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Hugo 🃏

As vezes eu me pegava pensando que eu sabia de toda história da minha mãe direito, eu sabia todo o sofrimento, sabia que ela sempre batalhou por mim e hoje tudo o que eu faço é pra tentar honrar ela.

Eu sabia que, desde que eu nasci minha mãe não teve escolha, teve que ficar presa ao filha da puta do Carlos, passou oito anos assim. Pouco antes de eu completar nove anos ela conseguiu sair de lá até eu ver pela primeira vez ele batendo nela. 

Eu lembro como se fosse hoje, na minha frente tudo acontecendo. Eu senti medo, senti raiva, senti tristeza, apesar de naquele tempo ele não ser tão presente, era uma figura importante pra mim, eu admirava ele e tudo que eu mais queria era ele por perto, mesmo não conseguindo.

Eu lembro que depois desse dia, ele passou a ser mais presente, a gente viajou, passamos um mês incrível, porra... papo reto, aquele mês tinha sido o melhor da minha vida, meus pais juntos, meu pai sendo meu melhor amigo, puta que pariu!

E depois disso eu consigo lembrar da minha mãe feliz, da minha mãe todo dia trabalhando, saindo com a Brenda, sorrindo, dançando, brincando comigo, me levando pra lanchar, sendo a mulher mais feliz do mundo.

Mas teve um dia que eu comecei a olhar tudo diferente, o dia em que o Carlos entrou na nossa casa, vi o olhar da minha mãe, vi que toda felicidade foi embora quando ela olhava pra ele, vi minha mãe a ponto de surtar por uma simples presença.

Eu talvez era muito novo pra compreender tudo, mas hoje entendo. Quando ele machucou ela jogando aquela chave, eu vi que ela queria gritar, surtar e provavelmente brigar com ele, mas vi ela me olhando de canto de olho e simplesmente baixando a guarda.

Foi aí que eu passei a olhar tudo de outra forma, comecei a querer me afastar do Carlos, não me sentia mais bem com ele, comecei a querer ficar ao lado da minha mãe sempre que ele estava presente, eu estava começando a querer ele longe da gente. As vezes me culpo e penso, se não fosse eu, minha mãe poderia ter vivido uma vida feliz é incrível, se eu não tivesse chegado na minha vida, ela teria fugido e hoje estaria viva.

O que me machuca, o pensamento que me deixa triste e simplesmente me faz querer largar de mão de tudo e desistir fácil. Todos os dias eu penso nisso, me apego fácil as coisas da vida pra me distrair, porque eu sei que se por algum minuto eu parar de me importar com algo, eu não vou hesitar em tirar minha vida.

Mas o que mais me apega é saber que eu nunca vou fazer isso sem antes tirar a vida do Carlos, eu quero que ele sinta tudo o que eu senti e eu sei tão bem como fazer isso, eu tenho chance, eu tenho oportunidade e vontade, mas ao mesmo tempo, algo diz que seria meu pior pesadelo.

Eu vi minha mãe morrer, vi quem puxou o gatilho, porém não vi motivos.

Vi na verdade duas vidas sendo tiradas de mim, porque além de tudo eu tinha o Lele como um tio, alguém que eu amava e perder duas pessoas, injustamente, aumentava meu ódio cada dia mais!

Porém nada ia passar batido, podia demorar. mas quanto mais os dias se passavam, mais ódio eu sentia e uma hora eu ia pegar ele, cara a cara, não digo de homem pra homem porque um homem ele nunca foi, mas que um dia eu vou ter o prazer de ver ele morrer, eu vou ter e sentir toda felicidade por isso.

Cria do morro Onde as histórias ganham vida. Descobre agora