XIV. Augúrio.

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Um minuto de silêncio se passou antes que qualquer um de nós abrisse a boca - ou ao menos tentasse. Nos entreolhamos, eu e Sooyeon. Só depois da total ausência de som ser represada por um suspiro apreensivo que então meu corpo desparalizou e meus pés finalmente conseguiram desgrudar do chão.

Eu nem sabia o que esperar sobre lá fora. Para ser sincero preferia não saber, mas, ali, não cabia mais essa opção.

Quando alcancei a porta já estava sem fôlego, o coração disparado e os dedos suando frio querendo deslizar sobre a maçaneta. A agarrei firme e, assim que a girei, uma mão rapidamente a parou pressionando o dorso da minha.

Confuso, me deparei com Sooyeon ao meu lado negando com a cabeça e com o dedo indicador sobre a boca.

— Não abre. — sibilou, apenas os lábios vermelhos se movendo.

— Você ouviu o mesmo que eu ouvi?!
Soo me arrastou com pressa quando minhas palavras soaram naturalmente altas, algo bem condizente. Eu, com toda certeza, não estava entendendo nadam, o estampido ainda ecoava em minha cabeça. Ela parecia apreensiva e nervosa. Acho que, na verdade, ansiosa seria a palavra exata para substituir o nervosa. 

— Fala baixo. — sussurrou assim que paramos em frente à janela.

Sooyeon puxou uma calça jeans escura que estava pendurada sobre uma poltrona e a vestiu com rapidez, logo se desfazendo do vestido preto e curto de antes. Ela enfiou a cabeça na primeira camisa que viu, uma blusa com estampa de uma banda indie que nunca ouvi falar. 

Com agilidade, a morena começou a tentar abrir as portinholas, ferrolho por ferrolho, a madeira velha se desfazendo em forma de poeira conforme ela mexia.

— O que você tá fazendo?

— A gente precisa sair daqui agora.

— O quê? — apontei para a porta com o braço esticado, deixando o semblante indignado tomar meu rosto. — Acabamos de ouvir um grito e um tiro?!

Ela se virou com pressa e se aproximou quase colando nossos corpos, e, com força e um olhar feroz, ergueu o indicador sobre minha boca. Me assustei um pouco - muito - , dando um sobressalto com o ato inesperado, mas me calei. Fui calado, para ser mais preciso.

— Cala. A. Boca. — murmurou entrecortado, o maxilar tensionado os dentes de cima sobre os de baixo com firmeza. — É uma gravação.

Quis dizer um "o quê?" bem alterado, o que na realidade crual saiu apenas como beicinhos e murmúrios ilegíveis enquanto meus lábios eram amassados. Uni as sobrancelhas e engoli em seco no segundo seguinte em que a garota se desfez da proximidade súbita.

— Era uma gravação de celular, bem tosca inclusive. — ela voltou a se concentrar na janela. — Chiados, oscilações no som, um corte fajuto juntando uma coisa na outra. Sou jornalista e conheço o som de um gravador quando escuto um. Brinde por todas as vezes que usei em entrevistas involuntárias.

Olhei para trás sobre os ombros, encarando a porta fechada. Aquilo deu um belo de um curto-circuito no meu cérebro.

— Vai me ajudar ou não?

Voltei os olhos para a frente e fui até à vidraça. Depois de tirar as portinholas, era a vez de abrir o vidro que, por pura sorte, estava emperrado. Fiz força, impulsionando para cima por alguns segundos até perceber que ela abria para o lado. Ainda assim, tive que lutar um tempinho para conseguir finalmente sentir o vento gelado bater na pele do meu rosto como várias pequenas lâminas.

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