Capítulo 66 - Temor Latente

95 10 15
                                    

John Watson passou para o lado esquerdo da cama de Audrey Morgan enquanto a enfermeira organizava sobre um carrinho do lado direto do leito, o material que utilizaria no primeiro procedimento.

— O que deu no Sherlock? — perguntou ela sem entender a insistência dele em ficar ali.

John sorriu compreensivo antes de responder.

— Ele tem se culpado pelo que aconteceu com você e quer vigiar de perto para ter a certeza que você realmente vai ficar bem.

— Sim, ele já me disse essa bobagem. — Audrey lembrou que precisava retomar aquele assunto, pois Sherlock havia interrompido a conversa. — O que me intriga é por que ele se importa tanto comigo. Na verdade, todos vocês... A gente se conhece há tão pouco tempo... — Ela parou de falar quando sentiu que não suportaria mais a dor na garganta.

John ficou sem palavras. Ele não sabia o que responder, e nem tinha parado para pensar na forma como haviam simpatizado por Audrey. Mas ele não deixou de sentir um aperto no peito, pois havia nas palavras dela a incompreensão do motivo para alguém a realmente se importar com ela.

O psiquiatra havia falado sobre traumas profundos que deixavam sequelas difíceis de apagar e John tinha medo de imaginar o que poderia ter acontecido para deixá-la assim.

— Está na hora de livrar você dessas coisinhas — anunciou a enfermeira pronta para começar. — Meu nome é Florence Haynes, — se apresentou. — Já faz uns dias que eu tenho cuidado de você, mas ainda não tinha tido a oportunidade de me apresentar.

Audrey tentou sorrir, mas uma sensação desagradável a fez agarrar o cobertor por baixo de sua mão esquerda ao invés disso. John percebeu e a fez soltar o tecido segurando sua mão com carinho.

— Pode ficar tranquila, meu anjo — disse a mulher esfregando as mãos com álcool em gel. — Nenhum dos procedimentos é doloroso. — Ela desativou a máquina de monitoramento cardíaco antes de calçar um par de luvas. — Com licença.

Com a mão por baixo da bata que Audrey usava, a enfermeira retirou os adesivos conectados aos fios que monitoravam seu coração e depois tirou o oxímetro do seu indicador direito. Audrey temeu pelo que ainda estava por vir, já incomodada com o toque da enfermeira.

— Agora vou tirar esse esparadrapo que está fixando a sonda nasogástrica no seu rosto, lavar ela com um pouco de soro e puxar para fora — explicou a mulher. — Não vai doer, mas se sentir algum incômodo, pode reclamar. Depois só vou precisar checar se está tudo certo e higienizar seu nariz e sua boca.

Ela mais uma vez olhou para John ao seu lado que continuava com uma expressão tranquila.

A enfermeira colocou uma toalha sobre o tórax de Audrey e elevou um pouco mais a cabeceira da cama até que ela estivesse praticamente sentada.

Enquanto sentia seu corpo sendo movido sem seu controle, ela apertou a mão de John com um pouco mais de força.

O próximo passo foi lavar o tubo da sonda com uma seringa contendo água filtrada, para depois remover o esparadrapo que o fixava abaixo da narina da paciente e poder enfim retirá-lo como Florence disse que faria.

— Agora eu preciso que você respire fundo e segure o ar enquanto eu puxo — instruiu ela.

Com uma gaze, a enfermeira puxou o tubo da sonda lentamente até retirá-lo por completo. John continuou segurando a mão de Audrey durante o processo e percebeu, junto com a enfermeira, quando ela começou a sentir náuseas assim que o tubo foi retirado.

Florence pegou uma pequena bacia e colocou na frente dela pouco antes da mulher vomitar. A impressão que Audrey teve foi que cacos de vidro haviam passado por sua garganta.

Memórias AnônimasWhere stories live. Discover now