Capítulo 26: Precisamos conversar

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     Eu corria desesperadamente, era como se eu estivesse em uma espécie de labirinto, pois em cada corredor que eu virava eu me perdia mais. Entrei em um outro corredor, a escuridão deste, assim como a dos outros, me assustava, e eu não conseguia enxergar quase nada à minha frente. Eu só podia estar andando em círculos, pois me lembro perfeitamente de já ter passado por esse lugar antes. Eu continuei andando, enquanto tentava tirar as teias de aranha que insistiam em grudar no meu cabelo. Enfim me lembrei, eu estava fugindo de alguém, fugindo dele, de Eldon.
     Escuto o barulho dos seus passos atrás de mim e começo a correr mais uma vez.
     - Elena! - sua voz assustadora cantarolava meu nome.
     Ela estava em todo lugar, não tinha como fugir dela. Em todo lugar que eu ia, eu sempre escutava a sua voz. Corri mais, sentindo o meu coração pulsar acelerado como se fosse explodir. O cansaço me fazia parar por alguns segundos, mas, retomava imediatamente.
     - Você não vai conseguir fugir de mim! - o som das suas gargalhadas ecoavam alto demais.
     Estava assustada, com medo.
     - Me deixa em paz! - eu gritei girando para todos os lados, segurando meus cabelos. - Para de me perseguir!
     Eu chorava, desesperada. Então olho para trás e o vejo parado atrás de mim, ele tenta me segurar mas não consegue, eu me viro e saio correndo, escutando ele correr para me alcançar. Era difícil fugir quando você não consegue ver nada a sua frente, sinto sua mão segurar em minha blusa, mas escapo. Quando estava quase conseguindo fugir dele, eu tropeço em uma cadeira quebrada que fazia parte de todo o lixo que completava o corredor sujo. Acabo caindo no chão e não consigo me levantar a tempo, quando percebo Eldon já estava em cima de mim, me puxando pelas pernas.
     - Me larga! - eu gritava.
     Me debato até que consigo me soltar, e chuto seu rosto com força. Levanto e saio correndo, deixando ele caído. Porque ele está vindo atrás de mim? O que ele quer? Eu achei que esse pesadelo havia acabado! Fico entregue aos meus pensamentos, tentando achar uma explicação para isso. Finalmente paro de correr quando não escuto mais nenhum barulho ao redor, tudo estava em silêncio, ele havia ido embora. Então consigo respirar melhor, aliviada. Não corro mais, apenas ando apressada. Quando entro em outro corredor, na esquerda, um grito de susto sai pela minha garganta. Eu acabara de me chocar contra o peito de Eldon, era como se ele tivesse se teletransportado e vindo parar na minha frente.
     Rapidamente ele me agarra, me segurando pelos braços, tentei me soltar mais não consegui.
     - Sentiu saudade? - ele perguntou em ironia, dando a sua mesma risada cínica de sempre.
     - Me solta! - eu gritei, tentando me livrar dele.
     Tentei arranhá-lo e mordê-lo mas não deu certo, ele continuava me segurando firme e me arrastando pelo corredor. Suas mãos apertavam os meus braços com força, ele estava me machucando.
     - Soltar você? Não! Agora nós vamos conversar. - ele disse, senti ele dizendo essas palavras no meu ouvido e se esfregando em mim.
     O nojo e a repulsa voltaram.
     - Nós não temos nada para conversar. - eu gritei e pisei com força no seu pé.
     Ele deu um grito de dor e me soltou, mas quando eu ia sair correndo ele me puxa pelos cabelos e eu volto a estar em seus braços.
     - Para conseguir escapar de mim precisa fazer mais do que simplesmente pisar no meu pé, sua tola!
     Ele sorriu, arrogante. Me passando um olhar intimidador.
     - O que você quer? - eu perguntei.
     - Isso é só um aviso: você nunca vai se esquecer de mim, eu vou estar em toda parte.
     - Não! Você morreu e vai me deixar em paz.
     Ele passou a mão pelo meu rosto e eu me virei sentindo raiva e desprezo.
     - Você nunca vai se esquecer de mim! - ele disse e suas gargalhadas ecoaram pelo corredor.
     - NÃO! - eu gritei.
     E ele desapareceu.
     - NÃO! - acordei gritando, desesperada.
     Senti as lágrimas brotando nos meus olhos e choro, me encolho segurando meus joelhos contra o peito. Eu suava me sentindo assustada, queria apenas não ter revivido isso. Escuto um barulho e meus pais entram no quarto.
     - Elena! - eles exclamaram.
     Eles vieram até mim e me abraçaram.
     - Está tudo bem, querida! Foi só um pesadelo. - minha mãe me diz, me acalmando. - Afonso, pegue uma água para ela.
     Meu pai vai até a cozinha buscar a água, enquanto eu continuo abraçada com a minha mãe.
     Sim, foi mais um pesadelo.
     Eu venho tendo esse mesmo pesadelo desde quando estava no hospital e, era sempre a mesma coisa. Eldon me segurava e dizia que eu nunca iria me esquecer dele, e mais nada acontecia. É horrível como esse homem me atormenta até em sonho, será que eu nunca vou conseguir me livrar dele, mesmo estando morto? Como vou me esquecer dele se quando eu fecho os olhos ele aparece? Se eu continuar sonhando com ele, eu nunca vou ter paz.
     Não demorou para que o meu pai voltasse com a água, ele me deu e eu bebi, agora mais calma. Olhei no alarme em cima do criado mudo e ele marcava 02h59.
     - Vocês podem dormir comigo esta noite? - me senti ridícula ao perguntar isso, como se fosse uma criança de quatro anos.
     Mas a verdade é que eu queria a segurança que eles me ofereciam. Quem sabe se eles dormissem comigo hoje eu poderia não ter mais esse pesadelo?
     - Claro. - meu pai disse. - Nós vamos buscar nossos travesseiros.
     Eles saíram e voltaram, segurando mais uma coberta e dois travesseiros. Se deitaram ao meu lado, me deixando no meio. Depois de alguns "boa noite", eles apagaram as luzes dos abajures e voltaram a dormir. Eu me senti protegida no meio deles, assim como quando eu era criança. A cama era grande então não estávamos apertados, eles foram os primeiros a dormirem. Depois de mais alguns instantes eu também peguei no sono.

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