13 - Parte II

145 29 69
                                    

Lágrimas não transbordaram,
palavras não foram pronunciadas
Demônios que há muito não falavam
Em tudo que existe você
é demais para lidar
essa hora da madrugada.

- Libeel.

  Liana resolveu que cumpriria o que ela havia deixado claro para Miranda, não iria insistir até que ela pedisse por isso ou deixasse claro que a queria por perto. Por outro lado, Miranda ficou sem reação quando finalmente criou coragem para ler a carta de Liana. Ela pensou que, era bom o fato de que Liana esperasse, pois ela não tinha ideia do que fazer naquele momento.

  Decorreu-se pouco menos de um mês e Miranda percebeu que Liana estava mais distante do que antes, se é que isso era possível. A garota continuava postando no onbook e com os dias, parou de enviar músicas para Miranda. Liana evitava almoçar com sua irmã e Madelyn, para que não encontrasse Miranda. Assim como a garota de cabelos escuros, ela também não saberia o que dizer ou como agir.

  Enquanto esses dias passavam, Miranda entrava cada vez mais em sua bolha de conforto. Ela estava afundada demais nessa zona que a impedia explorar além. Com o tempo, isso começou a tornar-se algo natural e nada assustador.

– É estranho que nós estamos juntos pela primeira vez no apartamento de Theo, não é? E não no BurntCoffee ou em alguma ponte da metrópole. – Clara começou a dizer enquanto eles estavam sentados em uma janela gigante no apartamento, servindo-se da comida que havia chegado.

– Oh, sim. – Theo respondeu após dar um gole no seu refrigerante. – Mas eu acho que prefiro assim. – Ele concluiu e as duas garotas balançaram a cabeça em sinal de afirmação.

  Após alguns minutos em que Miranda apenas observava Clara e Theo conversarem, a ruiva foi a primeira a dizer:

– Você está calada hoje, muito mais do que o normal.

– Eu sempre estou calada, Clara. – Miranda respondeu e amassou o guardanapo que havia limpado os cantos de sua boca.

– Sim, eu sei, – Clara começou a dizer e repetiu o mesmo gesto da amiga, tirando os restos e levantando-se para os levar até uma mesa próxima. Então, continuou: – Só é estranho te ver quieta, quando você tem tanto para falar.

  Miranda respirou fundo enquanto a amiga se ajeitava na janela novamente. Ela encarou a cidade — que era linda olhando daquele lugar — e após alguns segundos, começou a dizer:

– Eu vou ter um irmão. – Os amigos continuaram em silêncio, esperando com que ela continuasse, mas não se surpreenderam quando isso não aconteceu.

– Já é um passo grande você não evitar isso. E ao menos, conseguir dizê-lo em voz alta. – Clara disse enquanto acariciava a mão da amiga de leve e Miranda a deu um pequeno sorriso que não atingiu os seus olhos — já fazia alguns dias em que ela estava oferecendo esses sorrisos.

– E é bem provável que eu seja lésbica ou algo do tipo. Vocês sabem, não há muito o que falar sobre essas duas coisas. – Miranda continuou depois de um tempo.

– O que exatamente te fez chegar nessa conclusão? – Theo a olhou esperando por uma resposta. Miranda o encarou procurando algum vestígio de nojo e repulsa no seu rosto, mas percebeu que só havia curiosidade.

Eu Sempre Quis Escrever Esse LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora