𝟑𝟏

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DA MESMA FORMA QUE A MAIORIA DOS DIAS, Zara desperta com a cantiga dos pássaros perto de sua janela

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DA MESMA FORMA QUE A MAIORIA DOS DIAS, Zara desperta com a cantiga dos pássaros perto de sua janela. O sol clareava seu quarto pela fresta de sua cortina semi-aberta e tirava um pouco o aspecto escuro e frio do cômodo. Zara bocejou, se pondo de pé na cama e sentindo uma dor terrível nas costas. Não só naquela região, mas seu corpo inteiro parecia um pouco cansado demais.

Ela imediatamente se lembra da madrugada passada ao sentir o forte cheiro familiar em seus lençóis. Um sorriso nasce em seu rosto automaticamente. Tinha adentrado seu quarto com os ombros pesados, o coração apertado e a cabeça cheia e dormiu aconchegada nos braços de Maybank. Ela sabia que ele tinha ido embora antes mesmo de amanhecer, mas tinha deixado seu aroma em todos os cantos daquela cama. Até mesmo no blusão que ela usa pra dormir.

Seus pés tocam no chão e ela se põe de pé, se direcionando para o banheiro e fazendo suas higienes matinais. Quando acabou, prendeu seus cabelos num coque alto e pegou seu celular, dedilhando as notificações para ver se tinha algo demais. Nenhuma mensagem dele e nem mesmo uma ligação. Ela suspira.

Os pensamentos de que ele tinha esquecido muito rápido daquela noite foram dissipados, pois logo lembrou da queda de energia no cut. De qualquer forma, ela não esperava que ele fosse bancar o homem que se importa após uma transa. Além de tudo, eram amigos, provavelmente seria tratada como qual.

Seu celular apita com mais uma mensagem. Ao ler o nome de Rafe, ela abre um mínimo sorriso. Era mais um bom dia e perguntas como se ela havia dormido bem e se pretendia fazer algo hoje. Enquanto digitava pra ele, descia as escadas após sair do seu quarto. Cada dia mais, o Cameron mais velho surpreendia Zara. Obviamente nunca deixou de estar com alguns pés atrás, mas a pessoa que ele estava se mostrando ser à ela, não a dava motivos para desconfiar nenhum pouco.

Ao adentrar a cozinha, se deparou com Victoria separando alguma coisa em cima do balcão. A mulher, por sua vez, abriu um sorriso largo ao ver a filha. Zara permitiu sorrir de lado, apenas por ter acordado feliz. Hoje nada iria estragar seu dia.

— Bom dia, filha. — Diz, virando novamente pro balcão.

— Bom dia, mãe. — Zara estica o braço até a fruteira, agarrando uma maçã e mordendo a mesma.

— Dormiu bem? — Questiona a mulher. Zara levanta as sobrancelhas.

Você nem imagina o quanto, pensou.

— Sim, normal. — Observou o que Victoria estava separando em cima do balcão de mármore. — O que está fazendo?

— Listando as compras. — Assim que termina de dizer, ela deixa a caneta de lado e se vira para Zara novamente. — Pode ir ao supermercado pra mim?

Dando mais uma mordida em sua fruta, Zara acena positivamente com a cabeça. Não iria fazer mais nada no dia, de qualquer maneira.

Ela pega o papel da mão de sua mãe e passa os olhos pela larga lista. Ao ver ingredientes de uma certa refeição, ela sorri animada e encara Victoria.

— Você vai fazer... Parmegiana? — Victoria sorri e concorda.

Quando mais nova, era sua comida preferida da mamãe. Chegava da escola toda quinta-feira, tirava os sapatos e corria até a cozinha pra ver se sua mãe tinha preparado aquela delícia. Eram sempre os mesmos acompanhamentos. Arroz branco, feijão e batata frita. Às vezes rolava uma sobremesa, mas a tradição mesmo era aquela. Desde que Victoria começou à trabalhar incansavelmente e quase não parava em casa, deixou de lembrar das vontades de suas filhas. Era até mesmo triste como Zayleen não teve os mesmos mimos quando nasceu.

— Sei que estou longe, mas queria relembrar os velhos tempos. — Se aproxima, encaixando a mão no ombro da filha. — Eu sei que me acha uma mãe ruim, mas não quero mais fazer você passar por isso.

Ela ainda estranhava o toque de sua mãe, após tanto tempo. Zara respira fundo e pensa. Prometeu à si mesma que nada iria estragar seu dia, e mesclando com sua insaciável vontade de ver o melhor lado das pessoas, ela repousa sua mão em cima dos dedos de sua mãe.

— Tudo bem.

O sorriso de Victoria aumenta e surge algumas lágrimas em seus olhos. Ela puxa Zara para um rápido abraço e a garota não demora muito para separar. Tudo leva tempo, e a volta de uma possível reconciliação com sua mãe não seria diferente.

— Eu... Vou só trocar de roupa. — Zara avisa e sua mãe concorda.

A expressão da mulher muda drasticamente de feliz e serena para assustada e confusa, com os olhos fixos na filha. Zara franze as sobrancelhas, mordendo mais uma vez a maçã em sua mão.

— O que foi?

Victoria puxa os lábios numa linha reta e prende a risada, escondendo suas mãos atrás das costas. Contém humor em seu semblante, o que deixou sua filha ainda mais confusa.

— Você tá com um chupão no seu pescoço. — Gesticula com a unha, apontando na direção abaixo da orelha da filha.

As bochechas de Zara pegam fogo e seus olhos arregalam. Na velocidade da luz, puxa o celular e abre a câmera frontal, sentindo aquela sensação horrorosa de querer se enfiar num buraco ao ver a marca vermelha na pele de seu pescoço. Ela iria assassinar alguém hoje.

— Eu só exagerei no blush. — Gagueja, guardando seu celular de volta. — Só isso, mãe.

— No pescoço? — Victoria arqueia sua sobrancelha. Cada vez que aquele diálogo se desenvolvia, a vontade de morrer crescia dentro de Zara. Que situação embaraçosa, puta merda.

— Eu gosto de me maquiar. — Ela mastiga rapidamente o último pedaço de maçã e joga o miolo na lata de lixo. — Vou trocar de roupa.

Zara se retira da cozinha em passos rápidos sem dar chance à sua mãe perguntar mais alguma coisa. Sabia que ela não se importava com o fato de viver sua vida bem, mas o vexame de deixar a pessoa que te pariu ver suas marcas de uma noite muito louca era impagável. Preferia escolher entre sapatear no fogo, seria bem menos doloroso do que isso.

A garota rapidamente troca o blusão por uma roupa fresca e descendo as escadas, seu celular apita com a chegada de uma nova mensagem. Novamente, era de Rafe. Ela pensa um pouco. Por mais que quisesse ocupar seu tempo com alguma coisa, odiava mais do que tudo fazer as coisas sozinha. Simpatizava com a solidão, mas qualquer mínima brecha de levar seus amigos para lugares imprescindíveis, não perdia por nada.

E então, no pé da escada e com os dedos rápidos, ela digita de volta.

"Quer ir ao supermercado comigo?"

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Where stories live. Discover now