capitulo 40🍃

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" A vida, meu amor, é uma grande sedução
Onde tudo o que existe, se seduz"

— Clarisse Lispector

Orlando/ 02 de abril/ 20:40 PM

Shivani  já não corria mais como antes.
Com os pés descalços, o vestido de noiva molhado, o penteado desfeito e a maquiagem não a prova d'água se desfazendo em seu rosto, ela continuou andando até sentir seus pés reclamarem, a friagem do tempo lhe assoprar o rosto, a obrigando a se proteger daqueles chuviscos que caiam, debaixo de uma sacada de uma loja de doces.

A loja..pôde observar, ainda estava aberta, mesmo que, olhando pelo relógio de parede através da vidraça da frente, fossem quase nove horas.

Um barulho irrompeu-se de seu estômago, a fazendo reclamar sozinha por não ter esperado até a hora da festa, aonde teria muita comida, para que abandonasse o noivo, ou então ter trago pelo menos sua carteira.
Aquilo ajudaria muito quando se não tinha nem mesmo o celular, para saber exatamente aonde estava, ou poderia simplesmente pedir um táxi, já que seus pés não mais queriam andar.

Nem mesmo parada, eles pareciam dispostos a pararem de doerem.

— Desculpe. Já estamos fechando... — Junto ao sino da porta da loja tradicional, ela escutara uma voz, antes de finalmente perceber alguém segurar o batente, provavelmente se confundindo e achando que ela estaria ali para comprar alguma coisa.

Bem que queria...
Mas sem dinheiro, o que lhe sobrava fazer era chupar o dedo, esperando a boa vontade de seus pés para voltar para casa, aonde saberia que teria bastante discursões.

— Ah, não... Eu só estou me abrigando da chuva. — Ela explicou, puxando os lábios em um sorriso curto.

A mulher, dando uma boa olhada em sua situação, em menos de dois segundos já previra tudo o que aconteceu, tanto, que empurrou a porta e saiu para o lado de fora, passando a encarar a chuva assim como aquela estranha ao seu lado.

— Fugiu do casamento? — Perguntou, não querendo ser intrometida.

— Bem isso.. — shivani Sussurrou. — Estou fugindo do que não quero ser.

— Uma casada?

— Uma interesseira. — Desviou o olhar da chuva, passando a notar a mulher de olhos puxados ao seu lado, que parecia ser bastante amigável. — Estaria me casando por dinheiro, o que me tornaria uma vigarista.

— E eu achando os meus problemas difíceis... — A mulher murmurou, lhe encarando nos olhos. — Sou Hina. — Se apresentou por fim.

— Shuv. — A mesma abriu um sorriso, que parecia facilmente deslizar por entre seus lábios, como nunca antes.

Era difícil ser uma pessoa relativamente normal quando não se vivia normalmente, e mais difícil ainda tentar encontrar motivos para sorrir, quando sua vida era um completo desastre.

Mas ela estava feliz, como nunca antes.
Finalmente havia escolhido algo para si mesma, e não levar aquele casamento adiante, parecia ter sido sua escolha mais certa em anos.

— Você parece bastante feliz para alguém que abandonou o noivo no altar.. — sina observou, achando aquilo divertido. Até que não era tão ruim ver uma noiva em fuga, debaixo da sacada de sua loja.

— Desculpe, é que... — Shivani  controlou uma risada. Estava mais parecendo o coringa por não saber quando parar de sorrir, ou quando deixar de gargalhar. — Eu fugi do casamento...

Aquilo para ela, parecia uma piada.
Já vira tantos filmes parecidos, que mal acreditava que na vida real, aquilo estava mesmo acontecendo com ela.

Apesar de estar achando aquela mulher maluca por gargalhar de ter deixado um noivo para trás, que pelo que dissera, deveria ser muito rico, e os convidados, bufê, fotógrafos, viagem..tudo...Sina ainda sim, se simpatizara com ela.

Aquela mulher havia deixado tudo aquilo, e ainda vestia aquele vestido que já não estava tão branco quanto na hora em que entrara na festa, mas que parecia custar uma fortuna. Ela simplesmente não compreendia o porquê de toda aquela risada sem sentido e que parecia ter a maior graça.

Era assim tão bom, abandonar o altar?

Shivani  suspirou, finalmente parando de rir, e voltando para sua expressão neutra e que com certeza parecia ser melhor do que aquele seu sorriso diabolicamente maldoso de alguém que se divertia de ter gastado uma grana alta em tudo aquilo para desistir no final.

A sua sorte, era que não era seu dinheiro..

— Bom..eu me sinto muito melhor agora que ri da minha situação. — Comentou, com sinceridade. — Minha mãe... — Ela franziu a testa, tentando imaginar como estaria as coisas em sua casa agora. — Ela provavelmente nunca me perdoará por isso, e há grandes chances de ser presa, juntamente com meu padrasto. Meus ex sogros...— Suspirou. — Eles me perdoarão por isso, até porque, o filho deles escondeu um segredão..

Ouvi-se um silêncio, mas apesar de achar uma loucura dizer tudo aquilo para alguém que acabara de conhecer,  decidiu continuar.

— Eu estaria sendo uma péssima filha se dissesse que estou a fim de deixá-los um tempo na cadeia, só pra aprenderem uma lição?

— Depende do tipo de pais que você tem. — Sina falou. — Mas você não me parece ser do tipo que faria isso.

— A gente nunca é o que parece ser.. — E com isso, ela se espreguiçou, decidindo que já estava na hora de ir.
Quanto mais rápido encarasse sua família, melhor.

Além disso, deveria ter uma conversa descente com Bailey  e talvez com seus pais, para ser honesta.
Se pretendia fazer as coisas do seu jeito, que começasse então, tentando desfazer os erros de sua mãe, e até mesmo os dela.

A sua mentira em abril  (Noavani)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora