28. A MALDIÇÃO DE KELPIE

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Hamish pegou sua filha no colo, olhando ao redor, no vale obscurecido pelas sombras das árvores que cercavam três lados de uma bonita cabana de pedra à beira do Lago Ness. À sua frente, Isla acabara de conjurar um feitiço que lhes mostrou a cabana antes escondida. Apertou a menina em seus braços quando um vento frio passou ao seu lado, arrepiando-lhe a nuca de um jeito bem desagradável.

De repente, na sombra de uma árvore apareceu uma silhueta. Uma mulher pálida, quase tanto quanto a lua, trajada com um longo vestido cinza que parecia flutuar ao redor dela com a ajuda da brisa noturna. Seus pés estavam descalços e um longo cabelo liso e negro balançava em suas costas conforme ela se aproximava da pequena família.

Havia uma qualidade fantasmagórica em seus olhos cinzentos, tão tristes que causavam angústia em quem ousasse olhá-la por muito tempo.

— Ousas invadir meu território, filha de Cibele? E ainda trazes um brotinho à minha presença? — A voz da mulher era tão gélida quanto a sua aparência.

Isla estendeu a mão, mostrando à mulher uma coroa de flores que havia feito pouco antes de realizar o feitiço de revelação que lhes mostrou a cabana.

— Vim a ti porque não tenho mais a quem recorrer. Um grande mal se aproxima, e ele derrubará cada feérico de Grradhy, dentro ou fora das terras mágicas. Ele está caçando meus filhos e preciso saber com quem estou lidando.

— Se viesses a mim sozinha, eu poderia considerar ouvi-la. Todavia, ousastes trazer à minha casa uma criança, mesmo sabendo sobre as circunstâncias em que vim parar aqui, solitária, nesse lago, portanto retira-te ag...

— Ela é minha filha, a herdeira de Grradhy. Jamais traria a ti uma oferenda humana. Por favor, Kelpie, preciso da tua ajuda.

— Trazes a mim a futura Grande Mãe? Quão intenso é teu desespero para te arriscares assim...

— Você não vai machucá-la, Kelpie. Não precisa. Você pode resistir...

— Sabes que não posso. Fui amaldiçoada, sempre terei em mim esse monstro que não consegue morrer. Odeio o que fizeram comigo...

— No entanto, só você conhece a antiga língua das fadas, o dialeto extinto desde que você foi amaldiçoada e a língua foi sendo modificada até estar totalmente diferente.

Kelpie observou a verdadeira rainha de Grradhy, que parecia desesperada. Por um momento pensou em aceitar ajudá-la, porém ela jamais fazia nada sem cobrar um preço. Olhou para a menina no colo do grandalhão e piscou, aturdida ao ver grandes olhos castanhos a encarando por entre os cachos bagunçados. Ela se parecia tanto com...

— O que me dará em troca pela ajuda?

— Vou reverter a maldição.

A morena fitou a dríade loira com os olhos arregalados, pela primeira vez mostrando alguma emoção.

— Faz quinze séculos que me escondo aqui, longe dos humanos e do meu povo. Já li sobre todos os feitiços possíveis nos livros das mais diversas civilizações e nunca encontrei nada que pudesse tirar esse monstro de mim. O que a faz pensar que pode desfazer isso?

— Eu posso porque é um segredo passado de geração em geração para as herdeiras, desde que Hariel te amaldiçoou.

Mais uma vez Kelpie mostrou emoções dançando em seu rosto. No entanto, o brilho repentino em seus olhos mortos se apagou. Depois de tantas tentativas, recusava-se a ter esperança.

— Se tu seguires pela trilha ao norte, chegarás a uma pousada que abriga viajantes. — Virando-se para partir, a mulher parou ao ouvir a vozinha infantil:

No Coração do Bosque ProibidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora