Capítulo 7 - Confiança

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Camila

Havia um clarão a frente que machucava meus olhos, pisquei algumas vezes tentando acostumar minha visão à claridade. Tentei me mover, mas logo senti uma pontada de dor no abdômen, me imobilizando novamente. Passei a mão por minha barriga e notei que estava enfaixada. Olhei ao redor buscando reconhecer onde eu estava, parecia ser um quarto de hospital.

Ainda com dificuldade, consegui focalizar Mateus sentado, imerso em sono profundo, suspirando audivelmente. Do outro lado da sala, estava Lauren esparramada numa cadeira, encarando o chão. Suas mãos e suas vestes estavam sujas de sangue. Como se percebesse que eu a observava, ela subiu seu olhar para o meu e pude ver que seus olhos estavam vermelhos, os cabelos bagunçados, parecia extremamente cansada.

Assim que notou que eu a analisava, saltou da cadeira e veio até mim:

— Ei... vou chamar o médico — Ela sussurrou como se não quisesse me assustar, mas segurei sua mão, mostrando que estava tudo bem. Ela olhou para o gesto, acariciando minha mão em resposta, sorriu com os lábios e se retirou.

Minutos depois retornou à sala acompanhada do médico, um senhor de meia idade, que portava um prontuário em mãos.

— BOM dia, Camilinha! — Ele exclamou animado, fazendo Mateus dar um salto no canto da sala, acordando assustado. O médico o olhou com desdém e voltou seu rosto para mim — Como está se sentindo?

— Bem, eu acho. Apenas um pouco de dor.

— Você foi muito sortuda! A bala atravessou sem alcançar nenhum órgão, mas perdeu muito sangue. Ainda bem que chegou aqui rápido. Sua amiga passou a noite em claro esperando seu despertar. — Ele disse sorrindo e passando seus olhos para Mateus novamente. — Ficará aqui por mais dois dias em observação, e se tudo estiver em ordem, terá alta.

Assenti com a cabeça, ele fez algumas anotações no meu prontuário, cumprimentou apenas Lauren e então se retirou, deixando um silêncio constrangedor no quarto. Captei um clima hostil entre Lauren e Mateus. Ele a encarava com o rosto franzino, expressando nojo e ela ignorava completamente sua existência, continuando a me olhar com as sobrancelhas juntas, parecia preocupada.

O ocorrido da noite anterior passava por minha cabeça. O momentos em que um vulto encapuzado entrou na sala e acertou Lauren com o pé de cabra, quando ela caiu, sua arma disparou o tiro que me acertou.

Mateus se aproximou da cama e segurou minhas mãos:

— Meu amor, que bom que te encontrei! Se eu não chegasse a tempo, não sei o que poderia ter acontecido!

— Sim — Correspondi o aperto de suas mãos contra as minhas, mas um pensamento perpassou por minha mente — Como soube que eu estava lá? — Indaguei curiosa, pois não havia contado para ele que estaria no trabalho às 2h da manhã.

Lauren se mexeu inquieta e o encarou também, com a expressão marcada. Estava confusa assim como eu.

— Eu fui te procurar, meu amor! Não queria ficar brigado com você. Pensei que poderia ter ido esfriar a cabeça no trabalho. — Ele se justificou, apertando mais forte minhas mãos, e continuou a falar, agora dirigindo-se a Lauren:

— Você já pode ir, Jauregui. Eu assumo daqui, já estou desperto.

"Jauregui"? Eles se conheciam?

— Claro que está, depois de dormir à noite toda, eu também estaria! — Ela rebateu em tom amargo. Apesar de estar uma completa bagunça, seu tom imponente foi sexy, mostrando a mulher de poder que era.

Mateus se endireitou, ajeitando seu sweater, a fitando com desprezo antes de continuar:

— Se retire daqui Jauregui! Eu e minha namorada gostaríamos de privacidade!

Colecionando CoraçõesWhere stories live. Discover now