Capítulo 6

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Ela estava deitada no chão em posição fetal, com os olhos voltados para longe. O quarto estava iluminado como nunca estivera. O piso era frio, mas as lágrimas que caíam de seus olhos eram quentes como o fogo crepitando na lareira. Era estranho haver uma fonte de calor presente no cômodo, mas que não aquecia o resto.

O som dos empregados trabalhando arduamente no andar abaixo de seu quarto latejava na cabeça dela. O ar parecia ser sugado para dentro da lareira. A pele fria dera lugar a fervura. Ela sentia como se chamas vivas estivessem percorrendo cada pedaço de si.

Estava sufocada. Não conseguia respirar, pois o ar se fora. Ela estava enclausurada em uma bolha, onde havia seu corpo no meio rodeado de chamas. Mas chamas sem oxigênio?

Gritava ordens para sua magia levar os metais até si, como se pudessem trazer de volta o ar e apagar as chamas. As adagas tentavam ultrapassar a bolha em que ela estava presa, mas não restava fôlego.

Me tire daqui. Me tire daqui. Me salve. Eu preciso respirar. Eu preciso de ar. Apague esse fogo. Estou queimando.

Ela fechou os olhos de cores diferentes e, por fim, seu corpo queimou. Queimou até não restar nenhuma ínfima parte dela restante.

Aalya acordou com o som de alguém batendo na sua porta. Ela estava suada e com o coração batendo rapidamente, resultado do sonho que tivera. Não sonho. Pesadelo.

Ela pôs os pés descalços fora da cama, sentindo o chão frio. A frieza como a do pesadelo. Ela deu um longo suspiro, puxando o máximo de ar que pôde.

Estou bem, foi apenas um pesadelo. Eu consigo respirar. Não estou queimando.

Vestiu seu robe de seda e foi até a porta. Sentiu o cheiro do macho do lado de fora. Azriel.

Aalya pigarreou, de mau humor com a visita da manhã. Abriu a porta e encontrou o macho alado com seu couro, as asas abaixadas e um semblante entediante.

⎯ Você parece cansada ⎯ ele anunciou, encostando o corpo no batente da porta.

⎯ O que você está fazendo aqui? ⎯ a Grã-Feérica perguntou, ignorando a conclusão óbvia de Azriel.

⎯ Seu Grão-Senhor pediu para eu vir te buscar aqui. Temos missões.

⎯ Eu poderia ter ido até você ⎯ ela se virou, gesticulando para o macho entrar. ⎯ Vou me arrumar.

Aalya foi em direção ao quarto. Vestiu uma calça de couro e uma blusa de mangas curtas, que deixava suas pequenas tatuagens nos braços à mostra. Calçou um par de botas confortáveis e prendeu o cabelo. Lavou o rosto e observou as olheiras preenchendo a parte debaixo de seus olhos. As maçãs do rosto estavam mais murchas e ela parecia ter perdido peso, pois não se alimentava tão bem como antes dos assassinatos.

Ela secou o rosto molhado e encontrou Azriel com os braços apoiados na janela, admirando a vista lá fora. Ao ouvir os passos da fêmea, ele se virou e disse:

⎯ Conversei com os espiões da sua Corte e compartilhei as informações que tivemos. Hoje iremos à Sob a Montanha. Há um movimento suspeito por lá e será favorável para nossa investigação.

⎯ Está bem. ⎯ Aalya abriu a porta do apartamento, deixando espaço para Azriel sair. Chegaram ao lado de fora do prédio e o macho os levantou no céu, com as asas negras abertas em uma visão esplêndida.

As sombras de Azriel chicoteavam no pescoço de Aalya, que ignorava e encarava o céu. O macho encostado a si não desviava o olhar da frente, mas ele mantinha o maxilar travado, como se não gostasse de tanto contato com a pele de outro.

Espada de Sombras - AzrielOnde as histórias ganham vida. Descobre agora