mas se já estamos ferrados, por que não fazer isso? quando voltarmos pra cidade a realidade vai cair sobre a gente, entretanto, se fizermos algo que vamos lembrar, não terá válido a pena?

— Não sabe do que está falando.

— Sei sim, olha pra você, tem coisas tão simples nessa lista, mas não tem coragem de fazer. Qual a dificuldade? — Ergueu as sobrancelhas. — Do que vale uma ficha limpa, nenhuma advertência escolar, um relacionamento se isso não te faz feliz?

Ela indagava cada palavra com delicadeza, e também convicção, como se tivesse lido todos os acontecimentos da minha vida.

Me senti convencido ao me dar conta de que o que ela havia dito tinha total fundamento. Se tudo iria desabar, por que se esconder, e não fazer o que tem vontade? antes que tudo virasse uma bagunça de novo.

— Tem razão.

— Eu sei. — Desviou o olhar da estrada. — Geralmente estou sempre certa.

Foquei em seu olhar sobre mim, antes de voltá-los para a estrada. Seus dedos batucavam no volante como se estivesse escutando uma música.

— Já que estamos na estrada, e sem qualquer perspectiva, podemos cumprir a lista idiota.

— Não acho que seja idiota. — Juntei minhas sobrancelhas. — Além do mais, vou conseguir boas fotos, engraçadas, tipo de você achando que vai morrer, ou algo do tipo.

Não segurei a risada ao imaginar essa cena.

— Se vamos fazer isto, eu deveria ao menos saber seu nome. — Ela esticou a mão direita pra mim, a empurrei de volta pro volante. — Não precisamos de apertos de mão, quero que se apresente, não que a gente bata o carro.

— Medroso... Meu nome é Shivani, e pelo que percebi, você se chama Bailey. — Disse sorrindo.

— Exato.

— Essa viajem será divertida, mas ainda tenho uma pergunta. — Esperei que ela fizesse. — Quando descobriu que o seu amigo...

 — Noah. — Deixei seu nome claro.

— Isso, Noah. Quando descobriu que ele é cleptomaniaco?

— Espera, o que? —Me vi confuso ao perceber que isto nunca havia passado pela minha cabeça.

— Deixa eu adivinhar: ele ama você como um irmão e não quer te meter em confusão, é uma boa pessoa e não precisa de dinheiro porque está na cara que tem um pai rico. Entretanto, mesmo sabendo que não deve, ele se mete em confusão. Especificamente roubos e não controla isso...

Conforme ela falava, eu sentia como se ela nos conhecesse a tempos.

— Ele não é clep... — Me interrompeu antes que eu terminasse.

— Claro que é.

Respirei fundo, buscando toda paciência possível. O pior é que eu estava  realmente contrariando sem motivos, já que agora fazia todo o sentido as atitudes de Noah.

Não prolonguei nossa conversa, olhei para frente, observando nossa entrada em uma cidade desconhecida por mim.

— Onde estamos? — Me virei para a mesma.

— Olha no GPS, porque não faço ideia.

Arregalei os olhos. Aquilo seria muito mais complicado do que eu esperava.

*

— Por que paramos aqui?

Foi a primeira coisa que falei quando descemos do carro pela primeira vez, mais especificamente, em frente a uma loja de roupas.

— Me diz que você não é lerdo desse jeito de verdade... — Ela mirou meu rosto com certo tédio.

— Você está começando a me fazer rever se minha decisão foi boa, pois, com certeza não foia a mais sensata. — Vi sua feição mudar para indignação, e completou ignorando a minha fala:

— Tecnicamente somos dois desconhecidos viajando juntos, o que é grande loucura, além do fato de termos nos conhecido da maneira mais estupida e inacreditável. Por isso, precisamos fazer isso funcionar.

— Pra que não seja um desastre maior?

— Uau, sabe o usar a cabeça. — Ela brincou.

— Fala a garota mais racional do mundo. 

— Eu sou...

— Se fosse não estaria viajando com um desconhecido, eu posso ser um psicopata sabia? — Cruzei os braços, observando ela rir sem controle.

— Você? Um coelhinho faz mais medo que você. — Pisquei algumas vezes, eu sou tão inofensivo assim?

Não evitei pensar.

— Precisamos nos livrar disto, se quisermos começar bem. — Apontou para as roupas.

— Não temos dinheiro.

— Claro que temos, o Noah deixou uma grana no porta luvas. — Indagou, e ao parar para pensar me olhou.

— Qualquer coisa, vendemos o colar no seu bolso, já foi roubado mesmo...— Disse entrando na loja, apressadamente.

Me lembrando que eu ainda estava com o item roubado.

— Espera! não está fando sério né?

Ela riu divertida, apenas observando as várias coisas da loja.

***

Number 10_ Shivley MaliwalOnde histórias criam vida. Descubra agora