Capítulo 39

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Lupin

Após alguns dias da minha saída da ala hospitalar, Draco continuava me tratando como se eu precisasse da sua supervisão diariamente. Entretanto, nenhum som era emitido pelos seus lábios rosados, fazendo com que a sensação de tê-lo nas proximidades fosse quase pior do que não usufruir da sua presença. Os pensamentos iam e vinham como pássaros nas árvores da primavera. Assim, o sonserino loiro tornou-se apenas um espectador da minha tortura interna, tal qual eu sempre fui.

Como se não bastasse, o professor de poções também aderiu o pacto de silêncio, não permitindo nem que os seus olhos grandes e negros pousassem sobre os meus. Seu esforço para mostrar que não estava disposto a conversar era tanto que ele até mesmo arrumou diversas desculpas esfarrapadas para adiar os nossos treinos semanais. No fundo, eu sabia que toda essa sua disposição era para evitar responder às minhas perguntas tão certeiras.

Como consequência, Snape apenas provou que Dumbledore realmente se referia a mim naquele dia. Um nó formou-se em meu cérebro. A voz grossa do diretor ecoava dentro da minha caixa craniana. "Em algum momento você terá que contar para ela, Severo. Ela precisa saber". Não havia nenhuma hipótese formulada que conseguisse suprir a minha necessidade de entender do que tudo isso se tratava. Minha maior vontade era de confrontar o coordenador de Hogwarts, porém seria em vão: como um bom grifinório, sua lealdade ao amigo seria exorbitantemente maior do que a vontade de esclarecer as aflições de uma simples aluna.

Soltei o ar que vinha dos meus pulmões pela minha boca, fazendo com que meus ombros diminuíssem em um movimento de calma. Observei o ambiente à minha volta, o quarto estava do jeito de sempre, mas agora era complementado com as vozes altas e estridentes que formavam uma discussão entre as minhas colegas.

Aparentemente, Miranda ainda não descobrira o motivo de não conseguir trazer de volta o animal de estimação da bruxa raivosa. Com isso, Dayana bufava junto a diversos xingamentos contra a amiga, dizendo que não suportava "borboletas inúteis".

━  Qual a utilidade de um sapo? Pelo menos agora ele sabe voar! ━  Tentava acalmar a amiga.

━  Miranda, eu juro por Merlin que se você não resolver isso logo, eu não hesitarei na hora de transformar você no meu sapo de estimação.

Dayana se jogou na cama encerrando a discussão. A outra tentava mostrar que não estava chateada quando, na verdade, não era segredo para ninguém que a dislexia havia feito com que seu feitiço inicial fosse singelamente modificado, tornando a tarefa de desfazê-lo um pouco mais complicada e, assim, deixando-a chateada pelo seu transtorno. Querendo ou não, as brigas entre elas mantinham a normalidade da minha vida, tirando-me do estado absorto em que eu estava e tornando a minha atenção inteiramente presente no ambiente.

A melhor parte era que elas deixavam para lá toda a tensão tão rapidamente, que, em pouco tempo, nós já discutíamos sobre o processo de superação de Miranda. De acordo com ela, o tão famoso grifinório não tinha sido abençoado com o dom do relacionamento igual fora com o da magia. Dessa forma, ela reclamava sobre suas atitudes frias dos últimos tempos. No fundo, ela sabia que o fato dele ter crescido sem amor algum tornava qualquer relação humana muito mais complexa, não sendo possível culpá-lo

Seus pais morreram tão cedo que nem sequer viram seus primeiros momentos: passos, palavras, conquistas. Meu coração se expremeu ao pensar na minha mãe biológica. Até que ponto ela havia conseguido acompanhar a minha trajetória? Minha memória reunia todas as suas forças para tentar construir uma imagem dela: nada vinha. Não havia nenhum resquício que me fizesse sequer fantasiar as suas características.

𝘿𝙖𝙣𝙜𝙚𝙧𝙤𝙪𝙨 | 𝕯𝖗𝖆𝖈𝖔 𝕸𝖆𝖑𝖋𝖔𝖞 🔥 [+18]Where stories live. Discover now