Capítulo 33 - O Plano de Sherlock

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A manhã de Domingo começou tranquila no 221B da Rua Baker, mas não de forma habitual. Quando a Sra. Hudson entrou no apartamento trazendo um prato com scones de mirtilo em agradecimento à Audrey Morgan pelo jantar, encontrou John Watson na cozinha de roupão sobre o pijama fazendo café.

— Bom dia, John — cumprimentou ela. — Saudade dos tempos que era comum te encontrar assim.

— Bom dia, Sra. Hudson. — Ele se virou de frente para a amiga e sorriu. — Tenho saudades também, mas acho que dessa forma foi melhor para Rosie.

— Tem razão. Uma criança precisa ter um ambiente um pouco mais tranquilo do que esse que vocês têm aqui. — A idosa sorriu sentando de frente para a mesa.

— Café? — ofereceu John se virando de frente para a cafeteira.

— Não, obrigada. Já tomei meu chá.

— Eu vou querer. — Sherlock Holmes saiu do banheiro vestindo suas roupas sociais, encheu uma xícara com o café recém-coado e adicionou açúcar.

— Vai a algum lugar? — perguntou John enquanto se servia.

— Sim — respondeu o homem tomando um primeiro gole da bebida com cuidado para não se queimar.

— Parece que o vinho ajudou mesmo a Audrey a dormir — comentou a Sra. Hudson. — Geralmente ela é a primeira a se levantar.

— Ela já acordou, e já saiu — informou Sherlock sentado na cadeira próxima à cabeceira da mesa sem se alterar.

— Como assim saiu? Não são nem oito horas da manhã! — John olhou preocupado para a senhora Hudson.

— Talvez ela tenha ido fazer uma caminhada... — sugeriu a idosa.

Sherlock olhou para o relógio de pulso e continuou tomando o café calmamente.

— Eu te falei que tinha alguma coisa acontecendo, John. Só precisava deixar a Audrey chegar o mais longe possível para meu plano de trazer ela de volta funcionar.

— Sherlock ela não é um caso que pode esperar uma das suas soluções! — John ainda estava em pé e ficava cada vez mais impaciente se esforçando para não gritar e acordar a filha. — Ela está doente! O que fizeram com ela foi cruel. Só monstros para induzir esse tipo de amnésia em uma pessoa! Se eu soubesse que a Audrey estava tão mal não teria deixado você me convencer a deixar ela continuar o que estava fazendo!

A Sra. Hudson acompanhava a discussão tentando acompanhar o que os dois estavam falando.

— São os pesadelos, não são? — perguntou a idosa.

— Sim, Sra. Hudson — John trocou um olhar com o amigo para descobrir se Sherlock tinha consciência que ela sabia sobre os pesadelos. — E, além disso, o tipo de amnésia que provocaram nela pode levar a episódios de fuga como esse. No caso da Audrey, a falta de lembranças sobre o porquê fizeram isso a faz acreditar que mereceu o que aconteceu e que todos vão fazer a mesma coisa uma hora ou outra. Por isso ela tem lavado a louça, cozinhado, cuidado da casa e não queria receber para tomar conta da Rosie — respondeu John bebendo um gole do café tentando manter a calma.

— Mas isso é ridículo! Ela é um amor de pessoa! Quem não gostaria de tê-la por perto? — A idosa estava inconformada.

— Audrey acredita que sua presença nas nossas vidas é de alguma forma um incômodo e decidiu ir embora — respondeu Sherlock deixando a xícara vazia sobre a mesa, conferindo as horas no relógio de pulso mais uma vez antes de ficar de pé e pegar o sobretudo que estava sobre o encosto da cadeira ao seu lado.

— E está sendo para você? — perguntou John.

— É óbvio que não! — retrucou ele levemente irritado. — Francamente de onde você tira essas ideias?

— Aonde você vai? — perguntou o amigo ao vê-lo enrolando o cachecol em torno do pescoço.

— Buscar a Audrey — respondeu Sherlock calmamente.

— Eu vou com você — afirmou ele.

— Não, não vai! Para o que eu planejei dar certo, eu preciso fazer isso sozinho. — Sherlock foi categórico. — Temo que ela desconfie da minha sinceridade se houver mais gente por perto. Audrey é esperta e já percebeu o quanto vocês justificam minhas atitudes e interferem no meu comportamento — explicou ele. — Pelo bem de todos, é verdade — acrescentou ao final com um pequeno sorriso.

— E por onde você vai começar a procurar? — John cruzou os braços sobre o peito.

O clássico sorriso indicando que havia descoberto tudo antes de todo mundo iluminou o rosto de Sherlock Holmes.

— Eu disse que vou buscar a Audrey, não procurar.

— E onde ela está? — perguntou a Sra. Hudson.

— Se eu calculei certo, e com certeza calculei, ela vai levar 3 horas para chegar ao ponto de onde saiu aquele dia em que nos encontrou e tomará lá a decisão final do que fazer. De táxi com o trânsito livre estarei lá em uma hora, como ela saiu às 6 da manhã, chegaremos praticamente juntos.

— Que decisão final, Sherlock? — questionou John.

— Por favor, Jawn! Ela pegou minha arma no armário da cozinha — disse ele com raiva tanto dos amigos por demorarem a perceber o que estava para acontecer quanto dele mesmo por não ter acreditado que ela seria capaz de ir até o fim com aquilo. — A porta mal fechada foi a dica final — explicou.

John largou a xícara com café pela metade sobre a bancada e abriu o armário apenas para tirar a caixa de madeira onde eles guardavam a arma e as balas. Apenas as munições estavam ali.

— Será que ela quer voltar naquela casa que vocês invadiram para investigar por conta própria? — A idosa estava preocupada.

— É uma possibilidade plausível, Martha, — disse John tentando manter a calma. — Mas só está faltando uma bala e eu temo que seja algo um pouco mais perigoso que ela tem em mente. Devia ter percebido depois daquele jantar ontem e impedido ela de ir adiante... — lamentou ele cobrindo os olhos com uma das mãos.

— Audrey estava se despedindo — concluiu o detetive.

Sherlock vestiu o sobretudo e saiu da cozinha deixando John e a senhora Hudson chocados e aflitos pelo que parecia estar para acontecer e torcendo para que ele conseguisse evitar.

***
Um dia o John vai sofrer um infarto e a culpa vai ser toda do Sherlock! Hahahaha...

Finalmente Sherlock está indo atrás da Audrey para trazê-la de volta! A busca dele continua no próximo capítulo. Quem estará certo sobre as reais intenções da mulher?

Edit.: Estou percebendo que muitas pessoas têm abandonado a leitura exatamente nesse capítulo. Já aconteceu mais de uma vez, então, resolvi dar um pequeno spoiler para que vocês não tenham medo de prosseguir. Nenhuma arma será disparada no próximo capítulo.

Memórias AnônimasWhere stories live. Discover now