XV. Abate.

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Relutei com meu interior para que não vomitasse.

Os cabelos grisalhos estavam mais uma vez à minha frente. Sorriso tartufo, terno branco bem apessoado; ele estava basicamente branco dos pés à cabeça. Seus olhos cínicos me encararam como se ansiassem por aquilo há muito tempo.

— Sooyeon-ssi. É bom vê-la aqui.

Permaneci muda. Apenas em me manter olhos nos olhos, a vontade de querer socar seu rosto encarquilhado ia do infinito e além. A ânsia irada me consumia por dentro.

— Entre. — o vulgo pastor do inferno se afastou para o lado dando espaço para que eu passasse. Esticou o braço em direção ao interior do pequeno, porém espaçoso, cômodo.

Havia um enorme tapete de linho cinza sobre porcelanato. No meio, mais afastado, uma mesa de escritório que beirava o luxo em vidro e madeira mogno bem envernizada, algumas poltronas de couro acinzentado se reuniam envolta de uma pequena mesa de centro com taças cheias de vinho, um vasinho de vidro marfim com ao menos três cravos brancos e, por fim, uma bíblia como aquela do irmão de Jimin ao lado de uma caixa prateada com um líquido que eu não saberia dizer o que é mesmo se o encarasse por meia hora.

Quadros abstratos na parede que seguiam os mesmos tons, um ar-condicionado que deixava a sala aquecida e uma janela pequena e redonda que dava para ver apenas um tanto da pouca mata lá fora completavam a decoração. Tudo milimetricamente organizado e sem um resquício sequer de poeira.

— Obrigado, Diácono Park. Nos veremos mais tarde no culto sagrado, por favor encontre os nossos outros anfitriões. — sorriu sem mostrar os dentes, fechando a porta quando o outro se reverenciou em 90°.

Andei sem pressa pelo lugar vasculhando tudo com os olhos, era vislumbrante. O total oposto do que se via fora. Era como entrar num armário e sair em Nárnia.

Eu sentia o olhar alheio fixo em mim, mesmo que não o pudesse ver. A energia daquele lugar era pesada, me causava uma sensação desconfortável a cada segundo que se passava. Um relógio grande, redondo e com as bordas prateadas mostravam a hora no alto da parede.

— Sente-se.

Sem romper meu silêncio intencional, sentei em uma das poltronas, as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Ele sentou à minha frente logo em seguida.

— Que lugar interessante. — finalmente deixei a voz soar, o eco invadindo meus ouvidos.

— É aconchegante para se morar. — afirmou, o sorriso descarado voltando a aparecer.

— O que quer de mim? — curta e direta. Meus olhos não falharam nenhuma vez ao cravar nos alheios. Eu queria arrancar cada mínima informação que pudesse, observar era um dos meios mais eficazes de as extrair usando o clássico método de intimidar.

Entretanto, ele parecia usar da mesma tática. Estávamos ali, um tentando infiltrar-se na cabeça do outro; suas orbes eram abscônditas. Riu soprado.

— Eu não quero nada. — abaixou a cabeça, as íris indo até as taças, uma ficando em sua mão e a outra sendo oferecida na sua pérfida gentileza. — O Senhor quer.

Ergui uma das sobrancelhas, não por confusão, mas por um deboche surpreso - ou nem tanto assim. Foi a minha vez de rir.

— E o que "ele" deseja? — me reclinei sobre a poltrona, cruzando uma das pernas. Seu olhar tornou ao meu, o rosto se tornando nebulosamente sério.

— Seus sentidos são bastante aguçados, pelo que venho reparando. Onde trabalhava antes de vir? — bebericando o líquido tinto após cheirá-lo.

— Prefiro me manter no assunto atual. — não fiz questão de ao menos tocar naquela taça, o fazendo recuar o braço e devolvê-la ao centro. — Acredito que seja bem mais importante do que onde trabalho ou deixo de trabalhar.

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⏰ Last updated: Dec 06, 2022 ⏰

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