II. Ela sabe como ser uma garota má.

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Foi aí que, em meu primeiro passo, um barulho ecoou. O ranger baixinho me fez virar o rosto para trás, encarando por cima do ombro a porta entreaberta que balançou vagarosamente para trás e para frente, de jeito sutil. 

Não lembrava de a ter deixado aberta. 

Um pequeno sorriso ladino tomou meus lábios por um momento. Fiz questão de deslizar os dedos para cada parte exposta de minha pele, deixando algumas mechas de meus cabelos úmidos caírem sobre meu rosto enquanto pendia cuidadosamente a toalha em meu corpo. 

Me sentia observada de um jeito absurdamente excessivo. Como se os olhos alheios me analisassem, simplesmente me encarassem do jeito mais descarado possível. Atentos, curiosos, lascivos

Ri soprado com a ideia de alguém me espiando por detrás da porta e esbocei um sorriso irônico no canto dos lábios.
 
Sem pressa alguma, guiei cada passo meu com destreza até finalmente tocar a palma da mão na madeira envernizada da porta, deixando minha respiração soprar contra a mesma enquanto sentia o cheiro alheio, um perfume amadeirado quente e intenso mesclado ao aroma de tensão. Deixei um outro riso soprado escapar.

Quase podia ouvir o coração acelerado e a respiração trêmula soar, até que o toque de meu celular tomou minha atenção e fechei a porta sem pressa.

Deixei soar um suspiro pesado, ajeitando a toalha em meu corpo e levando o celular até a audição ao mesmo tempo em que tentava dar um jeito em meus cabelos úmidos.

— Até que fim! O que acha de atender o telefone de vez em quando? — o outro bufou— Se chama educação, é bom usar às vezes. Principalmente com o seu chefe.

Ri sem humor, endireitando as costas ao respirar fundo e procurar alguma roupa dentro da mala.

— Fala logo o que você quer.

O Sr. Park realmente escolhia os piores dias para me irritar.

— Você realmente vai fazer isso? — ele continuou, suspirando. — Tenho um trabalho pra você em Seul, o que acha de voltar? Ainda dá tempo.

— Esquece. Eu não vou voltar. Não agora. — ditei enquanto me enfiava em um moletom que acabava na altura de minhas coxas. — Preciso terminar o que comecei.

— Sooyeon, isso é perigoso demais. E se...

— Eu sei me cuidar muito bem.

— Será que você não poderia me escutar pelo menos uma vez na sua vida? É pedir muito? Aish.

— Sr. Park, se foi só pra isso que me ligou, vou desligar agora.

Dando de ombros em um suspiro longo, joguei o celular sobre a cama e voltei o olhar até a porta mais uma vez; a sombra alheia, que antes invadia o cômodo através da fresta debaixo da porta, se distanciava em passos lentos.

¤¤¤

O dia amanhecera nublado, o cheiro de chuva ainda exalando por cada mísero canto que conseguisse alcançar daquele decadente prédio. Exatamente como no dia anterior. O clima fechado e escuro combinava com precisão com a sensação estranhamente sombria que tudo naquela estrada emitia.

Assim que sai de meu quarto, o cheiro de incenso impregnou meus sentidos. Meu olhar caiu direto no garoto distraído de lábios carnudos e cabelos cor de mel. Agachado em frente a porta do 101, ele contava algo com os dedos curtos sem nem mesmo perceber minha presença ali.

Ele tinha o semblante um tanto quanto inocente, mas seu corpo não o acompanhava nisso. Dava para ver nitidamente os músculos torneados de suas coxas dilatarem devido sua posição encolhida, contracenando com os braços bem definidos que se escondiam no agasalho de lã cinza.

Proditorium | Kim Taehyung Where stories live. Discover now