𝟒𝟎

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HÁ MUITO LUGARES desconfortáveis e inusitados que já dormiu

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HÁ MUITO LUGARES desconfortáveis e inusitados que já dormiu. No chão frio apenas com um lençol fino, de mau jeito num sofá pequeno e até mesmo em cima da mesa de uma praça após uma tarde de bebedeira, mas nunca na vida cogitou a ideia de hibernar na areia da praia. Zara tinha acordado tremendo da cabeça aos pés e todo o corpo sujo pelos grãos finos. Sabia que era loucura, mas não tinha outra saída. Não queria ter que voltar pra casa e correr o risco de ver sua mãe e nem mesmo procurar nenhum dos seus amigos. Não tinha cabeça pra falar com eles agora, depois do acontecido da noite anterior.

Ainda assim, Zara tinha ideia de que ainda era menor de idade e a melhor das soluções não era dormir pelos cantos de Outer Banks. Enfrentar o conselho tutelar estava dentre um dos seus pesadelos mais profundos, mesmo que tenha adotado o melhor estilo de vida Pogue. Não dava pra fugir o tempo todo de certas obrigações e da realidade.

A morena andava pelas ruas da ilha focada em apenas um dever. Ir até "sua" casa rapidamente, pegar algumas roupas e suas finanças para se hospedar em algum hotel por um longo tempo. Zara está desesperada por um tempo só pra si. Longe das loucuras que aquele lugar lhe trouxe, daquela casa que sugava qualquer resquício de energia e, principalmente, arranjar uma forma de esquecer ele. Maldito hospedeiro de sua mente.

Pisar em frente à porta de sua casa nunca tinha sido tão doloroso. O medo de ser atendida por aquela mulher e até mesmo por Ward pinica todas as partes do seu corpo. Repensa mil vezes se era uma boa ideia estar ali, mas como sabia, não tinha saída. Viver fugindo dos problemas nunca foi o melhor caminho, não pra ela.

Zara bate na porta três vezes e aguarda quem fosse atende-la. Prende a respiração ao escutar os passos se aproximando e finca as unhas nas palmas das mãos. Sentia que seu coração iria bater na garganta. O estômago revira com tanta facilidade que se já tivesse comido alguma coisa, rapidamente viraria um enjôo insuportável.

Seus ombros relaxam e ela solta o ar de tensão ao ver a figura de Owen abrindo pra ela. Zara não dá um passo, muito menos ele. Pai e filha ficam se encarando por minutos sem nenhum dos dois dizer nada. Ele sabia o quê estava passando na cabeça dela e ela, por mais que se esforçasse, não tinha ideia de como ele poderia se sentir com toda essa situação de merda. O homem mais amoroso, alegre e companheiro que ela conheceu na vida foi seu pai, e agora, ele carregava um semblante tão neutro que tirou qualquer esperança que Zara tinha de ter pelo menos o seu colo.

Ainda sem dizer nada, ela passa por ele e caminha rapidamente até seu quarto. Ele ainda está do mesmo jeito. Só que, agora, com os pequenos detalhes de sua cama perfeitamente arrumada como se não tivesse sido morada de uma cena de terror psicológico e os cacos de vidro já não estavam mais espalhados pelo chão. Zara respira fundo. Era difícil acreditar mesmo que aquela mulher tinha tido tamanha cara de pau e desvio de caráter.

Ela puxa uma bolsa grande que guardava em grande guarda-roupas e começa à guardar algumas peças ali. Shorts, blusinhas, calças e mais alguns pertences que cabiam. Zara sabia que não estava sozinha. Ao levantar os olhos e ver pelo reflexo do espelho seu pai a observando debruçado sobre a porta, bufa e continua fazendo o que estava focada. Não tinha forças pra falar sobre absolutamente nada.

— Sua mãe foi embora. — Suas palavras fizeram Zara paralisar. — Pegou as coisas dela e foi pra casa dos Cameron. Ele se separou de Rose.

Ela engole em seco, tentando digerir a informação. Logo, solta uma risada irônica, voltando à guardar suas roupas em silêncio. Tinha mil coisas para falar, mas não iria gastar sua saliva. Não mesmo. Escolhas são escolhas, Victoria tinha feito a sua. O dinheiro cega mesmo as pessoas.

— Nós iremos embora na semana que vem. — Ela congela mais uma vez. — Não dá pra continuar brincando de família feliz que veio passar as férias num lugar paradisíaco. Esperaria até o final do verão, mas acredite, eu estou tão exausto quanto você.

Zara se levanta e caminha lentamente até a cama, deixando que suas pernas fraquejassem e seu corpo caísse sentados sobre os lençóis. Owen respirou fundo e andou em sua direção, também se sentando ao seu lado para encarar o rosto da filha. Eu estou tão exausto quanto você. Ela sabia disso. Nem mesmo ele conseguiu aguentar sustentar uma mentira daquelas por tanto tempo.

— Por que não me contou? — Olhou pra ele. — Sobre o lance do ouro.

— Nós não tínhamos ideia de que iria chegar nesse ponto, nem eu mesmo tinha — Ele une as mãos no próprio colo. — Quando vi que as coisas estavam ficando estranhas, com sua mãe esquecendo da nossa família e fazendo o que bem entendesse, eu me toquei de que ela não era mais a Victoria que eu me apaixonei surfando nas ondas de Outer Banks na adolescência — Ele engoliu seco. — Você e a Zayleen sempre me viram como um exemplo e eu sempre guiei vocês à fazer a coisa certa. Não me deixei cegar pelo dinheiro, mas sua mãe sim.

À essa altura, as lembranças de quando soube que iriam sair do Bronx para viver uma vida melhor, foi como uma explosão de fogos de artifício dentro de si mesma. Foi festa durante todo o dia na família. O dinheiro cega as pessoas.

Zara suspirou e deitou na cama. Seu pai fez o mesmo, relaxando o corpo ao seu lado. Os dois fixam os olhares no teto e não falam nada por algum tempo. Ela nunca iria admitir, mas eles eram mais iguais do que imaginavam.

— Pai — Zara chama.

— Sim, meu amor. — Responde sem tirar os olhos da luminária desligada do teto.

— Você tem os documentos e provas de todo esse esquema? — O homem pensou um pouco, logo concordando. — Vamos até a polícia.

Owen se sentou na cama com os olhos arregalados. Encarou a filha incrédulo.

— Enlouqueceu? Eu também estava envolvido nisso.

— Mas você desistiu antes, terá um álibi — Zara também se senta. — Eu serei sua testemunha. Antes de irmos embora, precisamos acabar com essa injustiça e esquema sujo. Não é só vocês que estão envolvidos em toda essa merda. Ward Cameron varreu tudo do ano passado pra debaixo do tapete e até hoje não pagou o preço que devia. Não é mais uma briguinha pra ver quem vai ficar rico, pai. Isso é guerra de cachorro grande.

O homem fica em silêncio. Ele sabia que a garota estava certa. Seu único medo era que, de alguma forma, toda essa ideia prejudicasse suas meninas e ele mesmo. Era uma loucura completo, mas ainda assim, importante.

Ele suspirou e colocou uma mecha do cabelo da filha atrás da orelha, ainda a encarando sério.

— Vamos fazer isso. — Surpreende. — Vamos foder esses filhos da puta, Zazi.


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os cachorrao chegoooooo

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora