Um jornal e segredos revelados

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Retorna aquele-que-não-deve-ser-nomeado

"Em breve declaração na sexta-feira, o ministro da Magia Cornélio Fugde, confirmou que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado retornou ao país e já começou a agir. A declaração do ministro foi recebida com consternação e grande sobressalto pela comunidade bruxa, que ainda na quarta-feira recebia garantias do ministério de que não havia "fundamento algum nos persistentes boatos de que Você-sabe-quem estivesse mais uma vez agindo entre nós".

Os detalhes do acontecimento que provocaram essa reviravolta ministerial ainda são nebulosos, embora se acredite que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado e um seleto grupo de seguidores (conhecidos como Comensais da Morte) conseguiram entrar no próprio Ministério da Magia na noite de quinta-feira..."

Sua visão entorpeceu enquanto sentia as mãos começarem a tremer, ainda sentada no salão principal naquela manhã de sábado. Escutando a conversa baixa de Mika e Celina, assim como todo o burburinho nas outras mesas do café-da-manha, não acreditava no que estava vendo. Não tinha coragem para baixar o jornal que já se curvava em seus dedos, com suas páginas amassadas, para olhar os olhos claros tão parecidos com os seus, do outro lado do salão.

Na noite anterior, conseguiu conversar por alguns minutos sozinha com Hermione, até sua ruiva amiga as interromper com um ponto de interrogação gigante traduzido em sua expressão de surpresa, por ver a melhor amiga despedir-se de um Sonserina com um abraço apertado e, admitiu a si mesma, muito simbólico. Já no dormitório, sorriu em vitória para suas melhores amigas, comemorando o bem-estar dos Grifinórios com grande alívio, servindo-se de bombons com licor. Apenas antes de deitar em sua cama, já sentindo falta do corpo quente da namorada em seu banho longo, deixou uma lágrima solitária escapar e sumir entre as bolhas da banheira quente. O medo quase gritou em seu coração mas não permitiu que ele pudesse se revelar.

Não até aquele presente momento. Não até aquela manhã. Não até ver a marca na mão de um dos Comensais da Morte na foto que se movia rapidamente, deixando apenas vultos se dissipando a sua frente, em preto e branco.

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- Sua namorada está bem concentrada naquele jornal, hein, Mione? - Revirou os olhos antes de voltar-se o olhar para Gina, que havia sussurrado em sua orelha aquela frase com, imaginou que seria, duplo sentido. - Ela parece abalada...

- Gina, quer ficar quieta e parar de chamá-la assim... Alguém pode ouvir. - Tentava não mexer tanto os lábios enquanto sussurrava de volta para a amiga, que com um suspiro anasalado, endireitou-se na mesa para o café-da-manhã. - Você por acaso falou com a Cece? Ela parece...

- Abalada? - Revirou os olhos novamente e pegou a mão de Gina sobre a mesa, deixando suas mãos entrelaçadas por cima do banco.

- Gina, eu confio em você todos os meus segredos e pensamentos mais absurdos, ok? Você é minha melhor amiga e eu nunca nem tive uma amiga mulher. Então quer, por favor, para com isso. Sei que se preocupa com meu bem-estar e ainda tem receio por ela mas... eu sinto, tá bem? Apenas sei que ela é boa.

Seus olhos estavam grudados nos olhos tão castanhos quanto os seus. A ruiva nem piscava enquanto parecia ler sua alma e, alisando a pele macia de sua mão com o dedão, suspirou e Hermione pode sentir seu hálito de geleia de mirtilo. Viu os olhos fecharem e encarou aqueles grandes cílios, tão claros e pesados que, quando viu os castanhos novamente, sabia que a amiga confiaria em qualquer decisão de Hermione.

- Cece ficou com algumas amigas da Parkinson ontem, nas escadas perto do salão. Estavam jogando snap explosivo mas a pequena não parecia se divertir. Acho que Parkinson...

- Ela nos ajudou tanto, Gina. Foi ela que soltou o Groupe. - Vendo a surpresa invadir os olhos da amiga, completou o aperto de mão antes de soltar a mão quente que ainda a acariciava. - Na verdade ela pediu para que as amigas o soltassem. Estava ocupada vigiando vocês na sala da Umbrigde.

- Quem diria, hein. Parkinson.

