26. COSTUMES FEÉRICOS

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Era noite de lua cheia. Isla olhava para a lua enorme e amarela através do teto da estufa, pensando em como sentia saudade dos rituais de desabrochar, onde as crianças da tribo começavam suas vidas e a ligação com a terra.

Dois ciclos de lua cheia passaram desde que sentiu a vida de seu filho se esvaindo lentamente. Dois rituais de desabrochar, e Joshua ainda estava adormecido no colo amoroso das raízes de Grradhy. Essa era a terceira vez que ela iria checar, estava ansiosa para saber se seu filho seria forte o bastante para se recuperar e se conectar ao seu verdadeiro lar.

Como ela gostaria de estar lá para assistir, para vestir seu menino com as vestes de linho destinadas aos recém-desabrochados e sentir o poder da terra fluindo ao seu redor.

Uma lágrima molhou seu rosto.

Era isso que mais sentia falta de seu mundo. Não era a emoção das caçadas nem as reuniões das líderes com o Conselho Sagrado. Não era o enlace das conexões entre companheiros nem mesmo as histórias contadas pela voz encantadora da Mstry. O que mais sentia falta era de presenciar Grradhy emprestando seu poder, sua vida, sua magia aos pequenos feéricos.

Sentiu a presença de seu marido atrás de si, porém não desviou o olhar da lua. Estava esperando o ápice lunar para poder mergulhar seus dedos nas raízes de seu carvalho e sentir como Joshua estava. Ele acordaria dessa vez?

— A Julia dormiu. Você quer ficar sozinha para se conectar com Grradhy?

Ela o olhou por cima do ombro.

— É claro que não. Você é meu companheiro, Hamish. Não há nada que eu faça que você não possa ver.

— Então por que você se esconde de mim?

— Como assim?

Ele acariciou o rosto macio da esposa.

— Você esconde seu verdadeiro rosto, mesmo quando estamos sozinhos. Não precisa fazer isso, eu me apaixonei pela ninfa com gavinhas no rosto, cabelos exóticos e olhos amarelos. Sinto falta dessa perfeição da natureza que é minha mulher.

Isla sorriu e revelou sua verdadeira aparência. Hamish tomou seus lábios em um beijo apaixonado e abraçou sua esposa com força. Ela se derreteu nos braços do marido, suspirando de prazer. Desde o momento em que viu Hamish entrando no bosque, respondendo à sua canção de acasalamento, Eileanach soube que ele era seu companheiro destinado.

Quando ele foi banido e ameaçado, ela ainda escolheu criar seu filho no mundo feérico, apesar de saber que jamais sentiria desejo por outro que não fosse seu companheiro. Estava disposta a sacrificar seu coração apenas pelo bem-estar de sua tribo, mas no momento em que Aduktan, seu noivo forçado, exigiu que Joshua fosse tirado do ventre dela como se fosse uma coisa sem valor, Isla não se importou com mais nada.

Deixou seu trono, seu lar, sua família, e foi ter seu filho ao lado de Hamish. Apesar das coisas que deixou para trás, ela nunca se arrependeu de sua decisão, pois com ele viveu os anos mais felizes, criou seu filho, e a Mãe-Natureza ainda lhe presenteou com Julia, seu pequeno tesouro. Tão preciosa e poderosa como havia séculos não se encontrava ninguém assim em Grradhy.

Havia um motivo pelo qual seus dois filhos eram tão fortes. Hamish falava de si mesmo como um humano comum, mas ele estava errado. Humanos puros não podem ser companheiros de feéricos, e se as Almas Ancestrais fizeram dele o companheiro da princesa, é porque havia resquícios de magia em seu sangue.

Durante os anos em que morou em Craobhan, Isla usava folhas, raízes e seiva do bosque para fazer experimentos com o sangue de Hamish, tentando descobrir o que havia de magia em sua família. Antes de irem embora, ela usou um pouco do sangue de Joshua, que havia caído e ralado o joelho, para fazer testes.

No Coração do Bosque ProibidoWhere stories live. Discover now