Capítulo um

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"Não somos quem costumávamos ser
Somos apenas dois fantasmas no lugar de você e eu
Tentando nos lembrar de como é sentir o coração bater"

O vazio ao meu lado me diz que Harry se levantou mais cedo que o de costume.

Me viro para seu lado da cama e observo o travesseiro amassado e o lençol bagunçado.

Já faz algumas semanas que eu acordo e não o vejo aqui.

Sinto um vazio no estômago, mas não é fome. Talvez seja solidão.

Fecho meus olhos e pressiono minhas pálpebras, engolindo em seco. Não quero chorar, me recuso a iniciar meu domingo dessa forma.

Droga, é domingo.

O dia mais tedioso da semana, mas não para mim.

Bom, pelo menos não era até um tempo atrás.

Harry e eu costumávamos acordar cedo em quase todos os domingos. Apesar de ser um dia para descansar e não fazer absolutamente nada antes do meio dia, precisávamos nos organizar e preparar algum prato para o típico almoço em família na casa dos Styles.

Normalmente eu fazia minha famosa maionese, que minha sogra amava e Harry ficava responsável por alguma sobremesa.

Quase todas as vezes, ele deixava tudo para última hora e acabava passando em algum mercado para comprar alguma coisa pronta.

— Amor, você sabe que não é justo. A ideia do almoço é cada um fazer seu prato – eu dizia em tom de reprovação, mas de forma descontraída.

— Meu bem, não se preocupe, minha mãe não se importa. – ele respondeu, me entregando a embalagem do supermercado, se ajeitando no banco do motorista em seguida, colocando o cinto de segurança.

— Mas eu me importo. – dou de ombros e faço biquinho.

E então, iniciava uma discussão desnecessária. Era divertido, levávamos na brincadeira, ele adorava me provocar e eu amava fazer drama, porque, no final de tudo, eu sabia que aquilo terminava com a mão de Harry em minha nuca, me puxando para um beijo molhado.

Sorrio triste me lembrando de quando tínhamos motivos para nos beijarmos e até de quando não tínhamos, mas, ainda assim, era pego de supresa com selinhos molhados e pequenas mordidas no pescoço.

Apesar de toda raiva e mágoa que ele me fazia sentir nas últimas semanas, eu sentia falta de seus lábios tocando os meus.

Me levantei da cama e segui em direção ao banheiro. O box estava molhado, sinalizando que o chuveiro havia sido usado há algum tempo. Escovei meus dentes e lavei o rosto, que carregava marcas de expressão e olheiras fundas. Meu cabelo estava grande e minha barba por fazer, mas não tinha ânimo para cuidar disso agora.

Sigo pelo corredor, olhando os outros cômodos, buscando algum sinal de vida de um homem alto e cabelos castanhos.

Está tudo tão silencioso, mas isso não me assusta. Acho que me acostumei com dois fantasmas perambulando por cada canto dessa casa, coexistindo, tentando se lembrar porque dois corações batem mesmo estando tão machucados.

Ao chegar na cozinha, me deparo com uma bagunça em cima da pia e do balcão. Cascas de frutas, embalagens de produtos industrializados, panelas, vasilhas e assadeiras jogadas de qualquer jeito, até o açúcar estava fora do lugar.

Agora ele decide cozinhar.

Bufo de raiva. Harry sabe o quanto essa bagunça me irrita, tenho certeza absoluta que ele faz de propósito.

Sincerely yours | l.s Where stories live. Discover now