Capítulo 68 - Processo lento

84 10 1
                                    

O caminho de volta para a cama teve uma parada inesperada quando Audrey Morgan sentiu necessidade de ir ao banheiro, mas John Watson não precisou chamar a enfermeira. A mulher garantiu que se ele a deixasse perto do vaso sanitário, cuidaria do resto sozinha e assim fez.

Quando ele a chamou preocupado, depois de alguns minutos de espera, Audrey já estava perto da pia lavando as mãos. Graças ao banheiro todo adaptado com barras de apoio nas paredes, ela estava conseguindo se virar sozinha. Com um sorriso afetuoso no rosto, ele perguntou se estava tudo bem.

— Ardeu um pouco, mas a enfermeira avisou que poderia acontecer — respondeu ela sem saber se era especificamente sobre sua primeira ida ao banheiro que ele queria saber.

A rouquidão de sua voz ainda era bastante evidente.

— Sim, é normal. — John sorriu mais uma vez. — Vamos? — perguntou ele se aproximando oferecendo a mão esquerda para a amiga segurar enquanto pegava a haste com o soro com a outra mão.

O processo para acomodá-la de volta na cama foi semelhante ao que havia sido para sair dela. Já sem os chinelos, Audrey também preferiu se livrar do roupão e se cobriu depois de deitar.

— Amanhã podemos caminhar um pouco lá fora se você quiser — sugeriu John depois de ajeitar tudo de volta no lugar. — Tem uma sala aqui perto com uma vista maravilhosa para o jardim.

— Será que consigo?

— Claro que sim! — afirmou ele. — Não é muito longe e também tem lugar para você descansar por lá.

— Acho que vou gostar do passeio. — Um bocejo interrompeu seu sorriso.

— Dorme um pouco. — Aconselhou ele mexendo nos cabelos dela. — Está sendo um dia agitado.

Audrey concordou com um aceno de cabeça e fechou os olhos relaxando enquanto sentia o carinho do amigo ainda deslizando os dedos pelos seus cabelos.

Assim que ela dormiu, John se acomodou na poltrona perto da cama pensando na conversa sobre sua falecida esposa e deixando seus pensamentos serem preenchidos por vários momentos com Mary.

Sentiu saudade ao se lembrar de como apreciava estar na companhia dela desde que a conhecera e lamentou o fato da filha ter tido tão pouco tempo de convivência com a mãe. Eram quase seis da tarde quando ele precisou deixar suas memórias de lado e acordar a amiga.

Por estar constantemente em contato com a equipe médica que cuidava de Audrey, John saiba que Sophie Willows queria começar com a alimentação dela, e poucos minutos depois de ter despertado a amiga, uma enfermeira da equipe da cozinha trouxe a pequena tigela com um creme levemente espesso.

— O senhor tem certeza? — perguntou a mulher quando John informou que ele mesmo se encarregaria de alimentá-la.

— Sim — o médico sorriu. — Conversei com o fonoaudiólogo que acompanha o caso, e ele me disse que pela forma como ela está reagindo, eu mesmo posso fazer isso. Inclusive me deu algumas instruções.

Audrey acompanhava tudo em silêncio e apenas quando a enfermeira deixou o quarto ela se pronunciou.

— E qual é o motivo para eu mesma não poder fazer isso? — Ela afastou o rosto quando John chegou com a colher perto de sua boca.

— Mais de uma semana intubada e os movimentos imprecisos da sua mão esquerda por conta da cirurgia são suficientes?

Audrey ponderou.

— Razoáveis. — Ela sorriu. — Tão pouquinho? — reclamou a mulher olhando a colher quase vazia.

— Mais um motivo. — John sorriu. — Imagino que você esteja com fome, mas vai precisar ir com calma para não se engasgar.

Memórias AnônimasWhere stories live. Discover now