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Logo pela primeira vez que a vi, soube que minha vida se tornaria um inferno...

Ela estava deslumbrante em seu vestido preto, o preto valorizava seus traços delicados, sua cintura fina, seus pulsos finos, seu rosto pequeno, seus cachos loiros e pele pálida, tudo parecia se destacar, principalmente seus olhos azuis sem vida e o batom vermelho em seus lábios carnudos. Ela estava perfeita, tenho certeza que pelo menos a metade das pessoas ali presente estavam olhando pra ela, admirando sua beleza.

Eu tinha certa razão por estar brava, como ela ousava chamar tanta atenção no velório de meu amado pai? Como ELES ousavam olha-la e deseja-la em frente minha pobre mãe? Era desrespeitoso, mais ela não tinha culpa por chamar tanta atenção pelo simples fato de estar ali.

Minha mãe parecia não ter percebido os olhares, pois estava cega, se afogando no oceano escuro de suas próprias lágrimas, porque ela não queria me contar oque havia acontecido de fato? Minha própria mãe não confiava em mim? Não queria partilhar sua tristeza comigo? Pois eu também estava sofrendo, porém não me permiti derramar uma única lágrima.

Tudo mudou depois desse dia, não só pela perca de meu pai, quem dera fosse, como uma fera faminta e solitária, aquela bela moça se aproximou de minha mãe, e desde então, se instalou em minha vida.

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Minha mãe respira fundo, exausta, após perceber os olhares trocados sobre mesa de jantar, Talita me encara infeliz, enquanto finjo não notar, e continuo brincando com a comida.

-Helena, minha querida, a algo errado com sua comida?

Minha mãe tenta interromper gentilmente o clima criado por Talita e eu enquanto corta seu bife.

⎯ Não mamãe, apenas estou sem fome.

Sorrio.

⎯ Já basta. - Talita se levanta da mesa bruscamente e me olha. ⎯ Quantas crianças da sua idade, não estão passando fome agora? Acha que apenas as vitaminas vão ser o suficiente pra que tenha forças para voltar ao tratamento?

⎯ Não importa, nessa cidadezinha nem teria como eu continuar o tratamento de qualquer forma mesmo.

⎯ Cidadezinha? É bom ser mais respeitosa com minha cidade.

⎯ Por favor... Parem...- Minha mãe suspira tentando manter a calma.⎯ Helly, meu bem, sabe muito bem que viemos pra cá a procura de um novo recomeço, e Talita, não se preocupe, quando ela tiver fome terá de comer.

⎯ Que seja, que ela apenas não cutuque a comida com tamanho desinteresse então, até porque é desrespeitoso, ela já tem 16 anos.

Minha mãe me olha e sorri, reviro os olhos e concordo.

⎯ Posso pelo menos ir lá pra fora....?

-Meu bem...

⎯ Deixa ela Mariana, assim não terei que olhar pra essa cara de bunda enquanto como.

Satisfeita coloco as mãos nas rodas da cadeira e me direciono a porta principal.

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Agora que estamos longe da bela dama, vamos falar de nossa triste atualidade, que infelizmente, envolvem-na mais do que eu gostaria.

Durante o velório, minha mãe acabou conhecendo Talita, que estava acompanhando alguém. Por acaso ambas estavam prestes a perder seus bens para o estado, devido a serem mulheres e solteiras, não tinham o direito de ter tantas posses, deveriam se dirigir novamente a suas famílias onde seus respectivos pais ou a família de seus falecidos esposos deveria administrar o dinheiro, graças a coincidência ou ao destino, acabaram se tornando amigas, e se casando.

Sim, se casando, isso é mais verdade do que eu gostaria que fosse. Isso obviamente não é permitido, se não fosse uma união meramente burocrática ambas estariam na fogueira, portanto muitos desprezam e não reconhecem o matrimónio, porém não a nada que o dinheiro e um belo par de peitos não comprem, sendo assim essa união instável será julgada como valida ou não no tribunal.

E assim, o desespero e o luto formaram uma bela união.

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