Sorriu quando a expressão amigável de Gina, voltou-se para a mesa da Sonserina naquele grande salão e permitiu-se fazer a mesma coisa, deixando a coluna reta para assim, virar o rosto para aquela que a muito já fazia falta em suas noites de sono leve. Permitiu-se imaginar a expressão preocupada por trás do jornal que a mesma estava lendo mas surpreendeu-se com as lágrimas em seus olhos, quando as mãos trêmulas deixando o jornal por cima do prato vazio, naquela mesa grande demais para um ser tão delicado como ela.

Os olhos perdidos pareciam encarar sua mesa mas sabia que procurava pelos olhos parecidos com os próprios. Viu pela visão periférica que a pequena Parkinson levantava da mesa com a cabeça baixa e, ouvindo os passos da mesma, observou Pansy acompanhá-la com os olhos para, em seguida, encarar os seus.

- Vai até lá. - Sem realmente falar, apenas sussurrando minimamente para a companheira que, sem dúvida a entendeu, pois balançou a cabeça discretamente enquanto levantava da própria mesa para seguir a irmã caçula.

- O que você acha que os meninos vão dizer. Já pensou nisso? - Percebeu que o tom da ruiva ao seu lado era apenas de curiosidade e não de julgamento. Observou Rony ler o jornal enquanto devorava um pedaço generoso de torta de maçã e suspirou, imaginando sua reação e a do garoto que era como seu próprio irmão enquanto o mesmo, sabia ela, estava ainda no escritório do diretor Dumbledore.

- Não faço ideia, Gina. Você foi bem compreensiva, afinal.

- Não, Hermione. Acho que ainda estou em estado de choque, sabe? - Sorriu para a amiga que a lançava um olhar debochado como pergunta. - Bom, você sabe dos meus sentimentos por alguém teoricamente proibido, mesmo eu não dando a mínima para a ética de irmãos. - Riu suavemente vendo a garota fazendo aspas com os dedos compridos enquanto apontava discretamente a cabeça para o ruivo a frente. - Então eu sei, mais ou menos, como se sente. Admito que desde que você falou que sentiu uma leve atração por ela, desde que começaram aquelas rondas noturnas, eu pensei em como você teve coragem em somente pensar em tal coisa mas... percebi o quão isso aproximou vocês. - Seu olhar era intenso e novamente, sentiu a amiga ler sua alma e traduzir seus pensamentos, fazendo-a enrubescer. - Mas percebi uma leve mudança, ao longo das semanas, no comportamento da sua... - Viu o sorriso da amiga tomar-lhe conta do rosto todo. - Daquela-que-não-deve-ser-nomeada, afinal.

Riu com vontade, sentindo seu corpo mais leve naquela manhã, com aquela piada de humor negro e muito corajosa de sua amiga, deixando um tapa leve em seu braço, atraindo a atenção do amigo a sua frente. Sentiu o rosto vermelho mas sorriu seu melhor sorriso para o rapaz, que sorriu levemente de volta.

- Que bom que estão conversando e rindo um pouco. Sei que tudo isso nos fez ficar pesados e... bem, acho legal. - Suspirou, compreendendo o que o amigo quis dizer. Viu Gina sorrir para o irmão também, que voltou logo a ler o jornal e beber alguns goles de suco gelado. Piscou algumas vezes com a visão de um Ronald totalmente amadurecido, entendendo seus sentimentos pela Sonserina que havia roubado seu coração completamente porém, a visão de um ruivo destruindo o quarto de raiva por ser o último a saber de tudo também invadiu seus pensamentos, logo em seguida. Sentindo o coração pesar e um nó na garganta se formar, ouviu a voz suave e triste de Harry, que se sentava a sua frente, servindo-se de um pouco de torradas com geleia de mirtilo.

- Parece que eu voltei a ser "o-menino-que-sobreviveu" novamente, afinal, hein?

- Veja pelo lado bom, Harry. Você não é mais um exibicionista deliberante, né?

E sorriu para os leves sorrisos trocados de Harry e Gina, apertando a perna da amiga ao seu lado em segredo, sabendo que, mesmo com mais uma morte, eles iriam superar todo esse mal ao redor afinal, Sirius deixara um legado rebelde para sua família. 

C.A.O.S.: Carnalmente Apaixonada, Operação Sonserina!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora