𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 𝑜𝒾𝓉𝑜

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Mayse Mancini

A chuva ficava cada vez mais forte, mas as coisas ainda estavam sob controle. Estávamos todos sentados jantando em silêncio, o único barulho que se ouvia era da chuva batendo nas janelas e o vento sacudindo as portas.

- Então, está trabalhando no que? - minha mãe pergunta e olha pra JJ.

- Eu não tenho um trabalho fixo. - JJ larga o garfo no prato. - Eu pesco peixe com o John B, e a gente divide o dinheiro da venda, algumas vezes eu corto grama, lavo carro ou até conserto em situações de emergência.

- É difícil viver assim, nunca se sabe quando vai poder comer. - com esse comentário, vi que ela ia começar a levar as coisas pra outro nível. Olho pro meu pai que entende meu olhar.

- Eu fico impressionado, que um menino da sua idade já saiba tanta coisa, mas também fico triste. Na sua idade você deveria se preocupar mais em estudar. - meu pai comenta e JJ concorda.

- Fui obrigado a aprender tudo, meu pai não está mais em perfeito estado para se cuidar sozinho.

- Você poderia vir cortar a grama daqui de casa, um dia desses. - minha mãe diz e eu me engasgo com o suco.

- Dá pra parar? - olho repreendendo minha mãe.

- Não estou falando por maldade, eu vou pagar ele. Ao invés de dar dinheiro para outro eu posso pagar o JJ.

- Eu venho sim, não da pra dispensar nenhuma oportunidade. - olho pra JJ que coloca sua mão na minha coxa por baixo da mesa.

- Eu acho que deveríamos ligar a televisão para sabermos as notícias sobre o furacão, né? - meu pai concorda comigo.

- Ótima ideia! - meu pai se levanta da mesa. - Arruma a cozinha? - ele olha pra mim e eu concordo.

- Eu te ajudo. - JJ fala e eu dou um beijo em sua bochecha antes de me levantar.

Minha mãe e meu pai foram pra sala, eu ouvia a televisão, mas não dava para entender praticamente nada.

- Desculpa pela minha mãe. - abraço JJ por trás, enquanto ele lavava a louça.

- Não se preocupa, não vi maldade.

- Vou subir pro quarto, te espero la. - dou um beijo em sua bochecha e caminho para fora da cozinha. - Boa noite pra vocês dois.

- Porta aberta. - a voz de meu pai ecoa pela sala.

- Pode deixar. - subo as escadas e vou pro meu quarto.

Aproveito e já coloco meu pijama e me jogo na cama. Me viro de bruços e fico mexendo no meu telefone até JJ se jogar ao meu lado.

- Sua casa é enorme, nem parece que estamos do lado da periferia.

- Eu acho a mesma coisa. Olha pela janela dos fundos. - JJ se levantou e ficou boquiaberto.

- Vocês tem até uma piscina?

- Térmica. - fiz essa descoberta nos dias em que fiquei trancafiada.

- Eu vou ter um trabalhão para cortar essa grama.

- Eu ainda não acredito que você realmente vai fazer isso. - largo meu telefone e vou até ele que estava escorado na janela.

- Preciso de dinheiro, não posso ficar recusando nada. - concordo e JJ me abraça por trás. - Quando você foi embora eu jurei que nunca mais ia te ver de novo, e agora to aqui no seu quarto. Que aliás, é enorme. - ele me solta e se gira no meio do quarto e eu rio.

- É, mas é lindo. - me sento na minha cama e JJ começa e mexer na minha penteadeira.

- São coisas nossas? - olho pra JJ que estava com a nossa caixa na mão, eu concordo. - Posso abrir?

- Deve! Vem cá. - me aconchego pro lado e ele vem até mim com a caixa na mão. Ele se senta ao meu lado e abre a caixa, pega uma por uma das fotos.

- Esse dia foi divertido, é um dos meus momentos preferidos que passei com você. - ele me entrega uma foto que tiramos em uma sorveteria.

Foi o primeiro salário digno que JJ havia recebido, e ele me levou pra tomar um sorvete e me comprou um anel. Não era uma joia cara, mas foi comprado com muito carinho. A foto foi tirada por uma garçonete. Na foto eu beijava JJ na bochecha enquanto ele sorria.

- Você ainda tem o anel? - ele pergunta quase num sussurro.

- Claro que eu tenho. - me estico e abro a segunda gaveta do meu criado-mudo e entrego a caixinha pra JJ. Seus olhos pareciam brilhar assim que abriu a caixinha e viu que o anel realmente estava ali.

- Pensei que você tinha colocado ele fora. - ele tira o anel da caixinha e ficou girando ele na sua mão.

- Eu nunca colocaria um presente desses fora. - ele olha pra mim e sorri.

- Pode voltar a usá-lo? - JJ pergunta com seu olhar fixo no anel de novo.

No dia em que fui embora, eu o tirei. Quando eu disse pra ele que iria embora, ele ficou desesperado e magoado. E me disse alguma, na qual eu não lembro, que eu não deveria usar o anel mais. Sorrio para ele e concordo, ele pega minha mão e coloca o anel. Ele fica um tempo segurando minha mão e olhando, algum tempo depois ele beija minha mão.

- Nunca mais tire ele.

- Eu não vou, prometo! - ele sorri e me da um beijo. O barulho da chuva começa a ficar cada vez mais forte e as luzes da casa começam a piscar.

- Acho que está na hora de todos irmos para a cama, e apagar as luzes. - meu pai aparece na porta do quarto e se escora. -- Durmam bem, crianças. - ele ênfase na parte das crianças fazendo eu e JJ rir.

- Vem cá. - me deito e JJ deita no meu peito. A escuridão e o silêncio pairavam sobre nós.

JJ brincava com meus dedos, e eu fazia carinho em seu cabelo. Eu estava quase pegando no sono quando ouvi a voz de JJ.

- O que você quis dizer com a maioria lá no carro?

- Ah, não. Nem vem! - começo a rir e JJ se levanta do meu peito.

- Eu quero saber! - ele ri comigo.

- Jamais sairá nadinha da minha boca.

- É? Vou ter que arrancar então. - JJ começa a fazer cosquinha em mim e eu tento me soltar.

- Para! Pelo amor de Deus! - ele diminui a frequência me deixando respirar. - Eu vou te matar, isso é tortura, sabia? - ele se deita do meu lado rindo.

- Eu ainda vou descobrir. Agora vem cá. - ele abre os braços e eu me deito no seu peito. - Obrigado por ter se lembrado de mim hoje.

- Eu sempre lembro de você. - ele suspira e eu sinto seu coração acelerando levemente.

➮ O meu sol • Outer Banks Where stories live. Discover now