Proditorium | Kim Taehyung

X. Plumas Negras.

O castanho escuro de seus olhos instigava; escondia mistério na melanina acumulada como se afogasse todos os pensamentos e sentimentos previsíveis dentro de suas íris, feito um baú, restando apenas o olhar intenso o qual eu não conseguia decodificar.

Por um momento, a minha mente se esvaziou. Eu não conseguia decidir entre confusão e desejo.

Bom, de qualquer maneira, não deu tempo escolher. Min Yoongi me prensou contra a porta num movimento quase pélvico, como uma dança erótica desproposital que me provocou sem oscilar, concentrando agora o olhar sobre minha boca enquanto mantinha entreabertos seus lábios, salivantes.

Ofegantes, quentes. Silenciados por nossas próprias respirações pesadas, nós dois, afastados somente alguns centímetros um do outro, ficamos breves segundos ali, se encarando. Se devorando com os olhos. Ardendo numa excitação surreal que bastou mais um toque e meu corpo quis se desmanchar, o qual causou uma descarga elétrica.

Arrastando os dedos sorrateiramente, ele apertou a curvatura de minha cintura e, tal qual um verdaeiro ato artístico, encaixou minha perna em seu quadril.

Minha intimidade pulsava, completamente encharcada. Deixei um gemido escapar por entre meus lábios, junto de um suspiro, e levei a mão até a nuca alheia aproximando nossos rostos e, com lentidão, erguendo o queixo. Minha boca ficou um pouco abaixo de seu ouvido, mas já fora o suficiente para que eu provocasse um arrepio em sua tez ao rir soprado.

Retesei a mão no peito do moreno e o empurrei fraco para que nosso contato visual voltasse. Yoongi estava suando, arfante à medida em que lhe faltara fôlego.

- Qual é a sua? - questionei. Ele sorriu ladino.

- E você, uh? Qual a sua, afinal? - a rouquidão no tom de sua voz arrastada me fisgou um pouco, confesso. Quase o beijei outra vez.

- Os primeiros tem prioridade. - rascunhei um sorriso de canto, mantendo os olhos firmes nos seus. O pequeno espaço entre nós foi aumentado por mim quando o empurrei solenemente com o dedo indicador, mas não o bastante para nos desfazer dos toques. Finquei o olhar em seu peito. - Sabe, eu venho percebido os olhares. Aliás, venho percebido muita coisa.

O mirei cuidadosamente, seu olhar estava firme em mim. Ele abriu um sorriso travesso.

- Por exemplo?

- Você não parece ser daqueles que deixam escapar detalhes, Min Yoongi. Muito menos daqueles que agem por eventualidades. - tornei a encará-lo dessa vez séria. - O que quer comigo? Ou melhor, o que quer de mim?

- Sinceramente?

O outro se desvencilhou de qualquer contato sequer entre nós e pôs as mãos nos bolsos da calça moletom. Eu consegui ver claramente o volume específico marcando, podia até jurar que pulsava por debaixo do tecido tanto quanto o suor grudava alguns fios de cabelo em sua testa.

- Tem algum motivo pra não ser sincero?
Yoongi hesitou. Por meros nanosegundos, mas hesitou. Eu o tinha pego.

- Você acredita no que Jimin disse? - indagou, dessa vez tão sério que meu corpo se colocou em estado de alerta.

- Eu sei o que quer dizer. - cruzei os braços, apoiando as costas na porta.
Parte de toda aquela história ainda estava confusa. Incompleta. Faltava algo importante. Jimin havia dito a verdade, mas não toda.

Algo a mais o assombrava, dava para sentir apenas em olhá-lo. Ele escondia mais do que dizia e nisso não tinha como tirar a razão de Yoongi, porém, eu ainda não conseguia saber onde que eu me encaixava ali. Por que ele tinha ido atrás justo de mim?