Seis meses.

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O relógio marcava três e dezenove da manhã quando Uraraka acordou de sobressalto, suando e ofegante. Ela tentou se acalmar respirando fundo, rolando para longe de seu namorado na cama e se desfazendo das cobertas. Sentada na beirada da cama, ela esfregou os olhos com força, controlando sua respiração.

Mais uma noite de sono dela tinha sido atrapalhada por aquele mesmo pesadelo.

Ochako olhou rapidamente para Jay, ressonando tranquilamente na cama atrás dela, tão alheio às suas inquietações quanto era possível. Deixou o quarto na ponta dos pés, tomando cuidado para não acordá-lo com barulhos.

Os ladrilhos gelados da cozinha fizeram ela se arrepiar de frio. Mas Uraraka não quis voltar para cama, se serviu de um copo de água e se sentou no sofá da sala, totalmente no escuro.

A água ajudou ela a se acalmar, mas a agitação que aquele pesadelo lhe trouxe não a deixaria tão cedo. Ela ainda conseguia ver, os fios vermelhos que compunham o pesadelo, o rosto de Katsuki, tão real e assustador ao mesmo tempo.

O sonho sempre começava da mesma maneira; ela estava sozinha no escuro. Nenhum som, nada para ser visto a quilômetros de um breu total. Quando ela tentava se mexer, percebia que estava presa pelos pés e pelas mãos, fios vermelhos brilhantes amarrados em suas extremidades, tão firmes que chegavam a machucar sua pele.

Ela tentava inutilmente se libertar, se debatendo. Seu desespero logo se transformava em lágrimas e ela gritava em agonia.

No meio daquela angústia, Uraraka reparava em uma figura a distância, se aproximando devagar, Bakugou surgia diante dela, em passos preguiçosos. Sua imagem no meio da escuridão era quase divina, Ochako era capaz de contemplar cada traço de seu rosto com perfeição.

Katsuki surgia no meio daquela escuridão como um anjo da morte.

— Katsuki, me ajude! — Ela pediu em prantos.

Com as mãos nos bolsos, ele se abaixava diante dela. Uraraka conseguia ver em suas íris vermelhas o mais puro desgosto, superioridade escancarada.

— Katsuki, por favor — Ela implorava mais uma vez.

Mas os olhos dele continuavam impassíveis, e um sorriso cruel surgia em seus lábios.

— Não adianta, Ochako, esses fios nunca vão arrebentar, você não pode fugir do destino.

E então ela acordava.

Uraraka já tinha tido pesadelos muito mais terríveis e viscerais durante sua vida, mas aquele era o que mais a deixava aterrorizada. Desde a primeira vez que tinha sonhado com aquilo, teve uma interpretação: Estava fodida.

Ainda apaixonada por Bakugou, ainda fodidamente apaixonada por ele. Jay era legal, Jay era seu namorado, mas seu coração amargo só queria aquele que a repudiava agora. Alguém que ela não poderia mais ter, alguém que provavelmente deixaria seu coração apodrecer caso o recebesse nas mãos.

Bakugou habitava em seus sonhos e em seus pensamentos. Era o rei do seu subconsciente, sempre escondido dentro de sua mente, pronto para atacá-la, deixando-a frustrada de tanta paixão não correspondida.

Ela engoliu a seco, seus olhos ficaram marejados.

Ah, Katsuki...

﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏

Uraraka tinha milhares de expectativas a respeito de sua nova vida, e com um olhar otimista, boa parte delas foi atendida. Como ela sonhou, sua carreira estava indo muito bem, seu apartamento era ótimo, os vizinhos eram gentis, os colegas de serviço eram simpáticos e acolhedores e seu salário era melhor do que ela esperava.

Akai itoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora