Obcecado | AU Sariette

Jack Daniel's: Part II

CONTINUANDO...

POV SARAH

Quando terminei a reunião com Thais, que inclusive havia sido extremamente boa, peguei minha bolsa e meu celular para finalmente ir embora, afinal eu já estava cansada daquela roupa e meus olhos doíam de ver tanto vermelho em uma pessoa só. Quando cheguei em casa, Jussara me pediu para ir ao mercado, pois ela sabia que era uma das coisas que eu mais amava fazer. Subi para o meu quarto pra tomar um banho, afinal era um dia extremamente quente. Acabei vestindo a primeira roupa que encontrei que foi um vestido longo de oncinha e coloquei uma rasteirinha no pé. Como estava muito quente, acabei nem penteando o cabelo, apenas o ergui com as mãos mesmo e fiz um rabo de cavalo todo desajeitado, mas ficaria assim mesmo.
Quando cheguei ao mercado, decidi começar primeiro pela coisa que eu mais amava: CHOCOLATE. Na verdade não era algo que eu consumia muito, mas era minha válvula de escape nos dias de muito estresse ou quando eu estava triste. Como eu não podia perder a minha pose, eu sempre que estava estressada ou triste com alguma coisa só entrava no meu quarto e devorava 5 barras de chocolate de uma vez enquanto assistia uma série qualquer. Depois de pegar algumas caixas de milka e lindt resolvi ir para a minha segunda coisa favorita no mundo, que era... Isso mesmo, a cachaça hehe. Acabei ficando na dúvida sobre os wiskhy, pois sempre gostava de ter alguns mais baratos pra tomar um monte, mesmo que eu gostasse muito de um bom Royal Salute não costumava tomar atoa, afinal ele não era lá muito barato e eu era rica por um motivo: sabia economizar e tinha maturidade financeira. As vezes pra ficar bêbado não é preciso tomar uma bebida absurdamente cara, um vinho de 500 reais as vezes basta e graças a Deus eu conseguia entender isso.
Apesar de gostar muito de wiskhy, eu nunca soube distinguir Johnnie Walker de Jack Daniels, pra mim sempre foram muito parecidos, então fiquei ali encarando as duas garrafas em minhas mãos enquanto tentava decidir qual levar. Os meus pensamentos que comparavam as bebidas foram interrompidos por uma voz. Uma voz baixa mas com um sotaque nítido. Eu reconhecia muito bem de quem era aquela voz. Eu a odiava tanto que decorei seu timbre, sua entonação...

—Eu levaria Jack Daniel’s. Foi o que saiu naquela voz doce. Meu corpo se arrepiava dos pés a cabeça, eu não sabia o que pensar, o que fazer, ou como fazer. Comecei a sentir calafrios e era estranha toda aquela situação pois eu nunca havia a sentido antes. Uma parte de mim queria correr dali, a outra voar em Juliette e desfigurar o rosto dela com as minhas unhas de stiletto e o restante só era confusão, uma imensa confusão.
Quase que inconscientemente, decidi que era melhor ignorar, então apenas ergui a cabeça e engoli seco, voltando meu olhar para as duas garrafas novamente. Eu tentei fugir daquela situação, mas ela não deixou e insistiu, insistiu pra que cada parte minha continuasse em crise com aquilo.

—Olha Sarah, não dá pra ficar assim. Eu sei que você está chateada porque perdeu mas é o curso natural da vida. Eu também já perdi vários processos. A gente precisa no mínimo aceitar a existência uma da outra. Thais já me contou que decidiu continuar com a sua gestão na clínica, então eventualmente precisaremos nos ver e vez ou outra conversar. Não dá pra ficar nesse estágio pra sempre.
POV JULIETTE
Quando eu disse aquelas palavras, me senti estranha pois era algo que eu costumava fazer. Sempre tentei apaziguar as coisas, deixar tudo bem, mas parecia que dessa vez eu tinha uma necessidade de obter a aceitação de Sarah. Eu precisava que ela dissesse que aquela era uma trégua oficial e isso me assustava.
Ao ouvir minhas palavras, senti que finalmente Sarah se incomodou já que ela coçou a garganta, mesmo paralisada ali encarando aquelas garrafas. Percebi que ela estava furiosa pois duas veias saltaram em seu rosto e suas mãos suavam muito, ela estava prestes a derrubar aquelas garrafas. Minha insegurança foi interrompida quando ela virou seu rosto para me encarar. Eu senti como se tivesse levado um tiro com aqueles olhos verdes. Suas pupilas estavam dilatadas e era incrível como mesmo sendo Sarah Andrade ela não tinha nenhuma ruga de preocupação no rosto. Senti seu olhar me atravessar como a luz do sol que penetra uma folha fina qualquer e é capaz de causar um incêndio.
POV SARAH
Eu não sabia o que dizer, pela primeira vez na vida eu só queria correr dali, mas não, eu não podia fazer isso, não combinava com a Sarah que Juliette havia conhecido. Decidi que esqueceria tudo e manteria aquela personagem que de certa forma ainda era eu. Foquei em minha racionalidade e decidi encará-la. Senti que o nervosismo tomou conta dela naquela hora e admito, a sensação de ver aquela cena era maravilhosa. Ela estava como todos que eram encarados daquela forma por mim, mas dessa vez era muito mais divertido. Eu ainda a odeio, então resolvi que essa seria uma ótima oportunidade de colocar em prática a missão que entreguei ao Projota e ele falhou miseravelmente. Talvez dar uma trégua para Juliette me ajudaria a me aproximar sem que ela percebesse. Então mesmo que o meu ego e orgulho se contorcessem naquele momento, eu disse pra ela o que ela aparentemente queria ouvir.

—Tá bom. Foi apenas o que eu disse em uma voz seca enquanto abandonava a garrafa de Jack Daniels e pegava mais três da outra bebida para provocá-la. Eu apenas peguei meu carrinho e quando me virei de costas não pude conter o sorriso vitorioso por ter dado certo. Era patético o jeito com que ela havia ficado paralisada lá no mesmo lugar.