Capítulo 64 - Não foi sua culpa, Sherlock

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O fim da angústia veio com o despertar de Audrey Morgan em uma manhã serena. Sherlock Holmes estava de costas para a cama, olhando a paisagem do lado de fora, quando ela abriu os olhos e sorriu aliviada contemplando a silhueta do amigo.

Enquanto sua visão se acostumava com a claridade, Audrey lembrou de quando o conheceu. O olhar fixo e semblante impaciente dele enquanto John Watson cuidava do corte em sua testa. Havia sido bastante assustador, mas eram apenas lembranças distantes agora.

— Sherlock — chamou ela estranhando a forma extremamente rouca que sua voz saiu.

— Audrey! — O homem se virou de frente para ela com um enorme sorriso iluminando o rosto.

— Oi... — Ela sorriu ainda com muita dificuldade para falar.

Sherlock estava com os olhos cheios de lágrimas quando se aproximou da cama e segurou a mão esquerda da amiga recebendo um fraco aperto em retorno.

— Você voltou! — Ele se abaixou e beijou delicadamente a testa dela. — Bem-vinda de volta.

— Onde eu estou? O que aconteceu? — Audrey se esforçou para segurar a vontade de tossir.

A mulher percebeu um tubo fino entrando por uma de suas narinas e descendo por sua garganta e sentiu um pouco de náusea.

— Você está em um hospital se recuperando do tiro que levou — respondeu ele recompondo a postura. — Se lembra de alguma coisa de quando atiraram em você?

Audrey pensou por alguns instantes antes de responder.

— Não, — negou apenas gesticulando com os lábios poupando a voz.

— Tudo bem. Foi um momento traumático, não era mesmo para formar memórias. — Sherlock a tranquilizou. — Não se preocupe com nada. Ordem do seu irmão mais velho.

Ela sorriu feliz por ele ainda se lembrar daquilo.

Uma jovem enfermeira entrou no quarto para fazer a primeira checagem do dia e ficou surpresa por encontrar Audrey de olhos abertos.

— Bom dia! — Exclamou a mulher. — Que bom te ver assim!

Sherlock e Audrey sorriram para ela.

— Como você está se sentindo?

— Bem, — Audrey sussurrou. — Mas minha garganta dói um pouco pra falar. — A frase mais longa fez com que ela não conseguisse conter a vontade de tossir.

— É normal por conta dos dias que você passou intubada. — A enfermeira sorriu. — Quando a doutora Willows chegar, eu vou passar a informação e provavelmente ela vai te receitar algo para ajudar a melhorar mais rápido, mas por enquanto, tente não falar muito.

Audrey concordou com um aceno de cabeça.

— Seu namorado ficou praticamente o tempo todo aqui — comentou ela lançando um olhar para Sherlock antes de começar a conferir os aparelhos.

— Não é meu namorado, — sussurrou ela sentindo suas bochechas ardendo por conta do comentário. — É meu irmão — acrescentou demonstrando para Sherlock o quanto ainda estava confortável em continuar com aquela brincadeira. — O melhor que alguém poderia desejar. — Audrey sorriu olhando para ele que retribuiu o gesto.

— Queria eu que meus irmãos fossem tão dedicados — lamentou a enfermeira sorrindo para os dois. Ela não achou que fossem realmente parentes, mas não fez mais nenhum comentário. — Vou precisar colher uma amostra de urina e de sangue.

Audrey concordou com um aceno de cabeça e um sorriso tímido.

Em silêncio ela levantou uma parte da coberta sobre as pernas da mulher abaixo do joelho expondo a bolsa coletora de urina presa na lateral da cama. Audrey se sentiu desconfortável ao perceber onde aquele tubo fino estava inserido.

Memórias AnônimasWhere stories live. Discover now