Capítulo quatorze

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But nothin' is better sometimes
Once we've both said our goodbyes
Let's just let it go
Let me let you go

(Zayn)

Eu sempre vi o mundo de forma rápida e colorida, realçada, como se eu pudesse sentir o peso da atmosfera sob meus ombros, mas não de um jeito ruim... de um jeito vivo, que me fizesse sentir vivo.

Quando mais novo eu sempre fui um cara agitado, que andava rápido demais, conversava rápido demais, comia rápido demais. Niall dizia que eu vivia ligado em duzentos e vinte voltz. Como se eu nunca pudesse ser desligado ou algo do tipo.

Liam dizia que esse meu jeito era único e o que me fazia especial, porque eu vivia intensamente, cheio de energia, sempre em busca de novas experiências, novas descobertas, sabores, eu só queria... me sentir vivo.

Quando meus pais morreram, eu senti o mundo desacelerar. A minha respiração se tornou tão pesada que eu precisava de tempo para executa-la. De repente, não era mais um movimento automático do cérebro causado pela glândula epitelial. Porra, eu nem sei como sei dessas coisas.

De qualquer forma, eu sabia. Mas era inútil. Era inútil porque eu não podia ligar pra minha mãe no final de semana e dizer que "ei mãe, sabe por que a senhora consegue respirar mesmo dormindo?". Eu não podia porque ela já não respirava mais. Muito menos meu pai.

Quando eles se foram, além de presenciar tudo em câmera lenta, o peso da vida que antes eu sentia como uma forma de voar pelos dias, se tornou incômodo. Era realmente pesado e não dá forma positiva que eu estava acostumado.

Eu achava que minha vida nunca voltaria ao normal. Desde o acidente eu imaginava que eu seria o próximo da lista e... bem, esse dia nunca chegou, então eu fui me acostumando com a dor, mostrei pra ela que ela até podia existir dentro de mim, mas eu controlava o nível da sua dominação sobre o meu corpo e minha mente. Levei meses de meditação e terapia para chegar nesse acordo com a minha dor. Ela aceitou de bom grado, porque ela ainda vive aqui, mas cada vez mais adormecida.

Hoje eu sou um cara muito mais lento, converso devagar, observo as coisas com mais calma, tenho a sensação de que agora eu dou valor para pequenas coisas do dia a dia. Eu sempre odiei esse tipo de discurso porque, cacete, pra mim não passa de frases feitas em redes sociais pra ganhar atenção e até dinheiro de quem tá sofrendo por algo. É como um slogan barato que foi criado em mesa de bar regado a álcool e petiscos porque a turma da agência queria comemorar o aniversário de alguém.

Muito específico, Zayn.

De qualquer forma, a dor ainda está aqui. Ela é minha companheira diária. Às vezes eu deixo ela assim, adormecida, mas é sempre bom acorda-la, deixar ela te dominar, as vezes é bom você chorar, espernear e se sentir sufocado, porque só assim você pode tomar o controle novamente e mostrar pra ela quem é que manda. É você quem domina a dor, não é ela que te domina.

Sempre que eu falo sobre isso, Louis tira sarro de mim dizendo que me tornei um coach sabichão, mas ele sabe que foi assim que eu consegui ter certeza de que eu estava no caminho certo. E eu só cheguei no caminho certo porque Louis estava lá. Porque Harry estava lá. Porque Niall, com todo seu esplendor estava lá. E também porque Liam estava lá.

Liam estava comigo quando eu atingi o fundo do poço. Estava comigo quando minha pior versão surgiu e ele não saiu do meu lado, em nenhum momento. Ele segurou minha mão durante todo o caminho que percorremos até a cidade de meus pais, ele me medicou, me alimentou e, quando eu estava há três dias deitado em minha cama, sem derramar nenhuma lágrima desde o acidente e sem me levantar ao menos para tomar banho, ele pediu licença, me pegou no colo, me levou até o banheiro e me limpou. Eu não conseguia me manter de pé e ele sabia disso, então colocou uma cadeira debaixo do chuveiro e não se importou em molhar suas roupas.

Sincerely yours | l.s Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt