XI. Coquetel Carmesim.

384 38 0
                                    

ANTERIORMENTE.

Me vi estática. Os pés hesitando, as mão tremendo sem direção, os olhos confusos sem saber onde focar, cada molécula do meu corpo reagiu feito uma barata tonta. O sangue tangenciou a ponta do meu coturno e meu pé automaticamente recuou.

Foram alguns segundos para processar o que estava vendo, embora, em minha mente, tenha parecido uma curta eternidade.

Agarrei a maçaneta sem muita destreza nos movimentos. Posso até dizer que meio que entrei em pânico. Não que eu já não tivesse visto sangue antes ou cenas um tanto quanto pesadas por conta do meu trabalho. Eu vi. E vi muito. Bem mais do que gostaria.
Mas a situação era diferente agora. Completamente distante de qualquer normalidade.

O lugar dava motivos. O hotel asqueroso, a igreja esquisita ou mesmo os encapuzados tétricos no meio do nada, sendo ilusório fugir dali com a sanidade intacta.

Sangue, ali,
Logo minhas orbes tornaram a encarar a porta que se movia em câmera lenta. Tentei dar um passo, ouvindo o barulho estalado da sola de meu coturno sobre a poça vermelha.

Corvos.

Vários deles.

Sem nenhuma janela aberta ou quebrada, sem sinais de invasão e sequer de alguém saíndo dali, somente um cômodo repleto de corvos mortos.

TAEHYUNG.

Ela... é assustadora.

A tenra voz de Jimin cortou o silêncio abrupto que Sooyeon deixara para trás.

Tirando o inconfundível canto melancólico dos grilos, que vinha de todos os lados possíveis, a ausência de som que tomou o lugar foi atroadora. Ninguém tinha dito uma palavra sequer por minutos até Jimin deixar escapar a verdade incontestável. Ele tremeu o corpo num calafrio desditoso, e, como uma corrente elétrica, eu também o fiz.

— O que vamos fazer agora? — Hoseok engoliu em seco, afoito, seu olhar preocupado oscilando entre nós três como se quisesse saber de onde viria a resposta primeiro. Eu ainda estava fora de mim, confesso.

Com certeza faltavam muitas peças para aquilo tudo fazer algum sentido. Chegava a ser um pouco cômico, me recusava a cogitar o sobrenatural.

- Preciso tomar um ar. - Yoongi murmurou, bagunçando os cabelos da nuca e dando meia volta. Observei suas costas.

- Nós estamos no meio do mato. Tem algum outro lugar que tenha mais ar que aqui? - o ruivo arqueeou uma das sobrancelhas, Yoongi virou-se novamente, continuando a andar, porém de ré.

- Claro. O vácuo no enorme cu da sua mãe.

- Às vezes eu me pergunto como foi que viramos amigos.

- Eu sou adorável. - Yoongi sorriu de jeito ironicamente fofo antes de acenar com dois dedos, feito uma continência, e sumir em meio ao escuro da noite dentre as várias árvores e segredos.

— Pior que ele é mesmo. Às vezes. - Hoseok riu abafado, o clima ainda meio fúnebre, levando os olhos até mim. — E então?

É, e então, Kim Taehyung?

— Eu... Acho que é melhor eu voltar. O hyung pode resolver ir me conferir no quarto. — suspirou. — Se decidam rápido, por favor. Não temos muito tempo, vocês são os únicos depois de tanto tempo que podem fazer alguma coisa.

Jimin olhou nos meus olhos como se implorasse por ajuda, como se chorasse com as íris.

O garoto engoliu em seco, respirou fundo e congelou inteiramente, tal qual uma estátua de gesso, antes mesmo que tivesse tempo de dar três passos. Paralisou, perdendo toda a cor da tez. E não foi o único.

Proditorium | Kim Taehyung Where stories live. Discover now