vinte

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𝕸𝖆𝖉𝖗𝖎𝖉, 𝕰𝖘𝖕𝖆𝖓𝖍𝖆
quatro dias depois

ANNA

— Tá roubando. — Digo, vendo meu pai dar uma risada.

Estávamos no hospital de novo, dessa vez ele estava no oxigênio. Resolvi ficar com ele, então jogávamos cartas esperando Zaya chegar para que eu possa voltar para casa. Mas não me importaria de ficar ali.

— O que foi pai? — Pergunto, ao ver ele fazer careta.

— Nada anjinho, uma dor leve. — Respondeu.

O que ele chamava de leve, as vezes o fazia desmaiar e era por isso que já estávamos no hospital. O médico disse que ele já estava na última, aquilo quebrou o meu coração em milhares de pedaços.

— Tá com fome?

— Não, só quero um pouco de água. — Falou.

Peguei o copo e retirei a máscara de oxigenação de seu rosto, posicionando o canudo em sua boca, vendo ele sugar um pouco. Estava difícil até para ele beber água. 

— Descansa agora. — Digo, colocando o copo sobre a cabeceira.

Guardei as cartas e levantei da borda da cama. Deixei um beijo em sua testa e me sentei no sofá. Ele pegou no sono logo em seguida, me fazendo relaxar.

Dona Izabel, havia me perguntado sobre como seria o cortejo quando meu pai partisse. Confesso que eu ainda não acreditava, que ele estava mesmo indo embora.

Meu pai sempre foi o meu herói, desde pequena ele me protegia de absolutamente tudo. Quando fui crescendo isso foi mudando, ele foi me ensinado a lidar com todas as situações, por mais que eu corresse para ele, no final.

Quando descobri a gravidez, ele apenas disse: "Olha só Izabel, agora eu vou ter um netinho".

E foi um dos dias mais felizes da minha vida. Ver ele pegar Zyan no colo e falar que ele era a sua cara, fez meu coração palpitar.

Um dos aparelhos começou a apitar e vi meu pai puxar pelo ar.

— Aí meu Deus, pai. — Digo levantando, e apertando o botão de emergência.

[•••]

Olhava para o meu pai, do lado de fora da UTI. Ele estava ligado a um monte de aparelhos.

Funguei e enxuguei meu rosto, quando mais lágrimas começaram a descer. Zaya estava ao meu lado, mas não tinha expressão alguma.

Mamãe por sua vez, chorava de forma silenciosa. Um silêncio barulhento.

— Se importa se eu for para casa? — Pergunto, a minha mãe.

— Não querida, vão as duas. — Respondeu. — Já estão a quase três horas aqui. Voltem em casa e comam algumas coisa.

— Cadê o Zy? — Pergunto.

— Com o Kylian e o Neymar. — Zaya quem responde.

Fiquei confusa no mesmo instante que ela mencionou o nome do Neymar.

— O que o Neymar está fazendo em Madrid? — Questiono.

— Eu chamei. — Minha irmã responde. — Sei que quando o papai se for, você vai se fechar e não vai querer falar com ninguém. E Neymar é bom em falar com você.

— Quando ele quer né. — Digo, já sentindo o meu tom de voz bravo.

— Anna, sem essa agora por favor. — Disse. — Você vai precisar dele, assim como eu preciso do Kylian. E a mamãe da gente. — Explicou e virou o rosto para mim. — Depois vocês brigam, ok?

— Ok! — Exclamo e engulo em seco.

*

Sentei na janela, observando a vista. Ignorei o fato da xícara de chá está quente, envolvendo minha mão ao seu redor, sentindo ela aquecer.

Uma musiquinha calma tocava no fundo, enquanto Kylian contava como havia sido o jogo. Mantive minha atenção nas poucas nuvens que ainda haviam no céu de Madrid, a aquela hora da tarde.

Mamãe pediu para que não voltássemos aí hospital hoje, alegando que papai ficaria bem. Eu não confiei nenhum pouco no tom de voz dela, mas obedeci.

— Posso sentar com você? — A voz de Neymar, me fez ter um breve arrepio.

— Só tem espaço para um. — Digo, e viro meu rosto a ele.

— Eu sento atrás. — Disse.

Mordi o lábio e analisei sua expressão, de nervosismo.

— Ok. — Respondo baixo, e me afasto para frente.

Voltei a olhar a vista e ele se sentou atrás de mim, fazendo com eu deitasse entre suas pernas. Passou os braços ao meu redor, me prendendo ali.

Deixou um beijo leve na minha cabeça e, brincou com uma mecha do meu cabelo. O silêncio dele me assustava um pouco, para alguém tão comunicativo, pelo menos comigo.

— Porque veio?

— Porque pensei no que disse. — Responde. — E não quero me afastar de você.

— E se eu não quiser você perto, e se eu quem quiser me afastar? — Questiono, mesmo sabendo que eu iria me contradizer.

— Disse ela, que está envolvida no meu abraço. — Brincou e rolei os olhos.

— Você quem se ofereceu. — Falo. — Então cala a boca.

— Pode deixar. — Sussurrou, voltando a brincar com meu cabelo.

Senti uma calmaria indescritível, como se ele fosse a minha fonte de calmaria. Aquilo era esquisito. Nos conhecíamos a um mês e meio, e pareciam anos.

— Oh mãe? — Zyan me cutucou.

— Oi meu bem, o que houve? — Pergunto.

— Posso sentar aí com vocês? — Disse manhoso.

— Claro amigão, vem cá. — Neymar responde.

Zyan se aproximou e Neymar o colocou ao meu lado, que me abraçou. Ficou um pouco apertado porém, aconchegante.

— Agora sim, você está presa aqui. — O jogador disse e ignorei.

**

PHOTOGRAPHY | NEYMAR JRWhere stories live. Discover now