𝟐𝟒

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OS ÚLTIMOS DIAS entre os Pogues não tem sido os melhores. Por mais incrível e leve que seja a conexão entre todos eles, era impossível negar o quão pesado estava o clima. Desde o acontecimento na festa do solstício, parecia que aquilo tinha abalado muito os quatro jovens. Obviamente, duas pessoas ao extremo.

Quando não fugia ou simplesmente não aparecia nos programas marcados pelos amigos, JJ recusava. Parecia até mesmo o mesmo garoto do dia da praia. Acoado, inseguro e com uma raiva estupidamente grande entalada na garganta. Já Zara evitava qualquer coisa que desse sinal para começar uma discussão ou deixar o clima estranho. Pra ela, os Pogues eram seu refúgio. O único lugar que tinha um pouco de sossego longe de casa e dos problemas familiares. Não queria que até isso se desfizesse.

Contra sua total vontade, naquele exato momento, Zara se arrumava pra mais uma festa. Obviamente não estava no clima, mas de acordo com sua mãe, enquanto ela estivesse morando embaixo do seu teto, teria que fazer o que lhe mandassem. Ela pode soar horrorosamente arrogante, mas infelizmente, não estava errada. Ser adolescente tem dessas.

Ela traja uma blusa de alcinha preta com um decote que realça bem seus seios, uma calça verde musgo e seus inseparáveis tênis pretos. Decide deixar os cabelos com suas ondas naturais e faz uma maquiagem leve, colocando acessórios como argolas médias, seu colar fino e pulseiras, logo borrifando seu perfume em pontos específicos e se considerando pronta. Não estava com a mínima vontade de se arrumar muito. Não é uma ocasião especial.

Hoje é aniversário de Ward Cameron. Pelo que tinha ficado sabendo, até mesmo os pais de Kiara foram convidados e no mesmo momento que recebeu essa informação, a cacheada telefonou pra Zara praticamente aos berros, louca de raiva. Uma das inúmeras coisas que as amigas tem em comum é a submissão dos pais com os ricos da ilha. Tudo, absolutamente tudo é movido por dinheiro.

O lado bom é que não ficaria sozinha, já que sua melhor amiga estaria presente e não a deixaria morrer de tanto tédio ou desprezo pelas pessoas daquele local. Se tramassem um plano para assassinar algum riquinho metido à besta, seria uma noite ótima. Esse pensamento faz Zara rir sozinha.

As batidas fracas na porta do seu quarto são acompanhadas pelo seu pai colocando a cabeça pra dentro do cômodo, checando se a jovem estava pronta. Quando a vê, abre um sorriso feliz.

— Fico feliz que tenha aceitado vir conosco. — Zara sorri sem mostrar os dentes.

— Você sabe que eu não tenho escolha. — A morena joga seus cabelos pra trás dos ombros e escuta um suspiro do seu pai.

— Sua mãe e eu queremos seu bem, meu amor. Apenas isso. — Seus olhos se encontram com os do mais velho. Ela o conhece como ninguém. Nem mesmo ele tinha certeza do que estava dizendo.

— Bela forma de demonstrar isso, Owen — Agora, ela sorri abertamente. Qualquer pessoa com o mínimo de inteligência sabe que não era verdadeiro. — Vamos?

O homem não diz mais nada antes de se retirar. Zara guarda seu celular no bolso traseiro junto de seu gloss, também saindo do quarto e descendo as escadas, onde depois de alguns passos à mais, encontrou com o resto de sua família a aguardando na sala. Enquanto percebe que seus pais conversam sobre algo antes de saírem de casa, Zara nota o quão quieta sua irmãzinha está, o que é estranho, já que ela é uma criança bem agitada e sorridente.

A garotinha está sentada no sofá, com as mãos espalmadas nas coxas e com os olhos fixos nos pés. A mais velha se direciona até ela, agachando bem na sua frente e dando o melhor sorriso que pode, mesmo ela mesmo não tendo nenhum tipo de conforto para transmitir. Ainda sim, Zayleen não tira os olhos do ponto fixo.

— Ei, garotinha. O que está havendo? — Zara coloca uma das mechas que caíam na frente do rosto da menina atrás de sua orelha. Pode escutar Zayleen expirando.

— A mamãe não quis deixar eu levar o Stitch. — Sua voz soa baixa.

Zara leva sua mão até a da irmã e acaricia o dorso da mesma, fazendo com que a pequena levantasse o olhar esperançoso pra ela.

— Eu pego pra você. — Um sorriso alegre abre no rosto da garotinha.

A maior se levanta, apressando os passos na direção do quarto de Zayleen e não demora muito pra voltar com a pelúcia nas mãos. Sob o olhar brilhoso de sua irmã, também estava embaixo do furioso de Victoria. Digamos que não gosta de suas ordens serem desobedecidas.

— Eu disse pra não levar esse brinquedo, Zara. Iremos numa festa de alto calão. — O nariz empinado só realça a soberba.

Zayleen aperta sua pelúcia nos braços, como se à qualquer momento, alguém fosse rouba-la. Zara dá passos pra frente, se aproximando da sua mãe e ficando cara à cara com a mesma. A ira nos olhos da mais velha arrepia os pelos do corpo da menor, mas como sempre, não move um músculo para demonstrar que foi afetada. Ser osso duro de roer era hereditário.

— Você tá levando seus brinquedinhos pra mostrar aos seus amigos ricos como sua família é perfeita, quando você mesmo está se enganando e tentando convencer os outros e de sua própria mentira. — Victoria trava a mandíbula, totalmente raivosa. — Tenho certeza que a pelúcia da Zayleen é a menor de suas brincadeiras.

Owen só conseguiu observar tudo com a garotinha agarrada na sua perna. Queria separar as duas, mas não é um problema dele. Victoria é a mulher da sua vida, e por isso que ele a conhecia como ninguém, sabendo como ela poderia ser totalmente errada em suas atitudes diversas vezes.

— Você tá passando dos limites, garota — A mulher levanta o dedo, apontando pro rosto da filha. Ainda sim, Zara está intocável. — Eu não sou suas amiguinhas da rua, tem que me respeitar.

— No dia que você merecer o meu respeito, pode ter certeza que ele virá sem você nem perceber.

A morena abaixa a mão alta de sua mãe e se retira do seu campo de visão, dando as mãos com a de Ziza e andando até a porta de casa.

— Eu vou andando com a Zayleen, sei o caminho.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora