Capítulo 4

128 12 4
                                    

"Isso não foi um pedido, Herrera." -eu sentia falta daquele sorriso todos os segundos em que estávamos longe um do outro- "Você toma seu banho e, cama."

"Senhor, sim senhor." -era bom ver que apesar de tudo, eu ainda tinha minha amiga.

----------

POV Andy

Robert havia insistido para que eu dormisse na nossa cama. Eu me conhecia bem o suficiente para saber que isso não daria muito certo. Faria algo que atrapalharia o programa de sobriedade. Então no final eu acabei ficando no quarto de hóspedes. Fiquei deitada olhando para o teto por incontáveis horas.

Estar aqui...em casa, deveria me fazer dormir ou pelo menos enganar meu cérebro para que achasse que eu estivesse menos cansada. Precisava ir pra casa antes que ele acordasse. Não queria lidar com esse assunto ou o da noite passada. Não antes de um café. Levantei da cama, peguei meus sapatos, minha bolsa e saí do quarto.

"Eu não imaginei que você fosse do tipo que sai de fininho, Herrera." -Robert falou me assustando assim que cheguei na sala.

"Eu não estou saindo de fininho. Afinal eu moro aqui...ou morava. Isso não importa agora, eu preciso ir pra casa. O meu turno começa em 1 hora. Obrigada pela carona." -caminhei em direção a porta.

"Fica. Você precisa de uma folga. Até porque pra liderar a equipe, você precisa estar 100% e eu posso ver nitidamente que você não está."

"Robert, sério? Você não precisa me dizer se estou bem pra fazer meu trabalho ou não, eu posso ver isso sozinha."

"Entrei em contato com o chefe. Disse a ele que você vai tirar o dia de folga para pôr a mente no lugar. Ele vai mandar um substituto." -Fiquei incrédula quando Robert disse que entrou em contato com o chefe. Ele quer saber mais que eu. Suspirei fundo tentando não me descontrolar.

"Robert Sullivan. Eu não acredito que você fez isso. Eu sou bem grandinha. Conheço meus limites. Sei a hora de parar." -disse tentando manter a calma- "Nosso trabalho é perigoso. Eu jamais colocaria as pessoas em situações complicadas por conta de falta de descanso meu." -disse a ele. Mas será mesmo que eu sabia meus limites? Eu disse isso tentando acreditar mais que ele.

"Será que você sabe mesmo a hora de parar?" -Robert perguntou levantando uma sobrancelha- "Andy, eu vejo como você tem agido, eu vejo como você tem estado, eu observo cada passo seu na estação e não concordo com você estar no comando de algo tão importante quando sabe que não está apta a fazer isso. Como vai cuidar dos outros, sendo que não está sabendo nem cuidar de você?"

"O que foi que você disse? Acha que eu comecei nesse trabalho agora? Acha que eu sequer pensaria em colocar a vida de qualquer um naquela estação em risco?" -eu tinha chegado ao meu limite sobre esse assunto- "Você precisa parar agora com essa proteção que você tem comigo, eu não quero e não preciso dela, não no meu trabalho. Eu preciso que seja um bombeiro que siga ordens e questione quando elas forem contra os protocolos. E mais do que tudo preciso que o meu marido saiba separar as coisas. Aprenda a dar ouvido as pessoas, ou talvez só precise aprender a dar ouvidos a mim mesmo." -saí batendo a porta com toda força que pude.

POV Robert

Talvez o que eu tenha dito tenha magoado ela mais do que eu achei que faria, mas eu não estava errado, então talvez isso me desse um pouco de alívio. Uma hora ou outra ela perceberia que eu estava certo.

Decidi ir pra estação, já que meu turno estava prestes a começar.
Antes de parar na estação, passei em uma cafeteria que tinha perto de nossa casa e gostávamos bastante. Pedi um café pra mim e outro pra Andy. Isso deveria mantê-la mais acordada. Quando cheguei à estação, ela já havia chegado então fui direto pra sala dela e entreguei o café para ela.

