CAPÍTULO 03 – A Caixa Dourada
DELILAH DANVERSCafé da manhã no Barrièle Le Gray d'Albion, 20 de Setembro, dez horas. O buffet funcionava das oito às onze. Dessa vez, Miles e eu descemos pelo elevador panorâmico. No bar e restaurante do hotel, já estavam todos. Até Lisa.
Lauren foi a primeira que vi, andando, praticamente correndo até uma das mesas do salão do buffet. Lauren era a mais nova do grupo e aparentava ter a idade que tinha. Dezoito anos desde Agosto. Seus cabelos eram cacheados, cheios e curtos. Sua pele, pálida como a neve. Eu costumava chamar ela de Branca. Não como uma piada, e sim como um apelido de verdade. Branca.
— Não vai comer? — ela perguntou a Ryan, que esperava todos sentado sozinho em uma mesa.
— Não sinto fome de manhã, você sabe.
— É, sei. E também não sente fome de tarde, nem de noite — Lauren riu. Não tinha graça, apesar de ser verdade. Nunca achei graça. Ryan era magro, magro mesmo. Ele tinha algum distúrbio alimentar na época que isso ainda não era considerado uma febre entre os jovens, e é tudo que sei.
— Isso é só para chamar a atenção, Lauren. É claro que ele sente fome. — Camille puxou uma cadeira para si e sentou-se a mesa ao lado de Lauren, que empurrava um pires com uma xícara de café quente para perto de Ryan, na tentativa de fazê-lo sentir o aroma da bebida.
Lauren sabia que era uma doença. Que não se brinca com doença. Mas que Ryan não se importaria caso ela ficasse quieta com o que Camille disse. Então ficou, porque de repente, a posição alheia já lhe soava mais chamativa.
— Bom dia também. — Ryan sorriu, Camille empinou o olhar.
— Eu espero — ela roubou o café próximo à Ryan, quem antes já se preparava para bebê-lo. — Não dormi bem essa noite. Alguém nessa madrugada subiu e desceu essa escadaria e fez uma zoada alta. Foi falta de cuidado.
— Que estranho — enfim me pronunciei. Pretendi não ter sido eu quem fizera todo o barulho nas escadas durante a madrugada. — Meu sono é leve e eu não ouvi nada.
Observador e intrometido como sempre foi, Miles ouviu a conversa e me olhou de canto, atento, com certeza não esperando que eu dissesse a verdade. Daí percebeu a minha careta e sorriu. Não falou nada, porque, é claro, é o Miles.
— Talvez só seja coisa da minha cabeça — murmurou Camille. Continuei a refeição.
Essa manhã só me parecia comum. Camille e Ryan se provocando até o caminho de seus respectivos quartos; Devon, Miles e eu soltando risadas genuínas de imbecilidades; Lauren esforçando-se para estar com todos ao mesmo tempo; Lisa e Joshua tentando ter uma discussão discreta no recanto da mesa.
Esse era o meu comum.
Lembro-me de ter percebido a luz do meu dormitório acesa pela brecha da porta quando voltei ao quarto sozinha, mas não me importei. Aproximei o cartão do leitor da fechadura eletrônica e entrei.
Depois pensei em esperar Miles do lado de fora, nos corredores do hotel, mas desisti.
Eu não deveria ter desistido.
Surpreendentemente, repousava sobre minha cama uma caixa dourada, junto a um envelope menor do que o primeiro, reluzindo um mistério que provocou arrepios em minha espinha. O dourado brilhava como um convite singular, e, ao tocar a tampa fria, percebi que abrir aquela caixa seria adentrar uma intriga e aceitar fazer parte de algo que não me convinha.
Meus olhos mal puderam acreditar. Não teria como aquilo ter chegado ali. Não pela lógica. O cartão de entrada esteve comigo durante todo o período em que eu estive fora. Ninguém deveria ter acesso a este santuário pessoal, mas ali estava, imponente e enigmática.
Não cogitei ser uma surpresa ou um presente de algum dos meus amigos. Acho que eu só aceitei o que supostamente acontecia. E nunca estive tão amedrontada. Nunca me senti tão observada. Talvez por ser tão jovem, eu ainda houvera cogitado algo cômico, por tudo me lembrar um filme ou livro de mistério.
Eu não sabia de nada.
Acomodei-me na cama e li a segunda carta em voz baixa.
"Creio que eu não tenha lhe dado a instrução mais importante, Delilah. Pardonne-moi Amour, pela minha falta de atenção. Olhe dentro da caixa. Lá está tudo o que você e o seu grupo de amigos deverão usar no dia vinte e três, pela noite, no local combinado. Sei que não se atrasarão e conto com isso.
Atenciosamente,
ASMFC."Cada palavra era um convite ao desconhecido, e juro que senti-me envolvida por um véu de suspense, ansiosa por desvendar o enigma que agora habitava minha vida.
Dentro da caixa, haviam oito máscaras de baile de diferentes cores e tamanhos e, bem no fundo, um vestido azul porcelana todo de cetim. Seu acabamento era longo, com as costas nuas e um decote coração. Nunca tive um parecido, talvez por absolutamente odiar cetim.
Quando o peguei por inteiro, outra pequena folha de papel dobrado caiu do vestido. Dessa vez, sem envelope e sem remetente. Era só um papel amarelado em minhas mãos.
"Os passarinhos voltaram para me contar que você gosta de sentir-se mais especial que todo o resto, então esse é só para você. Não divida o que te foi feito."
Parecia um conselho, de repente uma ameaça. Tentei não pensar sobre isso. Acho que eu já nem mais pensava sobre nada. Joguei a carta, a caixa e o vestido azul no chão. Meu temor não deixou-me olhar para trás. Não deixou-me olhar para lugar algum.
Eu sabia que não conseguiria mais dormir sem Miles.
𓈒ׁ♥︎⬞︎ⴾⴾ䕽❜💬!ᰢꫬ • "pardonne-moi
Amour": me perdoe, amor.
𓈒ׁ♥︎⬞︎ⴾⴾ䕽❜💬!ᰢꫬ não se esqueçam de
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CHECKMATE
Mystery / Thriller⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Em meio a uma viagem para Cannes, Delilah Danvers e seu grupo de amigos são convidados para um baile de máscaras por meio de cartas assinadas por um indivíduo anônimo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀A festa parece correr muito bem, até que, quando um assassinato a...