XII. Insacro.

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POV Sooyeon.

Minhas pernas fizeram o caminho sozinhas, firmes. O meu corpo estava automaticamente indo em fervor para a construção decaída sem sequer precisar da minha ajuda.

Pude ouvir a grama molhada estalar logo atrás.

— Yah, Sooyeon! Ficou maluca de vez?!

— Sai fora, Taehyung.

O outro conseguiu me alcançar e puxou meu pulso para si, fazendo com que eu encarasse o seu rosto confuso e ofegante. Como já era de se esperar, os olhos intensos e escuros não me deixavam ler sua mente.

— Me solta.

— Não.

Bufei, revirando os olhos. Tentei me desvencilhar de seu toque, mas estava impossível.

— Ora, ora. — reconheci a voz de longe. Virei o rosto para trás dando de cara com o irmão de Jimin. O riso soprado que dera me subiu os nervos - mais ainda. Ele sorriu de canto, debochado, e sumiu dentre a entrada da igreja surrada.

O ódio que senti foi tão grande que me arranquei em passos pesados, quase derrubando Taehyung que tomou meu braço de volta sem aviso algum.

Como se fosse uma atração de circo, olhares silenciosos cravaram em mim. O ar daquele lugar me sufocou. Na mesma hora a sensação asquerosa de estar ali implorou para que eu saísse e me poupasse. Os burburinhos não foram tão repugnantes quanto o olhar do homem grisalho, que sorriu, sobre um pequeno palco revestido num carpete aveludado em vermelho.

Diferente do lado de fora, o salão limitado transbordava requinte. Paredes brancas igual neve, teto de gesso acartonato com luzes claras e embutidas. Era frio, na medida certa. Tocava ao fundo uma música em violino quase inaudível.

Era como encontrar um oasis no deserto.

Não tinha muitas pessoas, talvez menos de dez. Todas muito bem vestidas, senhoras empacotadas dos pés à cabeça com roupas tão modernas quanto meados dos anos 1920.

Alguns homens usavam ternos, todos pretos. Apenas um estava diferente; o terno branco o destacando no meio de todos.

Sem deixar de olhá-lo nos olhos com certo sarcasmo, sentei em um dos vários bancos  compridos e estreitos de madeira envernizada calculadamente enfileirados. Ofegante, Taehyung surgiu, o olhar apreensivo deduzindo que me xingava mentalmente. Junto dele, Hoseok e Yoongi.

— Você realmente ficou maluca. — murmurou, sentando ao meu lado. Todos nos encaravam como alienígenas.

— Agora que percebeu? — sussurrei.

— Boa noite, irmãos. — o tom
sereno e polido, com resquícios de sátira, fez todos se calarem. Ele ainda me fitava, parecia instigado. — Ao que me parece, temos visita hoje. Por favor, mostrem que são bem-vindos.

Todos bateram palmas e ressoaram um amém coletivo que arrepiou dos pés à cabeça.

— Hoje, como de costume, iremos orar antes de qualquer coisa.

Sistematicamente, tal qual computadores programados, fecharam os olhos e abaixaram as cabeças. O silêncio tomou conta, sendo apenas interrompido pela voz calma.

Tão calma que chegava a ser irritante, rangendo em meus ouvidos.

— Senhor, estamos aqui mais uma vez. Reunidos em Teu nome, para aprender e estar em comunhão. Peço que me use, como em todas as vezes, para trazer a salvação para todas essas pessoas. Peço que não as abandone e que me dê a permissão de conduzí-las até Ti, Senhor. Amém.

Proditorium | Kim Taehyung Kde žijí příběhy. Začni objevovat