Eu e Ben estávamos no carro de socorro e recebemos um chamado de que uma mulher havia passado mal na rua. Andy decidiu se juntar a nós, já que estava entediada do dia tranquilo que estávamos tendo.

Chegando ao local do chamado, fomos informados que a paciente tinha um tumor e que não tinha condições de fazer o tratamento necessário pra curar o tumor.

"Sullivan e Warren, tragam a maca e a bolsa de equipamentos necessários. Precisamos ser rápidos ou ela não terá muita sorte."

"Sim, capitã" -eu e Warren dissemos em uníssono concordando e imediatamente fomos buscar o que ela pediu.

Agindo pela emoção e sem calcular muito bem os riscos, Andy decidiu medicar a paciente com anticoagulante.

"Capitã, não acho que seja uma boa ideia" -Warren tentou alertar, mas ela não deu ouvidos.

"Concordo com o Warren. Não acho que seja uma boa ideia. Não sabemos com que tipo de tumor estamos lidando. Qualquer remédio que ela não seja compatível, pode ser fatal. Melhor deixar que os médicos dê os medicamentos necessários, quando chegar ao hospital, até porque não queremos que ela morra por um erro nosso." -tentei reforçar o que Warren havia dito, mas sem sucesso.

"Dê o anticoagulante a ela. Ordens do Capitão. Eu sou a superior de vocês. Espero que não questionem mais as minhas decisões."

Dito isso, fizemos o que ela pediu. Mesmo sabendo que era muito perigoso.
Pra nosso azar, percebemos que algo havia dado errado. A paciente era intolerante ao medicamento.

"Capitã, precisamos correr para o hospital, pois o remédio que você receitou está matando a paciente." -disse levantando minha sobrancelha pra Andy.

Por sorte, conseguimos manter a paciente viva até chegar ao hospital. Acho que ela tinha se dado conta de que deveria ter dado ouvidos a mim e a Warren.

Agindo pela raiva por ela não ter escutado nem a mim e nem a Ben, fui falar com ela.

"Andy, eu te avisei. Por orgulho seu, você quase matou aquela mulher." -enquanto eu falava, Andy ficou parada olhando para um ponto específico na parede do carro de socorro sem falar nada- "Você tem que ser menos egoísta. Quando nós questionamos as suas decisões, não é pra te prejudicar e nem pra tomar seu lugar. É pra tentar ao máximo fazer com que situações como essas sejam evitadas. Você não pode continuar agindo por impulso porque da próxima vez a gente pode não ter tanta sorte."

POV Andy

Você já sentiu o tempo parar? Correr mais devagar? É apavorante...você sente que fez algo muito errado, que alguém vai lidar com as consequências do seu erro. Eu soube que estava acontecendo quando o som do monitor simplesmente sumiu dos meus ouvidos. Tudo ficou mudo e eu travei completamente. Se estivesse sozinha ali, aquela mulher com certeza teria morrido.

Tudo que Robert disse era verdade...eu podia ter matado aquela mulher por uma atitude imbecil. A maca passou pelas portas da emergência e senti o tempo voltar ao normal. O som vibrante de vozes, máquinas e passos explodiu meus tímpanos.

"Warren!" -chamei- "Volte para a estação e diga ao Jack para assumir o turno. Vou ficar aqui."

"Sim, capitã." -ouvi ele dizer algo só que não compreendi. Tudo ficou lento e silencioso novamente. Me sentei e esperei. Os ponteiros do meu relógio de pulso não andavam, eu estava presa naquele momento.

Para o resto do mundo tinha passado pois o mesmo residente que atendeu minha paciente entrou na sala de espera.

"Como ela está?" -ele relutou em me dizer por conta do protocolo de família, mas no fim acabou dizendo.

"Ela está bem, agora. Só que ela podia não ter tido tanta sorte. Precisam de um treinamento diferente para seus paramédicos." -dito isso ele sumiu da minha vista.

Eu precisava sair desse hospital e colocar minha cabeça no lugar.

-------//-------

Capítulo curto, eu sei... Mas espero que gostem!!
Beijoos 🤎

FireWhere stories live. Discover now