17 - Parte II

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Pode conter gatilhos: diálogos sobre abuso.

– Não posso acreditar que você gastou uma fortuna nisso, apenas para urinar depois. – Miranda fez uma careta após beber o líquido da garrafa de whisky importado. – Depois que isso acontecer, puf! Acabou.

– Não comece, você sabe que vale a pena. – O garoto deu de ombros e olhou para Clara. – Clara parece gostar.

– Oh, eu costumava beber com alguns amigos. – A ruiva respondeu um pouco distraída.

– Clara e sua lista infinita de amizades alcoólatras, que tocante! – Miranda respondeu e fez uma careta enquanto Theo sorriu de lado.

– Eu nunca tive amigos, para ser sincera. – Miranda a observou assim que Clara terminou de falar.

  A garota se ajeitou um pouco no concreto da ponte e deu um gole na garrafa que os três estavam compartilhando, em seguida entregou para a amiga. Miranda a encarou com descrença e ela fez um gesto afirmativo.

– É sério! Boa parte dessas pessoas que você intitula como meus "amigos", – Deu uma pausa e fez as aspas com as mãos. – São apenas colegas. Eu não conseguiria trocar mais de duas palavras se eu estivesse sóbria, e isso serve para qualquer um deles.

– Eu nunca tinha pensado dessa maneira. – Miranda balançou a cabeça enquanto estava considerando, deu um gole na garrafa de whisky e com outra careta, passou para Theo.

– Minha madrastra fez com que eu me sentisse insuficiente para isso, na verdade. – Clara pegou-se contando distraidamente, os amigos focaram sua atenção nela imediatamente. – Ela adorava jogar na minha cara que todos iriam me magoar em algum momento. Acho que eu passei muito tempo procurando por uma amizade correta e até forçando gentileza, para ver se daria certo. – Ela sorriu para Miranda assim que terminou e Miranda retribuiu o sorriso.

– Essa é a primeira vez que você cita uma falha em sua família. Eu quase pensei que você pudesse ter nascido em uma perfeita. – Theo fez a observação e Clara encolheu os ombros. – Eu fui expulso aos quinze, caso sirva de consolo. – As duas garotas continuaram atentas esperando que ele continuasse a contar. Theo encolheu os ombros e continuou: – Minha mãe não se importou muito com isso, estava mais preocupada com o desgraçado do cara que eu chamei de pai.

– Foi por sua sexualidade? – Clara tomou coragem para perguntar depois de um breve silêncio. Theo a observou com confusão. – Ah, qual é! Você grita bissexualidade. É algo na sua vibe, eu acho. – Theo sorriu um pouco e eles olharam para Miranda, que para quem odiava whisky, estava muito concentrada na bebida.

– Não está surpresa? – Theo perguntou e Miranda balançou a cabeça em negação. – Deixa eu adivinhar, Liana?

– Ela sabia e eu não? – Clara pareceu horrorizada por um momento e o rapaz deu de ombros.

– Ela não me disse nada sobre isso. – Miranda interrompeu antes que a ruiva desse um chilique por algo minúsculo. – Mas não é uma grande coisa. Uma pessoa aqui, ensinou-me que rótulos não são importantes. – Theo sorriu para a amiga e ela retribuiu.

– Eles foram importantes para a minha família, se é que posso chamá-los assim. – Theo disse e atirou uma pedrinha na água do rio. – Mas eu não dou a mínima hoje, não ocupam um espaço de prioridade na minha vida. E nunca mais ocuparão.

Eu Sempre Quis Escrever Esse LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora