three. hunting monsters

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Ele soube antes mesmo de abrir a porta que ela estava ali. E aquela certeza em seu peito só se intensificou quando a viu através da pequena fresta que abriu na porta. Deitada no piso gelado, joelhos encostados em seu peito e mãos entrelaçadas embaixo de sua cabeça, impedindo que seu rosto banhado pelas labaredas do fogo encostasse no chão. Os olhos verde-prata se mantinham nas chamas, ouvindo o crepitar das chamas contra a madeira, consumindo e consumindo tudo que havia na lareira.

Rhysand soltou ar pela boca, e Demetria levantou a cabeça, os olhos vagaram pelo cômodo até encontrá-lo, ainda fora do quarto, vestindo uma simples camisa preta e calças escuras, cheirando a ela. Os olhos violetas se mantiveram na fêmea, uma de suas mãos ainda segurando a maçaneta da porta e considerando desaparecer na noite, apenas para não poder encará-la naquela noite, não poder ver seu reflexo em seus olhos verdes.

A grã-feérica se levantou, lenta e cuidadosa, dando passos cambaleantes em sua direção, puxando o fino lençol para que continuasse a cobrir seu corpo afetado pela magreza e pelas agressões de cinquenta anos.

Cinquenta anos como exemplo da crueldade de Amarantha. Cinquenta anos como vadia de Amarantha.

Rhysand acreditava fielmente que nem mesmo a Mãe conseguia entender como ainda estavam aguentando com todas as torturas, todos os abusos, mesmo estando quebrados por dentro. Mesmo que, às vezes, Rhysand acordasse, pensando que talvez a morte fosse melhor do que continuar ali. Assistindo Demetria se desfazendo a cada golpe que recebia, a cada membro quebrado e a cada olhar que lançava para o seu reflexo em qualquer superfície, enxergando nada além de uma sombra do que, um dia, foi.  Enxergando uma alma que sobrevivia todos os dias pelo desejo de vingança, que aguentava cada abuso pelo desejo de finalmente ver Amarantha cair pelo que fez consigo. Pelo que causou não só a Lionel, mas sim, por seu parceiro. Por Prythian inteira.

Oi” Ronronou a fêmea, quando finalmente chegou a porta. Rhysand piscou os olhos, saindo de seus pensamentos e encarando aquelas orbes que tanto amava, mas que revelavam o vazio que surgiu dentro de Demetria. E ele não aguentava mais ver o que Amarantha tinha feito nela, não conseguia mais encarar o fato que Demetria não era mais aquela fêmea que havia tomado uma corte inteira debaixo de seu nariz, que havia o encantado com sua audácia e inteligência desenfreada.

Oi” Murmurou em resposta. Dor passou pelos olhos esverdeados ao ouvir sua voz pronunciar aquela pequena palavra em um tom tão quebrado. Os dedos magros encontraram a pele pálida do Grão-Senhor, o nó do dedo indicador da fêmea deslizando desde o início da sua tez até a ponta do nariz levemente empinado.

Sinto muito” Rhysand balançou a cabeça, não havia nada para lamentar. Ela não havia feito nada, na verdade, Demetria estava ali, esperando ele após aquelas malditas noites. Pronta para confortá-lo desde a primeira vez que o macho havia invadido sua cela nos andares mais baixos daquele palácio entalhado na pedra da montanha, sentindo tanto nojo de si mesmo que nem ao menos permitiu que Demetria segurasse seus ombros quando tombou, caindo no chão e vomitando tudo que havia instalado em seu estômago, ao mesmo tempo que implorava pelo perdão dela. Implorava para que ela não o deixasse em palavras confusas que, às vezes, Rhysand acreditava que a fêmea nunca soube exatamente o que foi dito naquela noite. E isso ocorreu cinquenta anos atrás, poucos dias após encontrar Demetria limpando os corredores com inúmeros cortes espalhados por suas mãos, o sangue dela jorrava dos cortes ainda não cicatrizados e sujava o pano que utilizava para esfregar os pisos.

Corte dos PesadelosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang