𝟒𝟗

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ZARA • POINT OF VIEW

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ZARA • POINT OF VIEW

Em questão de algumas horas, foi como se minha vida tivesse sido encaixotada e jogada ladeira à baixo. Num dia eu estava limpando a casa junto do
meu pai e rindo com a minha irmã, já no outro, eu estava aqui, sentada nessas cadeiras sujas do hospital e sentindo um cheiro insuportável de álcool hospitalar. Escuto choros, gritos, vejo pessoas e enfermeiros passando na minha frente, mas ao mesmo tempo, é como se meu corpo estivesse submerso embaixo d'água. O meu chão tinha sido arrancado debaixo dos meus pés e qualquer base que me ajudava à me levantar tinha desmoronado. Eu tinha desmoronado por completo.

Me encontro isolada num canto. Meus quatro amigos estavam no final do corredor, conversando entre si sobre a situação de JJ e segurando suas pontas para não me olharem com pena, mesmo que isso já estivesse ocorrendo incansavelmente. Eu ainda não tinha visto meu pai e muito menos recebido notícias do estado do meu namorado e da minha irmã. Portanto, eu estava no escuro. Procurei mil formas de distrações. Me entupir com a água do bebedouro próximo, andar em círculos, me concentrar em algum som que não fosse das vozes de fundo daquele maldito ambiente ou até mesmo ficar com os meus amigos e suportar eles me dizendo que ficaria tudo bem. Tudo para não ter que pensar que há uma possibilidade dos meus anjos da guarda irem
embora.

Passo os dedos pelo meu rosto e prendo meus cabelos num coque desajeitado. Eu estava visivelmente abatida. Nas últimas horas, só tinha ingerido líquido e me recusei à comer qualquer coisa, pelo fato de saber que eu colocaria tudo pra fora pelos nervos à flor da pele. A única coisa que eu precisava saber era como eles estavam. Era como se eu já tivesse caído no abismo, mas o chão tremesse para que eu caísse novamente. Isso não me assusta, na verdade. Eu estava pouco me fodendo para o meu estado, contanto que quem fosse importante pra mim estivesse bem.

Eu escuto passos se aproximando e não me esforço para olhar quem era. A cadeira vazia ao meu lado é preenchida e também ouço uma respiração calma. Não era nenhum dos meninos, afinal, eles estavam tão angustiados quanto eu.

— Zara — Reconheci ser Sarah. — Você tá sentada aí faz horas. Vamos comer alguma coisa.

— Não estou com fome. — Abraço meus joelhos.

Ainda que não tivéssemos intimidade, Sarah tocou nos meus cabelos e acariciou os mesmos, fazendo com que eu olhasse para ela com os olhos cheios.

— Você sempre soube que o JJ era forte desde o momento que o conheceu — Guiou os dedos que acariciavam meus fios negros para o meu ombro. — Eu também sei que sua irmã aguentou poucas e boas durante toda a vida. Você, no fundo, sabe que eles são fortes demais e ficarão bem. Só não pode se adoentar pelo medo, Zara.

Mordi meu lábio inferior e pisquei, deixando que algumas lagrimas caíssem.

— Não sei o quê fazer, Sarah. — Confessei. Ela sorriu levemente, mesmo que tivesse angústia nos seus olhos.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Where stories live. Discover now