I. Não incomode os mortos.

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Será que deveria eu contar-te sobre aquela história? Não sei se está pronto para isso.

Seria uma boa ideia eu nos imergir dentre os mistérios e incertezas que uma vez sequer alguém ousaria querer?
Você quer?

Arriscaria seu nome, sua vida, mesmo sua alma para buscar por entre a escuridão os segredos mais sombrios? As vontades mais absurdas. Os desejos mais profanos. É uma escolha sua. Escolha essa que deve ser feita agora.

Uma escolha da qual não poderá voltar atrás. Um destino insólito.

Eles podem sentir sua curiosidade aflorando, seu receio e hesitação crescendo a cada palavra lida; suas intuições nunca mentem.

Cuidado. Dúvidas podem te levar ao perigo, hesitar nem sempre é a melhor opção. Confiar em alguém pode te matar, mas também pode tornar-se a sua melhor arma. Sejamos honestos, até mesmo quem mais perto está de nós hoje, pode segurar um revólver apontado para nossa cabeça amanhã. Assim como o mal te observa escondido, ele também pode estar logo aí, deitado ao seu lado.

¤¤¤

O cair sonoro da chuva fina parecia quase tocar em minha pele apenas de ouvir. Podia sentir o gelar da estúpida brisa que invadia pela brecha da janela soprando levemente meus cabelos enquanto, vez ou outra, luzes oscilantes embaçavam minha visão. Não conseguia me concentrar. Nem mesmo conter a impaciência.

Os muitos resmungos que se distendiam num intercalar de agudos e graves do lado de fora, cada palavrão murmurado do lado de dentro; um burburinho de pensamentos se sintonizavam em minha mente bastava fechar os olhos.

Eu não estava muito diferente de um maluco chapado em plena madrugada de sábado que não dá a mínima para o que está acontecendo. Bom, tirando a parte de estar chapado, eu basicamente me encontrava naquele estado já fazia um tempo.
E era uma grande droga.

Num suspiro pesado, tombei a cabeça para os lados ouvindo o estalar dos ossos de meu pescoço. Levei o olhar através do vidro em fumê e observei uma última vez o de cabelos castanhos bufar soprando a franjinha que grudara em sua testa.

- Anda logo com essa porra, Yoongi! - Hoseok gritou assim que abaixou a janela. - Eu não aguento mais esperar!

Bufei.

Eu precisava urgentemente tomar um ar. Ficar naquele carro por mais meia hora me deixaria louco - literalmente.

- Então vem aqui me ajudar, caralho! Eu falei que não era pra ter pegado essa porcaria de estrada.

Estava a beira de ter um surto e socar os dois patetas que não paravam de brigar desde que aquele maldito carro quebrou no meio do nada. E, provavelmente, teria um surto mesmo se ouvisse por mais dois segundos os resmungos de Hoseok e os chutes de Yoongi do capô do Mustang acinzentado de 1978.

Colocando as mãos nos bolsos do sobretudo e mordiscando o lábio em uma mania incorrigível, abri a porta e, num bocejo desleixado e passos sem pressa, desci do carro velho e finalmente me deparei com as gotas da chuva que permanecia fraca. Um cheiro impertinente se espalhava quando Yoongi levou o cigarro até os lábios e tragou a fumaça outra vez depois de quase soprá-la na minha cara. Me segurei para não xingá-lo.

A lua se escondia entre nuvens escuras, e meu olhar perdurava na estrada de terra a cada passo que dava, distraído em coisas aleatórias como o quanto odeio aquele coturno velho e o quanto sentia preguiça em comprar um novo.

— Dá pra jogar essa coisa fora? Não quero que a gente exploda no meio do mato. — suspirei pesado.

O outro jogou o que restara do cigarro no chão e bufou, apoiando uma das mãos no capô enquanto a outra segurava uma lanterna de luz pálida.

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