VII

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      A noite das garotas foi um sucesso. Nos enchemos de salgadinhos, sobremesas e conversas sobre o futuro e sobre os últimos dias. Contei detalhadamente sobre o meu tornozelo e ela quase não acreditou quando falei que o garoto encapuzado me levou nas costas para o hospital. No meio da conversa também fiquei sabendo que ele está sempre em casa, quase nunca é visto, a não ser pela manhã quando sai para a escola. Ele é como um mistério.

      O resultado de toda essa conversa foi Betty babando o travesseiro antes de meia noite. Tentei dormir centenas de vezes e nenhuma foi bem sucedida, talvez seja o ar diferente, o ambiente refinado demais ao qual não estou acostumada ou os unicórnios fluorescentes no teto do quarto.

      Levanto devagar da cama na esperança de não acordar minha melhor amiga, tenho certeza que ela se obrigaria a ficar acordada comigo e não quero jamais fazê-la perder o sono como já fiz antes.

      A varanda está fria demais, toco o ferro para me apoiar e olho para meu pé enfaixado. Balé, é tudo que vem a minha mente, estarei fora nesta temporada, a única coisa na qual talvez seja boa não estará disponível para mim. Sou um total fracasso. Ouço uma notificação no celular e entro no quarto somente para pegá-lo, então volto para a varanda e observo a tela do aparelho enquanto meus dedos fazem mágica ao abrir o Instagram e tudo surgir rapidamente. As notificações dizem que @hopejo curtiu uma foto, Josh.

      Talvez ele pense que eu não sou digna de paz nem na hora de dormir.

      — Babaca. — Jogo ao vento em baixinho e olho para frente.

      Taehyung não está de moletom encapuzado, mas usando uma camisa branca finíssima e uma calça jeans preta com correntes. Ele ainda está perfeito, olhando para mim, esbanjando um sorriso pequeno, um sorriso surreal. Olho para trás e engulo em seco quando volto a fitá-lo, ele ainda está lá. É real, com mãos nos bolsos e um olhar intimidador. Ele tira um celular do bolso e ainda com o sorriso trapaceiro se concentra em digitar algo. Mordo o lábio inferior e o celular na minha mão treme, olho para a tela e depois para o garoto no gramado, ele levanta o braço e balança a mão com seu aparelho. Olho para meu próprio celular, uma mensagem no Instagram brilha na tela, mensagem de @iswfy_tae.

      "Espero que o 'babaca' não seja eu."

      Olho para frente e suas mãos estão para trás nas costas, ainda de olho em mim. Penso na mensagem. Sim, talvez eu também o ache um pouco babaca por me evitar, mas decido que não deveria afirmar agora.

      Respondo: "Claro que não. Mas como ouviu o que eu disse?"

      Ele olha um pouco para a grama e digita em seguida.

      "Aprendi a ler lábios quando minha mãe me xingava por não ser como o meu irmão."

      Seus olhos se cravam em mim de novo e balanço a cabeça em positivo. Permanecemos assim por tempo suficiente para uma brisa gelada deixar o meu nariz mais frio que o normal, então ele digitou outra vez, dessa vez demorou bem mais.

      "Quer dar uma volta?"

      Minhas mãos gelam quando leio o mensagem. Olho ppara trás, vendo Betty dormir lembro do que ela disse. E se ele for mesmo um serial killer ou algo pior? Então meu celular vibra mais uma vez.

      "Garanto que não sou nenhum maníaco."

      "Isso é totalmente o que um maníaco diria."

      Ouço sua risada do outro lado da rua e um sorriso também me atinge.

      "Ok, que tal o jardim da sua amiga?" no mesmo instante outra mensagem chega "Preciso te entregar algo".

 Swan Lake ✦ KTHWhere stories live. Discover now