capi. 40

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aí dor esse capítulo tá meio hmmm mas tudo bem gente

bjs e boa leitura



Rafaela

Acendo mais um cigarro, talvez eu tenha perdido a conta de quantos já acendi, mas não me importo.

Quando voltamos do cemitério, decidimos terminar de pintar a parede, arrumamos a sala e assistimos um filme, mas nada tirou o pensamento que eu estava lidando com algo frágil demais, nada me tirou a sensação de estar tomando uma decisão irracional, e isso causou um pouco da minha distância em relação a Maria Isabel.

Não quero conversar com ela sobre isso, porque teríamos a mesma conversa, tudo daria errado, então decidi ficar no meu canto e esperar isso passar.
Ela estava muito cansada, então foi apenas um carinho em seu cabelo para ela adormecer em meus braços, se sentindo segura para descansar.

Quero saber como minha segurança mudou tão rápido.

Já não fumava há alguns dias, o que foi uma surpresa, mas acabei me rendendo.
Estou aqui há algumas horas, já deve estar amanhecendo e eu não consigo dormir.
Bebi uma garrafa inteira de whisky, e eu estou na metade da outra e ,quem sabe, indo para o meu segundo maço de cigarro.

Eu estava bem, tudo estava bem, mas veio a tona o meu passado, trazendo algumas dores. Óbvio que gostei em saber mais sobre meu pai, mas me atingiu de uma forma forte, fazendo com que eu voltasse a minha infância, uma parte na qual eu preferia esquecer, mas infelizmente não posso simplesmente apagar todas as memórias que me atormentam antes de dormir.
Lembrar do meu passado, é lembrar da Angelina, e lembrar dela é como beber mas uma garrafa de veneno. Ela sempre me lembra o quão inútil ou insuficiente eu sou, e é a única que consegue me atingir.

Teve uma época, quando eu tinha por volta dos meus 6/7 anos, eu ainda tentava agradar ela, eu ainda a via como minha mãe e a mulher que deveria me amar independente de tudo, mas ela sempre foi a mesma merda de pessoa. Eu aliviava tudo, e ela continuava na resistência de uma guerra idiota. Nunca entendi o porquê dela me odiar tanto, o porquê dela simplesmente não me olhar com amor nos olhos, porque não fazia minha comida favorita, porque não penteava meus cabelos, porque não me abraçava quando eu estava com medo, porque não sentava ao meu lado quando eu estava doente, porque ela sempre foi distante e fria, eu nunca entendi o porquê de não ser digna de receber o amor dela, e isso foi me matando ao passar dos dias ao lado dela. Aos poucos, eu fui me fechando, me afastando e então todo amor que eu sentia por ela, eu transformei em ódio, e descobri que isso ero o único sentimento que a atingia, e talvez use isso até hoje.
Anos e anos, eu fui taxada como filha da puta, mas não nego minha fama, eu realmente sou uma. Nunca liguei para o bem estar das pessoas, nunca liguei para o que minhas ações afetavam na vida das pessoas que me tinham por perto, eu sempre fui egoísta a ponto de achar que o mundo gira ao meu redor, até conhecer ela.

Maria Isabel, a garota que está mexendo com tudo que estava no lugar, a mesma que está conseguindo fazer o que todos tentaram por anos, mas suspeito que isso não tem jeito.

Não adianta o quanto ela tente, o quanto me garanta, no fim, eu sempre irei duvidar da minha capacidade de ser uma pessoa boa, uma pessoa que não machuca com palavras ou atitudes de merda.
No fim, eu acabo no mesmo buraco escuro e fundo.

Viro a outra garrafa na minha boca, sentindo tudo queimar e a cabeça doer. A porta da varanda se abre, fazendo com que o meu coração acelere, mais do que ja estava.

Por diversas vidasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora