C a p í t u l o 21

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"Eu amo você" "Eu também amo você"

Essas palavras se repetiam em minha mente, talvez fosse um sonho, ou talvez fosse real demais para acreditar.

Eu sentia como se o peso do universo estivesse em minha cabeça, meu corpo doía em todos os lugares, como diversos alfinetes em toda minha pele.

Abri meus olhos com dificuldade, ao primeiro momento demorei a compreender o que estava acontecendo, onde eu estava e o motivo.

As lembranças aos poucos começaram a me atingir, e cada uma delas como choques de realidade.

Virei meu rosto para o lado direito, em meio ao silêncio e o quarto vazio, me surpreendi ao ver uma cabeleira "cumprida" castanha.

Noah.

Ele dormia na poltrona, de forma desconfortável, parecia dormir profundamente.

Me perguntei onde estaria Bailey, e por que o amigo não está com ele e sim comigo, minha mente ainda estava confusa e eu não fazia muita ideia do acontecido, além do flash que vinha em minhas memórias de repente.

Noah se mexeu um pouco, antes de quase cair, e finalmente acordar. Seus olhos assim que me viram, se arregalaram.

Ele parecia mal, as olheiras indicavam que não dormia bem, seu nariz vermelho e os olhos deixavam claro que ele tinha chorado. Ele levantou andando até mim.

Ele pôs a mão ao meu lado, me olhou, diferente da vez em que nos vimos pela primeira vez ele parecia feliz em me ver.

— Eu vou chamar o médico.  — Antes que ele desse um passo segurei sua mão, Noah me olhou.

Minha vida inteira havia sido uma bagunça, mas Bailey estava sendo meu porto seguro, independente do que acontecia, e agora eu precisava dele. 

Simplesmente saber que ele estava bem.

Noah passou a língua entre os lábios, com uma expressão séria.

— Cadê o Bailey?

Ainda mais tenso, ele repetiu:

— Vou chamar o médico. — Não soltei sua mão, a apertando ainda mais.

— Eu não quero um médico Noah, eu quero o Bailey. — Indaguei baixo. — Eu preciso dele.

— Shivani...Você  fez uma cirurgia, eu vou chamar alguém, depois resolvemos isso. — Pela feição de Noah estava claro que algo estranho acontecia. Eu não estava nem aí se eu tinha sofrido contusões ou uma cirurgia eu só queria ver Bailey.

Juntei minhas forças, me virando pronta para descer da cama, retirei o oxímetro do dedo e me preparei para tirar a agulha do braço, quando Noah me impediu.

— O que está fazendo?

Lhe ignorei, ele me impediu de puxá-la.

— Porra, Shivani, precisa deitar.

A dor que eu estava sentindo não era nada comparada a sensação horrível que atingia meu coração. Lhe olhei com os olhos marejados.

— Onde ele está? Noah!— Falei alto.

Seus olhos claros encararam os meus, vi a pena que eles demonstravam.

Eu realmente queria descer da cama e correr pelo hospital de encontro ao mesmo, mas eu não tinha forças.

— Ele se machucou muito? Foi isso? Ou foi embora, ele voltou pra casa sem mim? 

Pensei em todas as possibilidades que eu queria acreditar.

Vi em seus olhos que eu estava errada.

— Por favor, diz alguma coisa.— Senti minhas mãos trêmulas e minha voz ficar embargada.

— Ele entrou pra uma cirurgia, algumas horas depois de você. Você estava com hemorragia e quase não respondia a nenhum dos estímulos, sua tia chegou e se desesperou, ela está la fora. — Fez uma pausa.

— Não o que eu quero saber.

— Vocês estavam em cirurgia no mesmo horário, eles conterão a hemorragia, e você voltou para o quarto, já o Bailey... — Ele me olhou fixamente.

— Não sei se quero ouvir você terminar essa frase.

— Ele ficou consciente quando chegou, mas a pressão começou a cair.

— Noah por favor me diz que ele tá bem, que ele se machucou mas que vamos sair juntos do hospital, me diz que vou vê-lo de novo. — Eu exalava desespero, parecia que o chão desaparecera.

O rosto de Bailey estava rondando a minha cabeça, lembrei do "sonho" que tive, sobre o que falamos.

— O coração dele não estava batendo como deveria...

Nesse momento que não contia as lágrimas molhando o meu rosto, apesar das lágrimas tentei manter a força.

Ele estava vivo.

Precisava estar.

— Me diz que ele está bem...— Indaguei uma última vez, com um fio de voz.

O coração parou, eles tentaram reanimar. — Ele se aproximou. — Fizeram o que podiam, desfibrilador, adrenalina... Eles não...

— Não termine essa frase. — Indaguei. Noah me olhou por segundos enquanto eu digeria aqueles sentimentos.

Eles não conseguira, eu sinto muito...

Levei segundos para que a fixa caísse, de repente minhas forças sumiram, e as lágrimas caíram com força.

Meu coração pareceu quebrar em mil pedaços.

— Não! Está mentindo! — Tentei sair da cama, mas ele me segurou me forçando com cuidado a deitar.— não por favor! por favor! — Comecei a repetir, o ouvi chamar alguém mas não importava.

As lágrimas eram incontidas, minha cabeça parecia que iria explodir.

Lembrei do "sonho", de nossas palavras como em uma despedida.

Eu já havia perdido tanto, aquilo estava errado, ninguém deveria morrer dessa maneira, tão jovem, tínhamos tanto...

— Não, por favor...— Sussurrei.

Senti os braços de Noah me apertarem em um abraço, não tão forte pela cirurgia, encostei a cabeça em seu peito, não contendo o choro profundo e alto, mas não importava se me ouvissem.

Nada mais importava.

— Ele prometeu... Ele prometeu... Por favor... 

Fechei os olhos quase como em oração.

— Eu não quero viver em mundo sem você. 

Flashs e mais memórias brilhavam em minha mente, quase como em um filme. 

Eu podia sentir Noah, e apesar de mais silencioso que eu ele também chorava, apertei sua camiseta conforme a dor física se unia a do meu coração.

Ele nunca mais vai cantar.

Ele não vai ver a irmã.

Eu não poderei mais lhe tocar.

Ele nunca mais iria fazer uma loucura, ou traçar metas absurdas.

Ele nunca escutaria meu "eu te amo" de verdade.

Ele nunca mais poderia viver.

E eu não conseguiria sem ele.

***

Number 10_ Shivley MaliwalWhere stories live. Discover now