C a p í t u l o 6 (2)

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Senti uma pontada forte na barriga, abri os olhos bruscamente, encarando a garota em minha frente, ela ria como se estivesse assistindo a cena mais engraçada de sua vida.

— Você dormiu, levanta nós chegamos. — Proclamou ainda rindo, fiz careta, empurrando a porta e descendo, ela deu a volta na Van agora com algumas bolsas e jogou uma mochila, onde se encontrava algumas coisas que havíamos comprado pra mim. — Não vamos mais usar essa coisa.

Quando dei conta do que ela estava dizendo, a indiana já andava em direção a ponte.

Observei tudo ao redor, era uma confusão de cores e desenhos, pessoas e logo estava ali a ponte, minha irmã adoraria conhecer esse local, ela era obcecada por esse local, Maya tinha a curiosidade de querer descobrir o mundo inteiro, sinto falta de quando ela ainda me olhava, o simplesmente me chamava de "idiota", tudo mudou.

Talvez aquele item da lista fosse mais por ela do que por mim.

Vi Shivani — que tinha seguido na frente — parada, apoiada na lateral encarando correnteza fraca que a atravessava. Me apoiei encarando o nada assim como ela fazia.

— Esse lugar é lindo, mas não entendo o porque colocou na lista.

— Minha irmã me contou uma vez, que antigamente, as pessoas escreviam cartas e jogavam no rio, dentro de garrafas, eles contavam suas dores, alegrias e desesperanças. — Notei quando arrumou suas bolsas.

Olhei ao redor, observando que as pessoas ali perto já se distanciavam, e ficamos apenas nós dois. Me abaixei esticando a ponta dos dedos retirando um papel de uma das brechas nas paredes da ponte.

— Um dia, uma mulher disse que deveriam guardá-las nessas falhas, assim, eles ficariam aqui e chegariam a quem precisasse.

— Significa que se eu tirar um papel de algum desses lugares, ele vai me dar as respostas da minha vida? — Dei de ombros.

— As pessoas acreditam no que quiser...

Ela ficou ali, me olhando por singelos segundos, avaliou meu rosto, o papel e minhas mãos.

Ela não estava bem como antes, mas não se tratava de físico, muito pelo contrário, ela parecia perdida. Seus pés se afastaram, observei os tênis se dirigirem ao fim da ponte, ela retirou um dos papéis e me mostrou, se aproximando.

— Você mostra o seu e eu mostro o meu? — Brincou, se encostando na ponte e colocando as bolsas no chão, com exceção da bolsa de sua câmera.

— Claro,  Holly Golightly. — Note ela semicerrar os olhos pra mim, e deixar um sorriso de canto escapar.

Ela abriu o papel, pigarreou e começou a indagar, como se estivesse em uma peça de Shakespeare:

— Querido universo, eu espero que você se foda. — Suas sobrancelhas se uniram e seu tom de brincadeira diminuiu. — Você me tirou tudo, eu sinto como chão me tivesse sumido, é um vazio eterno, eles me chamam de doente, por acreditar no que eu acredito e gostar do que eu gosto. — Ela franziu o cenho, fiz o mesmo. — Você me fez errada, eu nunca vou me encaixar, e por sua causa, estou destruída. Uau, isso foi...

— Intenso.

— Eu até entendo, ela estava com dor.

— O que acha que aconteceu com ela?

— Não sei, e não quero descobrir, agora leia o seu.

Arrumou o papel no local de volta, e esperou que eu o fizesse.

— Espera, quero filmar dessa vez. — Ela riu, abrindo a mochila e ligando a câmera. Cobri o rosto automaticamente. — Deixa de ser fresco Bailey, seja educado com a minha bebê. — Diz como se fosse sério. — Vídeo diário um: Estou em uma viajem louca com um bebezão, universo, me lembre de não o fazer outra vez.

Shivani adorava me provocar, e seus apelidos debochados conseguiam fazer isso.

— Okay. Queridas paredes que hoje acolhem minhas palavras melancólicas...— Me virei para o objeto em sua mão antes de continuar. — Hoje meu amor atravessou a porta e me disse "eu te amo" e em segundo ele a atravessou novamente para nunca mais voltar, a guerra é o inferno na terra e o levaram para longe de mim.

— Isso é triste... Odeio guerras.

— Possuo meus livros, escrevo como se fossem uma parte de mim, mas devo cair na realidade, acender a chama da responsabilidade pelos meus sobrinhos. Agora sem meu amado, sem minha irmã e com duas crianças para cuidar, os sonhos ficam para depois.

Shivani baixou a câmera e piscou algumas vezes, vi ela balançar a cabeça para os lados, movendo suas madeixas escuras, e voltar a filmar.

— Não posso os trazer outra vez aquela paz, e a sensação completa, mas nós três iremos nos apoiar um no outro, até que eles escapem entre meus dedos... — Parei de ler.

— O que houve?

— Acho que ela não conseguiu terminar. Só tem a assinatura de Marie F. 

Shivani guardou sua câmera, e tomou o papel de minhas mãos.

— Vamos riscar logo esse item da lista.

Assenti, fazendo as honras.

— Vamos, agora? sinto como se eu tivesse perdido meus pés pelo caminho, se eu ficar acordado só mais um pouco eu juro que posso desmaiar.

— Exagerado...— Ela remexeu os bolsos. — Não tenho uma boa polaroide, mas tenho um celular com quarenta porcento de bateria, e uma galeria vazia.

Ela ergueu o celular, passei pela mesma.

— Ei volta aqui!

— Direitos de imagem, amor. — Sorri convencido.

— Não conte vitória. — Ela me olhou de cima a baixo e fez careta. — Antes da gente ir, tenho um alerta.

— Qual?

— Não beba nenhum dos chás que ela te oferecer. 

Piscou pra mim, o que me fez rir, e quase sem pensar, lhe seguir.

***

Adorando as teorias de vocês, haha.




Number 10_ Shivley MaliwalWhere stories live. Discover now