Capítulo do Adam

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Não esperava que aquela mulher pudesse ter me tocado tanto assim. Eu sabia que ela era inteligente e parecia muito focada no seus próprios objetivos, mas, quando a vi no banheiro, algo entre nós se estabeleceu. Eu já havia estado no lugar dela, quando o meu ex-melhor amigo, Harry, estava sendo amante da minha mulher há anos. Quando ele gritou no meio de todos que ela estava grávida. E dele. Claro que as nossas situações foram completamente diferentes, mas teve uma coisa em comum: nenhum de nós dois merecíamos aquilo, aquela humilhação. Ela não merecia e eu também não. Por que ela merecia estar sofrendo e se prejudicando em um banheiro por causa de um ex? Por que eu merecia estar sozinho a anos por causa de um melhor
amigo e uma esposa frios e calculistas?

Depois que comecei a conversar com a Charlie, senti que algo havia mudado. Longe de mim acreditar em conto de fadas ou que encontrei meu amor verdadeiro, mas aquela mulher era tão leve e engraçada, que eu poderia passar todos os dias com ela. Nunca seria tedioso. Algo havia mudado, não no mundo ao redor, mas em mim. Nenhum psicólogo havia sido tão bom quanto encontrar uma pessoa que te entende e te escuta.

Quando fui na casa da Charlie, percebi o quanto ela era amada. Pelo pai, que aparentava ser ciumento, pela sua mãe e sua irmã, que era meio maluquinha. Notei o quanto havia esquecido como era ter uma família, porque era brigado dos meus pais. Eles eram contra o divórcio, e não acreditaram que a minha esposa pudesse ter me traído e me chamaram de babaca por ter me divorciado mesmo estando grávida. Sabia que não era obrigado a continuar com uma mulher que me traiu e que engravidou de outro homem, mas, mesmo assim, me fez muito mal, e, por causa disso, me viciei em bebidas alcólicas. Era costume acordar jogado bêbado, na maioria das vezes com a minha irmã ao meu lado reclamando quando estava de ressaca no dia seguinte. Mas, sem ela, eu mesmo não teria ninguém.

A verdade é que sentia falta de alguém para amar. Não que estivesse carente, pois 38 anos já foram claros o bastante para mostrar que sexo se encontra em qualquer lugar. Não, eu havia sido traído e passei muito tempo amargurado, bêbado e sozinho, mas agora mudaria. Estava cansado de ser um peso na vida da minha irmã, que me fazia companhia sempre que podia. Charlie entrou na minha vida sem que eu sequer pedisse, mas, se dependesse de mim, queria que permanecesse para sempre.

- Então, você está namorando com uma aluna? Adam! - minha irmã reclamou, preocupada, sentando no sofá e me puxando junto. Ela não encostou, ficando com os cotovelos apoiados nas pernas e com seu rosto virado para mim. Ela todo dia pela manhã ia na minha casa, para conferir se não havia tido alguma crise ou estava de ressaca. Apesar de eu ter saído dessa fase faz 1 ano, ela ainda se preocupava muito comigo. Eu a respeitava, por reconhecer que estaria no fundo do poço caso ela não tivesse me ajudado e cuidado de mim.

- Sabe que eu não costumo dar atenção a alunas, Melanie - falei, calmamente, para que ela aceitasse melhor - mas a Charlie já é uma mulher e é bem madura apesar de ser muito nova. Dê uma chance para ela. Só uma correção: não estamos namorando, mas estamos comprometidos.

Minha irmã franziu a testa, tentando entender o raciocínio. Charlie havia pedido um tempo para começar a namorar novamente, já que o término dela havia sido recente. E tudo bem. Eu posso esperar até que ela esteja pronta para mim.

- Gosta mesmo dela? - ela suspirou, olhando seu irmão mais novo a sua frente. Melanie sempre cuidou de mim, desde quando eu era criança e me machucava e ela corria com um curativo até agora, colocando remédios nas minhas feridas emocionais.

- Muito - respondi, imediatamente - por favor, é importante para mim que você venha ao jantar. Íamos fazer ontem, mas os pais delas quiseram fazer algo mais caprichoso e arrumado e pediram para eu trazer a minha família, ou ao menos alguém que fizesse parte dela. Você é importante, o único motivo de ainda estar vivo.

- Não fala isso - ela falou, em um impulso, pegando no meu rosto - não pense nisso nem sequer por um segundo. Você está bem - Suspirou novamente-Tudo bem, eu vou ao jantar conhecer a Charlie.

- Seja boa para ela - falei, lembrando o quanto ela era grossa quando queria, principalmente demonstrando indiferenças com desconhecidos.

Quando faltava 1 hora hora do jantar, peguei a Mel no meu carro na casa dela, dizendo "oi" para o namorado rapidamente e indo o mais rápido que podia para a casa da Charlie. Não queria chegar atrasado, e o trânsito das 18:30 era incrivelmente perturbador.

Quando chegamos na casa, quem a abriu para nós foi a própria Charlie e...uau. Eu queria gritar para todo o universo que sim, aquela mulher maravilhosa de tubinho vermelho e cabelos louros curtos estava comigo e era minha quase namorada. Com muito orgulho.

- Oi, Charlie - minha irmã avançou nela antes que eu mesmo pudesse dar um beijo nela - eu sou a Mel.

- Prazer. Acho que já sabe meu nome - a Charlie respondeu rindo, a abraçando e dando dois beijinhos.

- Oi, Charlie - entrei devagar, sem saber como agir na frente do pai dela que me olhava de longe, no canto da cozinha, mas ela me pegou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo longo. Ela nem se importou com a com tantos olhares.

- Oi... - respondeu baixo, contrastando com aquele beijo nada tímido que havia me dado. Minha irmã nos encarava e deu um sorriso, aprovando ela.

O jantar se passou rapidamente e, mesmo que o pai dela tenha me ignorado no começo, logo depois todos estavam se entendendo. Minha irmã logo entrou em uma conversa interminável com a Jolie sobre feminismo e os direitos das mulheres, enquanto Martina insistia em perguntar para mim e Charlie sobre o nosso relacionamento, explicando o que sabia sobre a avó ter falado aquelas coisas para mim. A Martina era meio maluca e falava muito, mas eu gostava do jeito sincero dela, por mais que fosse meio chato algumas vezes. Ela amava a Charlie e isso era o bastante para mim.

Prof DaddyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora