Capítulo 23

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"...Assim que eu enterrar meu pai eu deixo de ser uma bombeira. Obrigada pela atenção, chefe." -Andy acenou e saiu da sala e da estação, deixando Boden boquiaberto pois não esperava pela última declaração dela.

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Herrera era uma pessoa que qualquer chefe gostaria de ter no comando de uma estação. Se possível, que todos os capitães fossem tão competentes quanto ela. Boden sabia que perdê-la seria um grande desfalque na corporação e não perdeu tempo em recorrer a Sullivan.- "Olá, Sullivan." -antes que Robert pudesse responder às suas cordialidades, ele continuou- "estou te ligando porque sua esposa acabou de sair daqui da estação dizendo que que vai se demitir. Inclusive já até me enviou a carta de demissão. Espero que você possa fazer alguma coisa."

"Uau... fui pego de surpresa. Não esperava por isso, mas creio que possa dar um jeito. Obrigado, chefe. Passar bem." -Robert sabia que tudo estava sendo demais para ela, mas pedir demissão era demais. A estação era a casa dela, lugar que ela foi criada por seu pai. Lá, ela fez laços familiares incríveis. Nunca passou na cabeça de Robert que Andy algum dia iria desistir da estação. Pegou seu celular e ligou incontáveis vezes a Andy, até que na ligação que decidiu ser a última tentativa, ela atendeu- "Andy, onde você está? Recebi uma ligação do Chefe Boden dizendo que você enviou a ele sua carta de demissão. Como assim?"

"Estou indo pra casa, quando chegar aí a gente conversa." -Andy respondeu, olhando para o sinal que ainda estava fechado.

Assim que parou o carro em casa, viu Robert já esperando por ela- "Meu amor, o que houve?"

"Sabe... a estação sempre foi um lugar que quis estar, que eu quis pertencer..." -disse entrando em casa- "Lá sempre foi o lugar que eu me sentia em casa e me refugiava quando precisava, mas agora aquele lugar me trás tristeza. Sempre vai estar faltando algo." -ela olhou pra ele com olhos vidrados. Doía ter que abrir mão.

"Olha, Andy... eu sei que tem sido tudo demais pra você, sei que está sendo difícil processar tudo o que está acontecendo..." - ele tentava achar as palavras corretas, mas estava sendo mais difícil do que ele imaginou- "tudo que quero dizer é que estarei te apoiando com o que você precisar mas acho que você deve reconsiderar. Agora no início parece muito difícil lidar com tudo mas depois de um tempo, fica mais fácil. Então não estamos aceitando sua demissão... ainda não."

"Obrigada. Talvez isso seria tudo o que eu estava precisando ouvir agora."

"Você vai ter o tempo que precisar, ninguém aqui vai forçar você a voltar enquanto não estiver pronta..." -Robert se sentou ao lado de Andy no sofá segurando sua mão.

"Eu não sei se algum dia eu estarei pronta pra voltar para a estação e não ver ele lá. Eu sei que ele não trabalhava mais lá... só que ele sempre estava lá pra ver como a gente estava e na maioria das vezes a gente precisava" -Andy sorriu se lembrando de uma situação em particular- "Ele até ajudou o Dean a arranjar um encontro com uma garota que ele resgatou... Eu vou sentir falta dele a cada segundo da minha vida. Quando perdi minha mãe, eu tinha ele, ele sempre soube o que falar e fazer, mesmo que não fosse uma mulher. É claro que eu sentia falta da minha mãe só que ele era tudo que precisava. Eu tenho você comigo agora e eu acho que ele partiu em paz sabendo que eu tenho alguém pra cuidar de mim assim como ele cuidou. Obrigada." -Andy se aproximou e beijou Robert lentamente.

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Cinco dias se passaram desde que Andy e Robert conversaram sobre o futuro dela na estação... nove dias se passaram desde que Pruitt morreu. Nesses nove dias, tudo o que ela pôde fazer pra se sentir melhor, foi feito. Houve tempo de chorar, tempo de gritar, tempo de ficar em silêncio... tempo pra digerir tudo o que estava acontecendo.

Hoje era o dia do funeral. Ela não tinha um elogio fúnebre pronto. Tudo o que tentou escrever, parecia não ser suficiente pra descrever o quanto era grata por ter Pruitt como seu pai... o quão ele foi bom na sua criação.

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Na igreja, ela e Robert caminhavam de mãos dadas até a segunda fileira de assentos. De longe ela foi capaz de avistar toda sua equipe, ainda abalados, mas se mantendo firmes. Durante quase toda a cerimônia, ela esteve com a cabeça apoiada nos ombros de Robert, enquanto lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto e ele a abraçava. Colegas, amigos, bombeiros de quase toda cidade estavam presentes... nenhum sendo capaz de descrever a dor do adeus a Pruitt Herrera.

A hora do elogio... Robert caminhou com ela até o altar. Até o último instante ela não sabia o que falar... respirou fundo observando a multidão que agora tinha toda atenção voltada para ela- "Meu pai foi um grande herói... não só pra mim, mas creio que pra grande maioria aqui. Quando eu era criança, ele teve que enfrentar algumas decisões difíceis que seriam melhores pra mim. Ele estava sempre buscando fazer o seu melhor." -a espontaneidade que as palavras saíam de sua boca, eram mais sinceras do que se as tivesse escrito- " Ainda criança, perdi minha mãe e foi na 19 que ele criou uma família. Ele reuniu um pequeno grupo de pessoas e cada um sob seu teto eram seus filhos." -era cada vez mais difícil conter a emoção. Sua voz estava falha- "Ele foi um herói... mas além de tudo, ele foi meu pai... ele se foi por algo que ele fez a vida inteira... me salvar e ele fez tudo o que pôde pra me salvar uma última vez." -Robert estava de canto, perto dela a observando. Ele queria estar ali pra qualquer coisa - "Pai, onde quer que esteja, quero que saiba que fez um ótimo trabalho e eu sou tão orgulhosa de você. Obrigada." -era como se toda a energia que a mantinha de pé, fosse embora. Robert imediatamente correu para seu lado e a segurou num abraço. Eram tempos difíceis...

"Tudo bem querida. Eu estou aqui do seu lado se quiser continuar..." -Robert manteve um braço em volta da cintura de Andy para dar alguma estabilidade para a mesma.

"Eu... eu preciso terminar de falar..." -A essa altura e devido a situação, todos acharam que Andy estava somente emocionalmente abalada, só que havia algo mais acontecendo.

Robert notou que ela estava suando frio, suas mãos estavam trêmulas e suadas e inevitavelmente Andy fazia caretas de dor- "Eu acho que todos aqui vão entender caso não queira continuar. Preciso que diga pra mim o que está acontecendo. O que você está sentindo?"

"Uma dor muito forte na barriga..." -dessa vez a dor veio muito mais forte e Andy apertou a mão de Robert o mais forte que pôde- "Tem alguma coisa errada..." -a sequência de acontecimentos que houve a seguir foi muito rápida, porém não menos assustadora. Andy não conseguiu mais se manter sob as próprias pernas e caiu no chão, sua queda iminente só foi impedida por Robert. No fundo ela sabia que algo estava acontecendo com seu bebê. Andy sentia algo escorrendo pelas suas pernas- "Eu preciso que você preste atenção no que eu vou dizer pra você agora" -falava com Robert- "Eu estou sangrando... eu preciso que me leve para o hospital, sem fazer alarde" -o que seria meio impossível, visto que todos estavam prestando bastante atenção nos dois em cima do altar. Robert só processou a parte da frase que dizia que Andy precisava de um hospital. Ele pegou sua mulher delicadamente no colo e foi para o carro, colocou ela no banco e seguiram para a emergência.

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🙂

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