1- Um Novo Lar

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Ouvi batidas na porta logo pela manhã, e claramente sabia quem era: minha mãe. Por que as mães nunca dão tréguas para que os filhos tenham um digno momento de sono nos últimos minutos antes de ir à escola?

— Já vou, mãe! — respondi sonolenta embaixo dos lençóis.

      Na verdade, quando disse que "já vou", puxei o lençol e me cobri novamente. Ouvi o barulho da porta a escancarar poucos segundos depois, de seguida alguém veio e puxou-me o lençol.

— Mãe! — resmunguei.

— Mãe nada. Levante-se e vá se arrumar. Precisa estar pronta a tempo. Não vai chegar tarde logo no primeiro dia. — disse ela, chata como em todas as manhãs só para me acordar cedo.

       Chegar tarde? Quando foi que cheguei tarde? — eu sabia que se não levantasse ela não pararia de me chatear, então levantei num pulo. Reparei o quão linda ela estava. Sinceramente, minha mãe era bem mais gata que muitas modelos que eu via nas revistas e TV. Trajava um jeans e blusa de cor amarelo pálido que combinava com os saltos. Tinha os cabelos castanhos claro abaixo dos ombros, seus olhos normais eram escuros. Até hoje ainda me intrigava o fato de eu não ter nenhuma similaridade com ela, isso na aparência. Azra sempre me disse que eu herdara as feições e tom de pele se meu pai, mas quase nunca me falava muito dele, sempre tinha informações vagas.

       Desde muito nova, tive que usar lentes, para esconder a cor azul celeste e reluzente dos meus olhos, às vezes usava óculos escuros para escondê-los das pessoas a qques Sobrenaturais chamam Céticos, vulgo humanos sem nenhuma afinidade com lado sobrenatural. Meus olhos verdadeiros tinham a iris igual a um céu cheio de estrelas e, no lugar da pupila tinha um pontinho reluzente de luz azul celeste intenso.
   
     Fui ao banheiro e tomei um banho. Bem rapidinho. Me precipitei a vestir algo simples, bom, quase sempre tudo o que vestia era simples, jeans e uma camiseta vermelha que combinou com os tênis.

— Aylla, está ficando tarde. — minha mãe gritou da sala.

— Já vou! — Outra mentira. Ainda procurava concertar um dos meus maiores "desastres", esquecimento.

       Se eu ganhasse um dólar para cada vez que me esquecia de certas coisas, decerto que teria uma conta gorda no banco. Procurava onde estava a minha mochila, e não, não a encontrava em lugar algum, chorar? Isso seria bom, quem sabe minha mãe aparecia e me dava uma bronca. Mas onde raios estava a droga da mochila? Tentei refazer os meus passos desde a última vez que a segurei. Pensei por uns segundo e... Como não pensei nisso? Estava embaixo da cama. Ri de mim mesma. Normalmente detestava bagunça, mas quando acordava com uma indisposição do diabo... Simplesmente deixava tudo como estava, fora do lugar. Na sexta-feira quando cheguei à casa depois de um passeio, joguei a mochila na cama, mas como sempre fui péssima com a pontaria, ela caiu na beirada e posteriormente no chão. Mais tarde chutei ela para baixo da cama.

           Só me dei conta de que minha mãe tivera me enganado com a história do "está ficando tarde" quando a Cari, minha amiga, ligou-me, olhei o nome na tela do celular e as horas, faltava uma hora e vinte minutos para o horário padrão das aulas aqui na cidade. Atendi a ligação de Cari, queria saber se eu já estava pronta, às vezes ela parecia mais estranha do que eu, me ligava quando não havia necessidade, a meu ver, para falar coisas que não tinham importância, a meu ver também, isso de vez em quando.    

      Marchei para a sala, encontrei ela sentada na mesa e comendo. O que ela faz aqui tão cedo? — bom, eu já sabia a resposta a essa pergunta. Era óbvio que ela me ligou em combina com a minha adorada mãe. As duas riram quando me viram. Mamãe estava em pé junto a mesa com uma taça quase cheia de um liquido vermelho. Sorriu zombeteira levando a taça a boca quando viu a minha cara. Nunca conheci outra garota que comesse tanto quanto Cari, parecia ter um buraco negro no estômago.

ARCONTES - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora