Capítulo quatro

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"Se eu digo pare
Você não repare
No que possa parecer
Se eu digo siga
O que quer que eu diga
Você não vai entender
Mas se eu digo venha
Você traz a lenha
Pro meu fogo acender"

Assim que chegamos, guardamos as compras em seus respectivos lugares, enchendo os armários que ficavam sob a pia e em alguns lugares estratégicos do cômodo.

Enquanto deixava a cozinha, Harry tirou a camisa social de dentro da calça, levantou as mangas até a altura do cotovelo e seguiu até a suíte para tomar banho. Depois de tomar um copo de água, fui para a sala, sintonizando em algum canal aleatório de esportes, que não prestei muita atenção. Estava pensando em como era injusto Harry ser transferido só porque era bom demais no que fazia.

Mudei novamente o canal da TV e coloquei em algum jogo de futebol aleatório. Eu estava deitado no sofá, as costas encostadas e minhas pernas frente à televisão. Após alguns minutos, Harry se aproximou, sentando no meio, um pouco distante, mas perto o suficiente para que eu sentisse o perfume de sua loção pós barba. Olhei para ele, estava com uma samba-canção azul marinho com pequenas âncoras branquinhas, os cabelos estavam molhados e, apesar da tentativa de pentea-los, ainda estavam bagunçados, talvez porque Harry usara os dedos para arrumar. A pele do rosto estava lisinha, realçando o tom rosado de seus lábios, seu corpo era bem definido, ele gostava de fazer exercícios, principalmente por causa do condicionamento físico exigido pelo seu trabalho.

Ele digitava alguma coisa no telefone, o rosto franzido, concentrado. Suspirou fundo, bloqueou a tela e se esticou para deixar o aparelho em cima da mesinha de centro. Suas costas estavam bronzeadas, com marcas de camiseta, alguns centímetros de pele mais pálidos que os outros.

Quando ele se recostou no sofá, olhou para mim e sorriu sem graça.

— O que foi? — ele apoiou as mãos em suas coxas, suas pernas estavam cruzadas, uma em cima da outra.

— Nada. — balancei a cabeça, escondendo um sorriso discreto e voltei minha atenção para a TV.

— Fala logo, eu conheço essa risadinha, sei que tem alguma coisa aí.

— Só estava te olhando, ué.

— Gostou do que viu? — ele arqueou as sobrancelhas, o sorriso travesso nos lábios.

Olhei para ele e revirei os olhos, segurando uma risada.

— Você sabe que sim. — sussurrei, mas não tive certeza se ele ouviu.

Enquanto assistia o juiz marcar uma falta, vi pelos cantos dos olhos que Harry se aproximou mais, invadindo meu espaço no sofá, pegando uma almofada, colocando em meu colo, se deitando em seguida.

Seu rosto estava virado para a TV e pude observar mais de perto a sombra de seus cílios que realçavam seu olhar. Haviam algumas bolinhas vermelhas em suas bochechas e maxilar, provavelmente alguma irritação da pele pelo contato da lâmina de barbear.

Apoiei meu cotovelo direito no braço do sofá, a cabeça deitada em minha própria mão, o jogo começou a ficar interessante, era incrível como um time poderia ser tão ruim e o outro pior ainda.

Vez ou outra, abaixava meu olhar para meu marido e via suas pálpebras se mexendo conforme seus lindos olhos verdes acompanhavam os movimentos da bola.

Meu outro braço estava apoiado no sofá, faltando poucos centímetros para encostar no ombro esquerdo dele. A palma da minha mão estava em contato com o tecido fofinho do estofado, começando a suar pelo calor. Estava em uma posição desconfortável, mas mais desconfortável ainda era não conseguir tocar em Harry. Não queria me mexer para não parecer que ele estava me incomodando. Minhas pernas, que estavam esticadas, começaram a formigar pela posição e pelo peso apoiado, mas fiquei quietinho, poderia viver daquela forma para sempre, desde que Harry fosse o homem deitado em meu colo.

Sincerely yours | l.s Where stories live. Discover now