2. A PROPOSTA

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— Por que alguém iria querer entrar naquele lugar? — Joshua pensou em voz alta.

— Você sabe que lugar é esse?

Os dois homens entraram em seu laboratório devidamente higienizados, vestidos e com equipamentos de segurança, pois algumas das plantas estudadas ali eram tóxicas. Seu trabalho atual consistia no estudo de espécimes raros para catalogação, cultivo e preservação das espécies em risco de extinção.

Edward Taylor já conhecia o jeito reservado de seu colega, por isso não insistiu na pergunta, apenas esperou que ele quisesse falar. Depois de mais ou menos quinze minutos, Joshua finalmente respondeu:

— O Bosque Proibido fica nos limites do quintal da casa onde vivi a minha infância. Como o nome já diz, é proibida a entrada dos moradores da vila onde nasci. Na verdade, é proibida a entrada de qualquer pessoa.

— Mas por que? — insistiu o outro.

— Não sei, só é proibido, desde os tempos do meu tataravô. Uma ordem passada de geração em geração e enraizada nas crianças.

— Ah, qual é? Você nunca ficou curioso? Nunca quis romper as barreiras para saber por que esse bosque assusta tanto os moradores locais?

Sim, ele já sentiu curiosidade e já tentou entrar no bosque quando menino. Ou achava que sim, se de alguma forma aquela “lembrança” não fosse um sonho.

Apenas deu de ombros.

— Qual criança não é curiosa em algum momento? Mas se a proibição atravessou gerações é porque existe um motivo, eu só não sei qual é.

— Ou talvez ela venha de um povo supersticioso que não tem intimidade com a ciência, como nós.

Joshua olhou para o colega de esguelha.

— Não fale do meu povo como se não tivesse um membro dele trabalhando bem aqui ao teu lado. Eu posso ter vindo de um lugar desconhecido pelo resto do mundo, mas nós temos nossa cultura, não somos só um bando de caipiras incultos.

— Tudo bem, tudo bem — disse o moreno. — Parece que você tá muito sensível hoje, Wood.

— Não gosto quando falam da nossa cultura como superstição. O lugar onde nasci é composto por famílias ancestrais de trabalhadores braçais: ferreiros, carpinteiros, oleiros, marceneiros, lenhadores e agricultores. Minha família é de uma linhagem de lenhadores, mesmo assim o meu bisavô dava a volta na vila para ir buscar madeira com seus filhos em uma floresta perto de outra vila, porque não ousava entrar naquele lugar. Existe algo estranho e incompreensível ali.

— Se você descende de uma família ancestral, por que tem um nome árabe?

Joshua bufou.

— É hebraico. Minha mãe me chamou assim porque disse que para o seu povo significa “líder nato”. Ela diz que eu sempre fui independente, determinado e que mereço esse nome.

— Então ela não é escocesa?

— Ela nasceu na Escócia, mas era filha de viajantes passando pelo país. Eles morreram em um acidente escalando uma montanha muito íngreme quando ela era adolescente. Desde então aprendeu a se virar sozinha, até conhecer meu pai.

— Sinto muito pela perda dela. Teu pai e você não deveriam ser lenhadores também? Quer dizer, você não tem o físico de quem consegue cortar árvores.

O loiro revirou seus olhos cor-de-avelã.

— Ele deixou de ser lenhador e passou a trabalhar em construção de casas para dar uma vida melhor a ela, depois eu nasci, viemos para Londres, meu pai conseguiu emprego em uma construtora, minha mãe se formou em Ciências Biológicas, assim como eu, mas ela é professora, enquanto eu optei por ser pesquisador. Agora chega de falar da minha família, vamos trabalhar calados.

No Coração do Bosque ProibidoWhere stories live. Discover now