Swan Lake ✦ KTH

XIII

          Permanecemos sobre a grama depois de devorar quase toda a comida, me pego pensando que não terei como comprar algo assim tão cedo, mas não me arrependo de ter dividido o pequeno banquete de hoje com Taehyung. A companhia dele passou a ser uma das melhores que já tive em toda minha vida, a familiaridade que ele me traz na forma como fala, é como se já nos conhecemos a anos. Só tive essa sensação com uma pessoa na minha vida, e hoje ela me trata como se eu fosse uma inimiga.

          Olho as estrelas e me perco no brilho delas, nunca fui muito fã de astronomia, as coisas da Terra me interessam bem mais, mas as estrelas são um fenômeno a parte. Quando criança, minha mãe costumava dizer que as estrelas eram nossos entes queridos que já haviam partido, que já haviam reencarnado a quantidade de vezes necessárias para completarem o que nasceram para fazer na terra. Lembro de ficar absorta em tudo que ela dizia, era mágico imaginar que depois da morte poderíamos reencarnar para tentar mais uma vez ou nos tornar estrelas tão brilhantes.

          — Taehyung, — chamo e ele vira a cabeça para o lado olhando para mim em resposta, seus olhos estão mais escuros no desfalque de luz do ambiente — acredita em reencarnação?

          Percebo seus lábios inertes e os olhos brilhantes. Sua garganta se move apressada e rígida, ele pisca algumas vezes e tento dar tempo suficiente para que ele pense na resposta adequeada, mas ela nunca chega aos meus ouvidos. Talvez ele seja adepto de uma dessas religiões que não acredita em reencarnação é assim torna esse assunto um tópico sensível para ele.

         — Bom, acho que se existir — olho para o céu novamente e tento deixar a conversa leve novamente — talvez eu tenha nascido em outro país e tenha tido outra nacionalidade. Acho que eu tenho pequenos traços ocidentais — faço biquinho com os lábios e estufo o peito para frente — você não acha?

         — Já tá tarde, — ele levanta juntando as vasilhas e colocando dentro das sacolas de novo — é melhor nós irmos.

         Penso em protestar pois adoraria passar mais tempo em sua companhia, mas acho que mesmo que eu tentasse persuadi-lo a ficar, não seria tão agradável a ele próprio, já que hoje parece não ser um bom dia para ele. Então o ajudo a pegar o resto dos potes de comida e seguimos para casa. Ele me acompanha até a porta de casa e quando destranco a fechadura ele já está sumindo na escuridão da noite com o capuz sobre a cabeça.

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          Desde o ataque de pânico que tive na aula de balé, entrar na aula tem sido um monstro de sete cabeças, então durante toda a semana venho dando desculpas que me permitem ficar na enfermaria e receber um atestado da enfermeira da escola. A sra. Trimaine não está nem um pouco contente comigo, mas eu também não estou, então acabo não me importante com o fato de mais alguém estar decepcionado comigo.

         Passo a manhã quase toda ma enfermaria, sobe a desculpa de que estou com uma forte cólica e quase não consigo andar. Recebo dois comprimidos e sou instruída a deitar até que a dor alivie. Fecho as cortinas envolta da cama e aproveito o tempo para fazer atividades das aulas da semana que vem, gosto de adiantar a matéria para que possa trabalhar sem me preocupar com as notas da escola. Está acabando, só mais um ano, eu vou conseguir.

         Depois de estudar um pouco de matemática, rever os termos de biologia e ler um pouco sobre a história do fim da dinastia Joseon. Vejo o relógio marcar que faltam apenas 20 minutos para o fim da aula de balé, ou seja, mesmo que já estivesse sem dor não adiantaria muita coisa chegar a classe no fim da aula. Sendo assim, pego minha bolsa e visto a jaqueta do uniforme, abotoo os botões e aliso a gola. A enfermeira não está na sala quando abro as cortinas, talvez esteja fazendo uma pausa, então apenas vou até a porta e seguro a maçaneta. No exato momento, ouço um som brusco, parece que algo se chocou contra os armários. Solto a maçaneta e caminho vagarosamente até as janelas com as cortinas cor de creme, toco o tecido denso e o afasto um pouco, apenas o suficiente para enxergar o que está havendo.